Sábado preguiçoso. Sábado ensolarado, o que não é nenhuma novidade nesta terra. A novidade é que depois de mais de três meses me rendi ao café americano. É verdade que o fizeram mais forte para mim. Enquanto o calendário se aperta, e a data de voltar para casa se aproxima, entre as leituras obrigatórias diárias, penso como me rendi a esse café e a outras questões.
Foram e são dias de descoberta, mas não pensem em grandes e incríveis descobertas, não, não. São simples e cotidianas. Rendi me ou convenci me da necessidade de protetor solar. Impossível ficar sem nesta terra onde o indíce pluviométrico é menor que a minha disposiçào nesta manhã. Rendi me também à água, minha melhor amiga, mais de dois litros por dia fácil. Rendi me ao inglês, definitivamente porque este idioma me transportou a diversos e inusitados mundos, histórias e complexas realidades.
Sentadinha, aqui nessa mannhã preguiçosa, destaco alguns desses mundos: Da Palestina, Asmaa, mãezona, geográfa, refugiada há oito anos nos Estados Unidos. Já passou por diversos estados com seu marido professor, nosso professor em dias anteriores às provas. Em um jantar em sua casa, lemos o alcorão, eu mostrei minha Nossa Senhora Aparecida que carrego no pescoço, comemos tâmaras, tomamos caldos, e saboreamos uma carne preparada por ela mesma. Sentados em torno da mesa, parecia estar no Brasil. Verdade também que Selma, a filha mais nova de Asmaa, sentou-se na mesa e me enchia de beijos, como se nos conhecessemos há muito tempo.
Me lembro também das cores fortes nas roupas de Jamela. Amarelo gema. Nada discreta Jamela é uma jovem iraquiana, muito católica, arranca suspiros dos colegas da classe. Eles tentam disfarçar mas rs, não conseguem. Sempre atrasada nas aulas de reading, já levou bronca da super loura americana Diana, que nos ensina com tanta vontade, que me faz sentir culpada de pronunciar wrong words. Durante a Quaresma, Jamela não fazia as leituras em voz alta, ela tentou explicar à professora, mas não foi compreendida…. Jamela carrega um tipo de terço no pescoço, é minoria em seu país que há dez anos foi invadido pelos americanos. Jamela tem 19 anos, trabalha em uma pizzaria e dirige rápido.
Do Iraque para o Japão chegamos à Miki, a doce Miki. Nós dividimos a fama de boas alunas na sala. Mas ela sempre termina as provas antes de mim, sempre. Miki é japonesa, tem um estilo próprio. Carinhosa e tímida. Preciso visitar mais o Japão…
Estes são apenas alguns mundos descobertos, através do simples, do bate papo, da convivência. Há tantas outras descobertas e rendições… algumas tristes, que viraram pauta, mas isso é tema para outro momento. Meu café americano gelou, báh, mas o que importa, já estou rendida.