Depois de muitos dias, sem publicar algo de minha autoria aqui no Ká entre nós, resolvi desabafar, oxigenar cérebro e coração com estas linhas. Desculpe leitor, leitora, mas ai vai.
Desde o dia 26 de março tenho pensado e repensado na crueldade do ser humano, na crueldade barata, destruidora. Tenho pensado na essência do ser humano…olhado pras ruas, pra tv e para o espelho. Estou me referindo sim, ao caso da menina Isabella, tão amplamente divulgado pelos meus colegas.
Em um daqueles dias ao sair da redação, dentro do ônibus, fiquei lado a lado com o camburão do casal responsável pela morte da menina. A sensação foi estranha, eu tive medo.
Mas tive mais medo no final do julgamento, quando vi a população soltando fogos após a condenação do casal. Não me refiro aqui ao resultado; acredito de fato, que a justiça tenha sido feita pelo conselho constituído para tal, mas me pergunto. Para que tanta energia gasta naquela comemoração? Fogos de artifício? Qual foi o gol, a vitória? Fiquei pensando, pensando.
Outras desgraças surgiram e surgem dia-a-dia. São denúncias de pedofilia, violência doméstica, terremotos, o abuso seguido de morte dos seis meninos de Luziania – GO, a constatação de que indígenas e moradores em situação de rua continuam sendo vítimas de agressão, a falta de “vergonha na cara” de nossos senhores deputados, em dar uma banana ao anseio popular em reformular as campanhas eleitorais (Campanha Ficha Limpa) e o leilão da construção da Usina de Belo Monte, marcada para o dia 20 de abril, que ignora a ciência, o povo, o meio ambiente, as novas tecnologias e empurra o PAC guela abaixo da população brasileira.
Tudo parado na garganta, como um vômito que não sai e impede o sorriso. Sem dizer do coração partido e das noites sem dormir. Meu TCC tem sido a válvula de escape de toda essa ….
Por último acontecem as chuvas no Rio, em Salvador, São Paulo e em tantos outros pontos deste país e querem me convencer, querem convencer à nós, de que a culpa dos desastres, são daqueles pobres que estão em áreas irregulares. Mentira! Assim como no Jardim Pantanal, aqui em São Paulo, a prefeitura do Rio de Janeiro, desta e de gestões anteriores, foram omissas e mais, coniventes à tamanha desgraça permitindo que famílias inteiras construíssem seus lares à beira do caos, estimulando a permância com obras de infra-estrutura.
Enquanto isso nas páginas dos grandes jornais Dilma e Serra começam os ataques para angariar o meu, o seu, o nosso voto.
Mas…a vida segue e a minha Páscoa aconteceu ontem ao ver, pela minha TV surgir por debaixo da terra um homem. Um sobrevivente do desastre do Morro do Bumba no Rio de Janeiro. Não sei o seu nome. Negro, pobre, a minha Páscoa, a minha esperança de que a vida é mais forte.