3 mil denunciam problemas na saúde da periferia de SP

Agentes da Pastoral da Saúde defendem criação de hospital na Brasilândia

Texto e fotos: Karla Maria

Era dia 26, 13h59. O bairro: Taipas, zona noroeste da capital. Temperatura: 36ºC e o fresco refúgio era a Paróquia Nossa Senhora das Dores. O povo ia chegando para a caminhada de abertura da Campanha da Fraternidade (CF).

O tema Fraternidade e Saúde Pública atraiu agentes das comunidades, das diversas pastorais e da Cáritas. Segundo a Polícia Militar, cerca de 3 mil pessoas ocuparam mil metros da Avenida Elísio Teixeira Leite, na altura do número 7.400. Saíram às ruas reivindicando :“Que a saúde se difunda sobre a terra”.

O povo não caminhou sozinho, 27 padres, dezenas de religiosos, o bispo regional, dom Milton Kenan Junior e o arcebispo, dom Odilo Scherer
também caminharam. “Esta é uma das atividades propostas pela CF para manifestar e tornar pública a situação e nossa preocupação com a saúde no
país”, disse o cardeal.

Cartaz da Campanha da Fraternidade- 2012 da CNBB

Após a abertura solene da Campanha da Fraternidade em âmbito arquidiocesano, realizada na Catedral da Sé, na Quarta-feira de Cinzas, dia 22, as regiões episcopais também quiseram iniciar a refl exão sobre saúde pública e fraternidade com celebrações que reuniram os fi éis das paróquias e comunidades “Nessa Campanha da Fraternidade

A caminhada contou com leitura da Bíblia, oração, música, um manifesto em literatura de cordel, denunciando a precariedade do atendimento do SUS e um ato na frente do Hospital Geral de Taipas.  À frente, a cruz guiava a caminhada até a Paróquia Cristo Libertador, na travessa Leonardo Gandará. Ali um povo acolhedor esperava para a missa presidida pelo cardeal.

Maria da Conceição Souza, 76 anos é paroquiana e membro da Pastoral da  Saúde. Para ela “a CF vem esclarecer como funciona o SUS [Sistema Único de Saúde]. É tempo de conhecer nossos direitos”, disse a usuária da Unidade Básica da Saúde da Cohab de Taipas.  Dom Milton concorda “não
estamos formados para exigir das autoridades que se cumpram nossos  direitos”.

Dona Maria da Conceição

Destacou a urgência de uma participação efetiva dos fiéis nos conselhos paritários dos aparelhos de saúde. Denunciou a falta de hospitais na região.
“Em Perus, onde vivem cerca de 500 mil pessoas, não há um hospital para atendimento. Precisamos de mais e dignos hospitais, em que todos sejam atendidos com dignidade e que nos empenhemos nessa luta”.

Luta que Isaías Virgílio da Silva, 65 anos, sustenta há 9, como membro do conselho gestor da UBS da União da Vila de Taipas. “Lá cobramos o que está na constituição e já tivemos várias conquistas: uma mamógrafo e duas  reformas da unidade”.

A missa acabou por volta das 18h com homenagem à Nossa Senhora da Saúde. O violino de Renata Santos de Souza, uma jovem de Perus, deu espaço à voz de padre Jorge Feltrin, assessor da Pastoral da Saúde. “Espero a criação da escola do SUS, um melhor atendimento dos enfermos nos hospitais e o  fotalecimento da Pastoral da Saúde”.

Para padre Reinaldo Torres, assessor da CF na região a abertura foi só o  começo. “Não pode ser somente esta celebração. Que a região Brasilândia
volte às ruas para gritar por uma saúde pública de qualidade. Que neste ano
de eleições, a gente não viva de promessas, mas com o pé no chão. Que  tenhamos consciência de cobrar pelos nossos  direitos”.

Matéria Publicada no O SÃO PAULO, edição 2890.