Meus dias de conclave

jornalistaLonge das minhas habituais pautas, os últimos dias foram para mim um conclave, e explico. Morando em um país de minoria católica, acompanhei os passos dos 115 cardeais pelos sites e tvs de diferentes países. Esta foi, sem dúvida, uma experiência importante, um exercício de observação do comportamento da mídia e do impacto que este homem, agora líder de 1,2 bilhão de pessoas já provoca na sociedade.

O primeiro impacto, simplicidade e despojamento. Francisco, o papa, chega pedindo a benção do povo,  se curva a ele, em um gesto de serviço e amor. Seu nome revela o cuidado necessário e urgente com os pobres. Um segundo impacto, as notícias que emergem sobre a ligação do então arcebispo de Buenos Aires, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, com a última ditadura militar na Argentina (1976-1983).

Para refutar o segundo impacto, o ativista argentino de direitos humanos Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1980, em entrevista a BBC Mundo afirmou: “Questionam Bergoglio porque dizem que ele não fez o necessário para tirar dois sacerdotes da prisão, sendo ele o superior da congregação de jesuítas. Mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar a liberação dos presos e sacerdotes e não eram atendidos”.

O caro leitor deste Ká entre Nós, que muito me honra com a sua presença virtual pode também apontar “a Karla Maria, claro, vai defender o papa porque ela é jornalista católica”… Tenho ouvido isso nesses dias e me sinto na obrigação de esclarecer que sim sou católica apostólica romana, isso faz parte da minha cultura, da minha opção de vida.

Obviamente que os valores que aprendi na Igreja Católica se aplicam diariamente no meu jornalismo, porque valores, ora, são valores, e posso falar sobre eles: amor e respeito ao próximo de toda cor, origem, raça, gênero, credo, compromisso de serviço à sociedade, solidariedade, busca por justiça e dignidade.

Somado a esses valores estão o faro e a alma da jornalista que sempre procura a verdade dos fatos e dos dados à serviço do bem comum, e de acordo com meu compromisso profissional jamais me refutarei a escrever a verdade apurada, ainda que atinja meus “amores, credos ou ideais pessoais”. O que não posso e não farei é entrar na onda dos achismos infundados, do jornalismo preguiçoso e republicar informações sem dados ou provas concretas.

Ser católica não limita ou restringe meu compromisso com a pluralidade e a verdade dos fatos, só reitera meu dever de trabalhar pelo bem comum, sempre, pela verdade, sempre.

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