O amor persiste, além das grades em Franco da Rocha

O último sábado (29/08) foi saudado com um sol bonito e quente, um céu azul, azul…um belo dia para celebrar a vida, a liberdade e de fato eu a celebrei.

No mesmo dia, às 7h30 estou à caminho de Franco da Rocha, mais especificamente ao presídio Nilton Silva, o P2. Acompanho a Pastoral Carcerária Padre Macedo, que tem uma missão especial. Orientar os presos que estão buscando o matrimônio.

Karla Maria | Os 13 casais na Penitenciária Nilton Silva, Franco da Rocha
Karla Maria | Os 13 casais na Penitenciária Nilton Silva, Franco da Rocha

Para a realização do casamento, a pastoral conta com o apoio do diretor da Penitenciária, senhor Adevaldo Pereira de Souza e todos os funcionários, que vêm a iniciativa da Pastoral como um incentivo à ressocialização do preso. “Com a possibilidade do casamento, eles passam a se cuidar, o comportamento melhora muito e eles ficam mais tranqüilos, porque sabem que alguém os espera lá fora”, afirmou um dos coordenadores de disciplina, João Braga.

Às 9h da manhã o portão do P2 já abrigava as noivas, 13 mulheres ansiosas aguardavam o momento de reencontrar seus noivos. Juntos acompanharam a palestra assessorada pelo casal Nery e Nadir Oliveira, casados há mais de 30 anos, membro da Pastoral Familiar da Arquidiocese de São Paulo. Durante a palestra Nery falou da importância do perdão na convivência e na construção de um lar.

Às 12h a palestra foi encerrada e foi servido um lanche, com pão quentinho feito na padaria do presídio. Neste intervalo as histórias de amor surgiram.  Elisangela da Silva Santos tem 27 anos e Reinaldo Machado Bueno, 26. Se conheceram no centro da cidade de São Paulo há nove anos, enquanto Reinaldo morava na antiga FEBEM – Fundação Estadual do Bem Estar do Menor. Hoje o casal tem quatro filhos Gabriel, Daniel, Samuel e Mayara e contam com a ajuda da Pastoral Carcerária para oficializar a união.

foto: Karla Maria | Reinaldo e Elisângela
foto: Karla Maria | Reinaldo e Elisângela

Reinaldo afirma que quer casar para provar seu amor e começar uma nova vida com Elisangela. Quando questionado porque estava preso ele respondeu de cabeça baixa: “a situação estava extrema e pra poder ajudar em casa eu roubei, mas agora eu to pagando, Graças a Deus”, afirmou o reeducando que está preso há dois anos e cinco meses e se diz esquecido pelo estado. “Se não é a pastoral carcerária vim aí, a gente fica esquecido, como um leão dentro da jaula e é muito desumano”, afirma Reinaldo, que tem ainda 2 anos e meio pela frente de pena a cumprir.

Após o intervalo, uma pausa para dúvidas sobre a cerimônia que ainda não tem data marcada. Para o Casamento Coletivo no Presídio Nilton da Silva, estão cadastrados 79 casais, que serão acompanhados pela pastoral.

A Pastoral Carcerária Padre Macedo, criada em 12 de julho de 2008 faz visitas quinzenais aos presídios de Franco da Rocha e prioriza quatro linhas de trabalho: a evangelização, o diálogo com a sociedade, a promoção da cidadania e a Justiça, buscando a recuperação e o exercício de valores morais, pessoais, coletivos e sociais.

O trabalho da pastoral busca resgatar a dignidade daqueles que por vezes, de fato estão esquecidos por familiares, amigos e pelo Estado. O trabalho não é defender o preso, é  acolher, ouvir, respeitar e lutar para que estes homens/mulheres, que estão pagando seus erros, tenham uma segunda chance perante à sociedade. Sem dignidade e respeito, ninguém consegue se levantar e recomeçar.

Eu recomecei, de novo e mais uma vez. Faço questão da redundância. O portão do Nilton Silva se fechou, ouvi a tranca. Respirei fundo. Eram 13h30, o sol não ofuscou meus olhos, ele me saudou com o calor da vida, da liberdade.

11 comentários em “O amor persiste, além das grades em Franco da Rocha

  1. OI adorei a sua forma de descreve oque agente ta vivendo no momento
    foi bem legal mesmo, adorei aquele encomtro
    é um sonho pra gente mais au mesmo tempo rola um precomceito
    de pessoas que achan que isso é loucura
    mais bola pra frente o impotante é que vou realiza meu sonho
    beijos e espero minhas fotos
    ass:CARLA esposa do paulo henrique

    Curtir

  2. Adorei sua matéria sobre a P2 de Franco da Rocha. O sofrimento lá é grande, só sabe quem passou por lá, ainda mais quem não tem ninguém ao seu lado para acompanhar e compartilhar os seus sonhos de vida. A sociedade julga e fala que não tem retorno, mas não dá uma chance para nós, reeducandos monstrarmos ao contrario. Eu sei disso porque passei por lé, em meados de 2007e hoje graças a Deus estou deste lado, tentando me reintegrar na sociedade, mas como sempre no aguardo de uma oportunidade, estou na batalha e nãoo vou desanimar. Agradeço por matérias sobre nós,reenducandos.

    Curtir

    1. Olá Paulo

      Sou eu quem agradece, pelo seu testemunho.
      É obrigação do jornalista mostrar à sociedade, que dentro das Penitenciárias, há homens e mulheres que estão aguardando julgamento ou cumprindo pena, que por detrás daquelas grades há esperança, verdade e amor. Que os encarcerados, não são bichos, são homens e mulheres, pais, mães e filhos que cometeram erros, crimes sim, mas que já estão sob o julgamento da sociedade por meio da justiça.

      Quando eu sai da P2, tentei me colocar no lugar de vocês, reeducandos, e naquele momento aprendi a dar valor às pequenas coisas, aos olhares e sorrisos que a vida a cada dia me apresenta.
      Aprendi a dar valor à sociedade e suas regras, aprendi a valorizar o ar, a vida e percebi que a sociedade “somos nós” Paulo. Se ela é cheia de defeitos, injusta, preconceituosa, criminosa, somos nós tudo isso. Ainda bem, que sempre temos uma segunda chance. não é, de repensar valores, atitudes, amores e recomeçar. To aproveitando a minha chance a cada dia, não deixe escapar a sua!
      Vamos manter contato e quem sabe contar aqui e em outros lugares a sua história? O que acha? vc pode ser exemplo para muitos.

      Curtir

  3. Olá Karla…Parabéns pela matéria, é muito importante para os reenducando o trabalho da Pastoral Carcerária la dentro.
    E incrivelmente esse trabalho tem muita força,fé e está cada dia mais sendo explorado dentro das unidades penais.
    Meu namorado tb foi transferido para a P2 esse mês de maio e adoraria casar com ele lá.
    Bjão fique na paz !!!! By ~~> Luciane G.

    Curtir

  4. Gostaria de partilhar com vcs uma dessas visitas,já fui religiosa,fiz trabalhos voluntários na recuperação de viciados,hj trabalho em ong com moradores de rua e pretendo ser assistente social,desde já agraceço

    Curtir

  5. oi.meu marido estava no cdp 2 de osasco,foi transferido para a p2 de franco,bom gostaria que vcs me falassem como é a visita lá,qual modelo e a cor da roupa que devo ir,que comida levar no dia da visita,entra cigarro?quando eu ia lah pro cdp eu sempre chegava na noite anterior para garantir que eu entraria o + rápido possivel para ve-lo… eu moro no jaraguá,de trem eu chego logo em franco,+ gostaria que vcs me falassem se eu chegar lá de manhã,eu entro +/- que horas lá dentro? desde já agradeço.bjos tábatta

    Curtir

  6. Olá, gostei muito da forma como escreve sobre nossa situação, pois muitas vezes a gente julga e depois esquece que podemos estar nesta situação, meu marido está cumprindo pena na nilton silva a 1 ano e meio e agora tive meu 1 filho… me sinto sozinha, porém tenho esperanças de que ele saia de lá com vontade de viver a liberdade que ele mesmo quis perder…. eu o amo e sempre o amarei e é exatamente por isso que não o abandonei…. abraços a todas as irmãs que tem familiares presos e força para continuarmos esta caminhada.

    Curtir

  7. Pingback: Alojar site

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s