
Dinheiro arrecadado será destinado a Projetos de Fundos Solidários
Texto: Karla Maria
Fotos: Luciney Martins
“Fiquei sabendo do bazar pela televisão. Vim ontem [sexta, dia 3], mas estava desprevenida, então voltei hoje e trouxe uma galera”, conta Lilian Caroline de Moraes Amaral 26, que gastou 400 reais em compras no Mega Bazar Solidário promovido pela Cáritas São Paulo, de 3 a 5, no Sindicato dos Bancários, centro da capital.
“Aqui, os preços são como os da 25 de março [comércio popular da capital paulista], mas lá eu acabo contribuindo com o crime, com a sonegação de impostos, e aqui eu estou contribuindo com quem precisa”, disse a jovem, que comprou algumas das 350 mil peças provenientes de apreensões realizadas pela Receita Federal e destinadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social a apoiar Projetos de Finanças Solidárias.
A Cáritas Brasileira, membro do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, é uma das entidades que em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) executa o projeto de mapeamento e fomento à economia solidária, e, por isso, no Estado de São Paulo gere os recursos para tais fins. “A Cáritas está cumprindo sua função social para além dos muros da Igreja, e este evento possibilita isso”, disse Maria das Graças de Lima, agente estadual do Projeto de Fundo Solidário da Cáritas Brasileira Regional São Paulo.
Antes mesmo de o Brasil contar com a SENAES, a Cáritas Brasileira, na década de 1980, já refletia e vivia a economia solidária nas comunidades de base, e foi a partir dessas experiências, somadas a demais iniciativas espalhadas pelo Brasil, que nasceram e serão também beneficiadas pelos recursos arrecadados no bazar, os Fundos Solidários Rotativos.
Samuel da Silva, agente da Cáritas de Minas Gerais e voluntário no mega bazar, explica que os Fundos Solidários Rotativos são metodologias de organização da comunidade para o financiamento de iniciativas produtivas e sociais, de caráter comunitário e associativo, voltado a promover atividades socioeconômicas a partir dos princípios da economia solidária. “O objetivo é promover o desenvolvimento local solidário e sustentável”, disse Samuel, entre uma venda e outra.

Segundo Geraldo da Silva Cunha, um dos 50 voluntários no bazar, na sexta-feira, foram cadastrados 1.400 compradores e no sábado, até às 16h, já passavam de 3 mil. Valdete Santana dos Santos e seu filho Roberto estavam entre eles. “Peguei tênis de marca. Na loja, custa 500 reais, eu nunca poderia comprar”, disse a moradora de Cidade Tiradentes, com os sete pares de tênis na mão.
Além dos tênis, foi possível comprar jaquetas, camisetas, vestidos, meias, mochilas, utilidades domésticas, material escolar, material de escritório, utensílios de cozinha, pequenos objetos de decoração, tudo a preços bem convidativos.
Enquanto os compradores pesquisavam seus produtos, aconteciam apresentações e manifestações culturais de artistas e grupos ligados aos Pontos de Cultura e Movimentos Sociais. Terminadas as compras e enfrentada a fila, foi possível saborear os salgados e doces de grupos de economia solidária, já apoiados pela Cáritas, vindos de Santo André, São Bernardo do Campo, Osasco e da zona leste de São Paulo.
Publicada na edição 2913 de O SÃO PAULO.