
Na semana passada, de 19 a 22, estive em Salvador (BA) para cobrir a beatificação da Irmã Dulce. A expectativa era grande, por ser uma pauta tão complexa com diversos ganchos, todos advindos da história de vida de uma mulher tão especial como Maria Rita Lopes, a irmã Dulce.
As Obras da Irmã Dulce começaram na década de 50, no bairro de Alagados, a periferia de Salvador, hoje chamado de Uruguai. Fui, portanto, até lá conferir as mudanças do local, ver as sementinhas plantadas pela beata. Para chegar até o Uruguai precisei usar mão do transporte público. São 2,50 centavos para cada viagem, que valeu a pena só pelo papo com os baianos, porque o trajeto e a segurança no ônibus foram horríveis. Atenção sobreviventes da Terra da Garoa, estamos bem na vantagem.
Puxando papo no ônibus começo a ouvir as críticas ao governo municipal, o mesmo que há dois meses não repassa a verba federal para as Obras da Irmã Dulce, pasmem: 14 milhões. As obras totalizam 46% de todo o atendimento de saúde pública de Salvador. João Henrique de Barradas Carneiro, o prefeito dessa terra única, é alvo de duas ações civis de responsabilização por ato de improbidade, justamente por não repassar verbas, como pode ser visto nessa matéria.

Salvador é linda por natureza, carrega em sua história e no rosto de seu povo o DNA do brasileiro. Em cada cantinho da cidade, respira-se história, poesia, música, axé, ginga, cor, literatura e gastronomia, respira-se a simpatia e a gentileza do baiano. Mas esse berço nosso precisa ser cuidado. caminhando pela cidade (e como andei!) vi muito lixo e buraco nas vias, da periferia ao centro histórico, no Pelourinho vê-se o descaso público. É uma vergonha que Salvador esteja tão abandonada, vergonha!
Para a sorte de Salvador e do Brasil, para a nossa sorte, somos abençoados com tamanhas belezas e geografia única. Fecho os olhos e me lembro da linda visão da orla Barra-Ondina com o farol ali à espera de uma visita; llembro do banquinho de Vinícius de Moraes em Itapuã; da Igreja de São Francisco iluminada de ouro; das ladeiras do Pelourinho cheias de história, das saias e colares das baianas, do sorriso gostoso daquele povo, do acarajé com caruru – sabor novo pra paulista aqui.
Mas tudo isso, que é maravilhoso, não tira a vergonha de Salvador – cheia de patrimônio histórico da humanidade – estar abandonada, como pude ver com meus olhos. A prefeitura precisa tomar conta da cidade, cumprir seus contratos e repasses, não só no Carnaval para as emissoras de tv, precisa reencontrar seu prumo e tomar conta dos baianos, o ano inteiro.
Confira a cobertura nos links abaixo:
Igreja beatifica Irma Dulce dos Pobres
“Anjo bom da Bahia” foi beatificada
Oi Karla,
Parabéns pela crônica, você está cada vez melhor… Parabéns.
Quanto a Salvador me parece que o “nosso berço” está cada vez mais sendo abandonado.
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