De janeiro a agosto de 2011, cerca de 20 mil migrantes foram seqüestrados em Saltillo, capital de Coahuila, norte do México, região de fronteira com os Estados Unidos, denuncia padre Pedro Pantoja, da Casa do Migrante da Diocese de Saltillo, e membro do Setor de Mobilidade Humana do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).
Padre Pedro esteve em São Paulo, de 21 a 24, no Pari, para um encontro da Pastoral de Migrantes e Itinerantes de toda a Igreja da América, onde seus representantes se reuniram para atualizar o guia de trabalho da Pastoral da Mobilidade Humana na América Latina e Caribe.
Em entrevista a O SÃO PAULO, padre Pedro denunciou a violação sistemática e generalizada dos direitos humanos, apontou que ao tentarem chegar aos Estados Unidos, os migrantes vindos da América Central viajam cerca de 2 mil quilômetros sobre trem de carga, para atravessar a fronteira. “Pelo caminho, muitos são sequestrados, outros morrem, caem de sono, cansaço ou fome, as mulheres sofrem violência sexual”, apontou denunciando também a corrupção policial: a cumplicidade entre autoridades e crime organizado, que exige 5 mil dólares para a soltura do seqüestrado.
“Nosso trabalho é de uma acolhida humana de dignidade para a proteção integral da pessoa. Oferecemos hospedagem, defesa jurídica, proteção às vítimas de tortura, que buscam na travessia melhores condições de vida”, disse padre Pedro.
O México tem hoje uma população de 112 milhões de habitantes, enquanto nos Estados Unidos, há cerca de 20 milhões de mexicanos. “O México tem 3.200 quilômetros de fronteira com os Estados Unidos, somente em Tijuana e San Diego, cada ano cruzam 66 milhões legalmente”, lembrou dom Emilio Carlos Berlie Belaunzarán, arcebispo de Yucatán.
Dom Emilio é o bispo referencial no Celam para a Pastoral do Migrante. Aponta que em geral tem crescido a sensibilidade da Igreja, sociedade civil e governos. “Há uma sensibilidade maior de respeito à dignidade humana dos migrantes. Creio que há um avanço nas legislações, em comissões de direitos humanos, por parte dos governos, ONGs e a própria Igreja tem tido um papel fundamental na defesa dos direitos humanos”. Dom Emílio se refere à atuação da Pastoral do Migrante que só no México já ofereceu 74 mil acolhidas com alimentação, água quente, medicamentos, apontando o trabalho dos missionários scalabrinianos.
No Brasil, aponta irmã Rosita Milesi, missionária scalabriniana, coordenadora doInstituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), as pessoas chegam em busca de trabalho. “As pessoas tem sido atraídas ao Brasil, em função da preparação da Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, a própria Jornada Mundial da Juventude, a construção de usinas hidrelétricas, as obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal]. Elas supõem que haja uma grande demanda de mão de obra”.
As questões climáticas também tem provocado a mobilidade das pessoas. “Vemos muitos haitianos chegando ao Brasil, após o terremoto de janeiro de 2010. Temos um grande caminho a fazer para responder à essa demanda, a própria Igreja também precisa de muitos avanços”, disse irmã Rosita, que também trabalha na atualização da Guia Pastoral publicada em 2006. A Guia Pastoral aponta causas e efeitos da Mobilidade Humana, sobre a atuação e legislação dos governos, e ainda os fundamentos bíblicos e doutrinários, o magistério da Igreja, orientando a atuação em defesa dos migrantes.