Para dom Moacyr Grecchi, Amazônia é vista como colônia do Brasil. Encarnação na realidade e libertação integral darão norte a Encontro na Amazônia Legal
Por Karla Maria, Osnilda Lima, fsp e Wilson Silvaston – Signis Brasil
Foto: José Altevir, CSSp
Começa hoje à noite, 28, em Manaus (AM), o 1º Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, que reúne bispos e lideranças da região para discutir as realidades do mundo urbano; das populações indígenas e quilombolas; o mapa das religiões nas Amazônia; os impactos socioambientais dos grandes projetos do Governo Federal, do agronegócio, do tráfico de pessoas entre outros temas que atingem a realidade do povo amazônico.
Defensores dos Direitos Humanos e promotores do Ministério Público também participam denunciando e apontando saídas para essas questões que há 40 anos são pauta para a Igreja Católica na Amazônia. “A Amazônia há 40 anos, lá em Santarém (PA) (primeiro encontro dos bispos da Amazônia em 1972) montou um documento que orienta até hoje a caminhada da Igreja na Amazônia”.
O Documento de Santarém é o rosto, a identidade da missão assumida pela Igreja na Amazônia. Ele apresenta quatro prioridades de ação: a formação de agentes pastorais locais; de comunidades cristãs de base, que são as Comunidade Eclesiais de Base (CEBs); frentes missionárias e a Pastoral Indigenista, que segundo dom Moacyr Grechi, membro da Comissão Episcopal para a Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) estava “um pouco deixada de lado”.
Ameaçado de morte em três oportunidades por defender o direito à terra das comunidades tradicionais e ribeirinhas, dom Moacyr aponta que as prioridades de ação definidas em Santarém (PA), foram tomadas à luz de dois princípios. Libertação integral e encarnação na realidade. “Não só a libertação da alma com as desobrigas, mas um empenho para que houvesse uma consciência de que precisavam, por exemplo, os seringueiros se libertarem da escravidão do patrão e do sistema que os oprimia. À luz também da encarnação da realidade, que nós missionários, que viemos de outros lugares, de outras partes do mundo, precisamos assumir a realidade local”, afirma o bispo.
E a realidade apresenta desafios, que segundo dom Moacyr, são os mesmos de há 40 anos. “A Amazônia continua sendo uma colônia do Brasil, uma colônia energética. Era extrativista, veio o ouro, a cassiterita, a madeira, destroem a floresta sem dó nem piedade e agora mais uma praga: a soja, a cana, o boi e a corrupção”, denuncia.
O encontro segue até quinta-feira, 31, com representantes dos seis regionais da CNBB que compoem a Amazônia Legal.