
Da Vila Formosa, ao centro de São Paulo, são cerca de 15 quilômetros. Distância bem mais curta do que a que deverá percorrer o projeto de lei da Comissão da Verdade (7376/10), até sua aprovação. Para discutir o tema, o vereador Ítalo Cardoso (PT) promoveu na noite do dia 22, na Câmara Municipal de São Paulo, audiência pública com entidades e representantes dos Movimentos de Direitos Humanos para discutir o tema. “É preciso abrir os arquivos da ditadura, para que haja, um julgamento moral da história”,
disse Regina Nogueira, presidente da ONG Tortura Nunca Mais. Responsável pela iniciativa do processo de busca do corpo de Virgílio Gomes, Regina,
ex-presa política durante o regime militar, afirmou: “O pior de tudo para mim é essa herança de impunidade. Nós, junto ao Sindicato dos Químicos,
usamos a tese jurídica do crime continuado ou permanente. Virgílio foi seqüestrado e até hoje não foi encontrado, continua desaparecido”.
A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, também participou da audiência pública na capital. “Hoje o Brasil tem uma democracia muito madura, mas o grande desafio da nossa época é responder às questões que ainda não foram respondidas. É preciso dar uma resposta às famílias que esperam a localização de seus entes desaparecidos. Sem isso não podemos gozar da democracia plena”, declarou a ministra. “Sem nenhum clima de revanchismo, o que nós buscamos
é a constituição através de aprovação no Congresso, de uma comissão da verdade e da memória. Mais de 40 países ao redor do mundo já produziram
comissões de direto à verdade. Entre eles a África do Sul do pós-apartheid. É uma dívida do Estado Brasileiro com essas famílias”, discursou.
Ainda em seu discurso, a ministra ressaltou o trabalho de dom Paulo Evaristo Arns, em defesa dos Direitos Humanos no período da Ditadura, lembrou das Comunidades Eclesiais de Base, como espaços de reflexão e resistência à ditadura. Padre Júlio Lancellotti, do Vicariato do Povo da Rua, e padre Bernard Hervy, da Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT), defenderam a aprovação da Comissão da Verdade e a aplicação imediata dos Direitos Humanos.
A audiência também homenageou Sebastião Bezerra da Silva, Secretário Executivo do Movimento Nacional de Direitos Humanos – Regional Centro Oeste e do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia (TO), assassinado em
27 de fevereiro.