
‘Churrascão’ na região da Luz contra ação da PM
Há 14 dias, a região da Cracolândia está ocupada pelo poder público, mais precisamente pela Polícia Militar, reforçada agora pelas Rondas Ostensivas
Tobias de Aguiar (Rota). A população, de modo geral, tem apoiado a iniciativa de intervir na região que há cerca de 20 anos está abandonada nas mãos da ilegalidade; contudo, denúncias de uso da força e violência têm gerado protestos.
No último sábado, 14, as alamedas Dino Bueno e Helvétia, que já foram o “QG” do consumo de crack, se tornaram palco de manifestações contra a militarização’ da região e a ‘criminalização’ dos usuários de drogas. Raul Carvalho Nin Ferreira, 29, do Coletivo ‘Desentorpecendo A Razão’ (DAR), acredita que a política de drogas tem que ser revista no Brasil, “somos absolutamente contrários a essa ação truculenta sem qualquer fundamento,
fere a dignidade das pessoas, se tornando um risco à própria democracia”.
A lei de drogas no Brasil caracteriza apenas o porte de drogas como crime.
Usuários e dependentes não estão sujeitos à pena privativa de liberdade, e sim a medidas sócioeducativas aplicadas por juizados especiais criminais. “Se a lei assegura que usuários não são criminosos, porque a violência da polícia?”, questionava um dos cerca de 1.500 manifestantes: gente de comunidades, do Vicariato do Povo da Rua, da Pastoral da Juventude, estudantes e professores universitários, políticos, lideranças de diversos movimentos sociais e entidades representativas da cidade, entre elas o Conselho Regional de Psicologia. “O crack na região da Luz aparece como o sintoma de um problema infinitamente maior. O consumo abusivo desta droga, nestes contextos não é a causa, mas sim a consequência de falta de moradia, emprego, saúde, educação, enfim, condições dignas de vida às quais todos temos direito”, apontou a nota do conselho.
foto de Ruth Alexandre O protesto foi um “churrascão de gente diferenciada”, uma ironia resgatando o churrasco realizado no bairro Higienópolis, para defender a construção de uma estação do metrô”. No churrasco, a fila para a carne se estendia, nela muitos
usuários e moradores da região, entre eles Geisa Ramos, 32 com seu pequeno Aleckssandro, de 3 anos. “Eu sou moradora daqui [residência nº 44 da rua Dino Bueno], não uso drogas e vejo que falta um olhar cuidadoso e carinhoso para com os usuários. Não adianta a polícia pegar aqui e jogar ali”. Procurada para falar sobre a assistência aos usuários de drogas, a vice-prefeita e secretária de assistência social, Alda Marco Antônio não se pronunciou até o fechamento desta edição.E a carne era assada, a fila seguia. Cartolinas com frases de protesto eram pintadas e estendidas sob o olhar de fotógrafos e dos participantes do 25º Curso de Verão, que aconteceu de 8 a 15, na PUC-SP. Eram cerca de 17h, quando uma passeata, com cerca de 200 pessoas chegou chamando atenção. “É povo de Igreja”, ouvia-se ao longe. E era mesmo, povo das comunidades, paróquias e entidades de todo o Brasil e América Latina manifestando solidariedade e repúdio ao uso da violência na região.
Padre José Oscar Beozzo, coordenador do curso, leu um documento que assinado por 550, foi enviado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), ao Prefeito Gilberto Kassab (PSD) e aos ministros da Justiça e Saúde, respectivamente, José Eduardo Cardozo e Antonio Padilha.