Pra que serve este blog?

Desde o início do Ká entre nós, em maio de 2008, observo que as matérias mais acessadas e lidas, estão ligadas aos movimentos sociais, às questões indígenas e especialmente à questões do cárcere privado. Para minha surpresa e alegria, os leitores deste blog, variam entre lideranças sociais e pastorais, professores, colegas jornalistas, políticos e seus assessores, bem como reeducandos (ex-presidiários) e seus familiares.

Neste link observa-se o número de mensagens trocadas entre esposas, namorados e amigos de reeducandos que enfrentam as dificuldades da visita, da saudade e claro, do preconceito.

Ontem (15/09), junto à Pastoral Carcerária, fui à Francisco Morato – uma microregião do município de Franco da Rocha, com cerca de 160 mil habitantes. Naquele local conheci duas famílias, a de Everaldo e Nenê. Ambos cumpriram pena em presídios de Franco da Rocha e agora cumprem outrop tipo de pena na liberdade: a falta de oportunidade para recomeçar, falta o emprego.

Everaldo José da Silva, é jovem, casado, pai de um menino de oito anos. Desde que saiu da penitenciária, tem buscado integrar os egressos do município, para que organizados consigam encontrar oportunidades de trabalho e fontes alternativas legais de renda. A vontade de mudança, a ânsia por recomeçar está estampada no rosto do jovem. Na estante estão seus livros e no peito o desejo de retomar a faculdade de direito.

Junto à Pastoral Carcerária e Everaldo visitamos a casa de algumas pessoas no bairro Jardim Alegria, entre elas conheci Nenê, pai de sete crianças – três seus e quatro de sua companheira- (uma acabara de retornar da UTI no colo da esposa, que caminhou 40 minutos do hospital até sua casa). O sorriso do pai ao pegar o bebê no colo foi marcante, e mais ainda sua afirmação.  “Tenho essas crianças pra sustentar se eu não arrumar emprego vou ter que roubar, elas dependem de mim”, disse Nenê, em liberdade há seis meses, depois de nove anos preso.

Everaldo também nos levou à casa de Dona Elenice e Sr. Brito, idosos com problemas de saúde, ambos moram em um barraco no meio do mato. Não há energia, tão pouco esgoto, mas há ali esperança. Dona Elenice é tímida, perguntei sobre seus filhos, e me revelou ter quatro “espalhados pelo mundo”. Ali o casal depende da solidariedade de pessoas como Everaldo.

Durante a visita acompanhou-nos um rapaz que ia filmando tudo, registrando minhas perguntas, nossas ações, nada que me intimidasse, mas me deixava curiosa. O desejo deles é registrar tudo o que acontece, com fotos, filmes, estão se organizando para fundar a Associação de Moradoresdo Jd. Alegria e Amigos de Francisco Morato. O objetivo é ajudar egressos a se ressocializarem, encontrarem oportunidades de emprego, denunciarem o preconceito, criando consciência na sociedade, de que é necessário intervir e cobrar dos órgãos públicos os direitos garantidos em lei. Everaldo insisti que ele foi condenado e cumpriu pena de acordo com a lei, e por isso acredita que ela [a lei] deva ser respeitada por todos os cidadãos, não apenas pelos pobres.

Nesta manhã (16/09), recebi telefonema de Everaldo “Karla desculpa te ligar, mas o senhor Brito passou mal, ligamos para a ambulância do resgate, eles não vieram porque diziam estar com muitas ocorrências, coseguimos um carro e levamos o Brito até o hospital, chegando lá no estacionamento adivinha? Tava lá a ambulância parada, várias,  isso é um desacaso com a gente”.

O Ká entre nós está aqui, escrito por uma Maria prestes a receber o diploma de jornalista. Percebo na pele, no  coração, depois de tantas andanças de norte a sul desta cidade e deste país, que a função de um jornalista e de um meio de comunicação, por mais simples que seja é servir a sociedade. A redundância do serviço aqui, se faz necessária. Este blog, os meios de comunicação precisam informar e denunciar, servindo aos sujeitos para que se organizem e cobrem seus direitos, assim como Everaldo e as esposas de tantos reeducandos, que me orgulham de tê-las como minhas leitoras.

4 comentários em “Pra que serve este blog?

  1. Intuito grande de ver pessoas como vcs denunciando as atrocidades que acontecem com esses rapazes, que saem da prisão e não tem nada.

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  2. Tenho varios amigos com passagem e não vejo incentivo federal, estadual e municipal para inclusão social dos mesmos. Vejo a família ajudar, e pergunto-me, e para os que são egressos e não tem ajuda da familia? Como no caso do Nene?

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  3. Olá tudo bem com todos vcs? Espero que sim. Então espero que possam me ajudar, meu esposo era fugitivo e esta cumprindo pena em Franco da Rocha 2, eu queria saber o endereço de lá para eu mandar carta ele que esta de castigo. Eu liguei lá, mas eles não querem passar o endereço pra mim pq ele esta de castigo, me ajudem por favor.

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    1. Oi Taty
      O endereço da penitenciária é o seguinte:
      Fazenda São Roque – Estrada. SP 354 , alt Km 44,5 – Caixa Postal 21
      CEP 07780-000 Franco da Rocha – SP

      Mas você precisa saber o raio em que seu marido está. Você pode ligar lá e perguntar:
      Fone: (11) 4447 6543 ou pelo e-mail diretoriageral_p2franco@sap.sp.gov.br

      Caso não obtenha a informação, me mande o nome completo dele, ok.
      Abraços
      Karla Maria

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