Em agosto de 2010, o O SÃO PAULO esteve na aldeia guarani Kwarãy Djekupé no Jaraguá e denunciou as precárias condições de vida dos cerca de 600 indígenas que ali viviam; 19 meses depois, as violações continuam: faltam banheiros e saneamento básico, sobram crianças doentes, fossas e descaso público.
A Comunidade Indígena está dividida em duas aldeias: a Tekoa Ytu (conhecida como aldeia de baixo), e a aldeia Tekoa Pyau (conhecida como aldeia de cima). A equipe de reportagem acompanhou em 2010, a visita da Defensora Pública do Estado, Tatiana Belois Vieira, à aldeia de cima, e lá constatou-se a necessidade urgente de saneamento básico e a continuação das obras de 23 banheiros, que ainda hoje não funcionam.
Cortada pela Estrada Turística do Jaraguá, as aldeias contam com uma Unidade Básica de Saúde (UBS), nele um clínico geral, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem, três agentes indígenas de saúde e um dentista atendem a população, hoje de 123 famílias, cerca de 580 pessoas. “Temos este postinho de saúde, mas falta medicamentos. Quando as crianças ficam com diarreia, pneumonia, bronquite, o médico prescreve o medicamento, mas nós não recebemos, temos que procurar em outros postos”, disse um dos líderes da aldeia, Maurício Popigua, 37 anos.
Para a professora Poty Porã, 34 anos, o problema de saúde das crianças está ligado à falta de saneamento. “Meus alunos tem muitos problemas de pele: feridas, furúnculos, isso porque elas brincam com a terra poluída. Falta saneamento básico, nós não temos esgoto, existe fossa séptica só na escola, mas as casas não têm”. Poty Porã, a Flor Bonita, educa seus alunos à prevenção. No intervalo da aula, após o lanche, ajuda seus 18 alunos do 2º ano a escovarem os dentes. “Escovamos os dentes das crianças todos os dias, cada professora tem o seu horário, porque quando ora todo mundo junto era muita bagunça. Elas [as crianças] já tiveram uma melhora na saúde local”, disse Poty que realiza anualmente o papanicolau na própria UBS.
“A gente quer ter um área boa, a cidade diz que o indígena está chegando, mas na verdade é a cidade que está encurralando a nossa aldeia, e não tem como fazer. Vocês tão vendo as nossas casinhas, nós vivíamos em paz, caçávamos, nos alimentávamos da mata, agora aqui no meio da cidade, cumprimos e respeitamos as leis, mas não somos respeitados”, disse Natalício de Souza, que há 12 anos vive na aldeia com sua família.
A saúde integral do povo indígena está intimamente ligada à sua relação com a terra, e a situação instável da aldeia ainda sem demarcação, afeta diretamente à dignidade dessa população. “Vivemos como um passarinho dentro da gaiola, nós perdemos tudo, nós não temos mais espaço, nossa liberdade”, disse Aloízio Gabriel Tupan, 55 anos, casado com seus oito filhos. As famílias vivem de modo precário em pouco mais de três hectares.”Antes éramos alegres, vivos, e hoje vivemos só de lembrança e saudade. É uma tristeza que vem junto com a falta de terra, se tivéssemos uma terra boa, com água, rio pra nadar e pescar, teríamos vida”, disse Tupan.
Questão interessante… Os Artigos 49 e 51 da Lei 11.445, que institui a Política Nacional de Saneamento, menciona a necessidade de proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental aos povos indígenas e outras populações tradicionais, tratando especificamente de ações da União relativas ao saneamento básico nessas áreas indígenas, bem como em reservas extrativistas da União e nas comunidades quilombolas.
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