
É na rua Carlos Mariguela, em Guarulhos, que João Plácido Vieira tenta recuperar parte de sua história e família perdidas pelo tempo. Natural do Piauí, João deixou sua terra há cerca de 50 anos, e desde então não tem notícias da família.
Chegou ao Lar Batuíra, em 2009, aos 73 anos, depois de ter sido abandonado em Itaquaquecetuba, no mesmo ano, pelo proprietário da Casa de Repouso para Idosos Aprisco. “Ele foi encontrado na porta de um bar, abandonado por uma entidade. Estava sem documentos, não temos nenhuma informação sobre ele, além daquilo que ele conta”, afirma Palmira Santos Rocha Cabral, assistente social do Lar Batuíra.
Como João Plácido chegou à Casa de Repouso em Itaquaquecetuba ninguém sabe. O piauiense de Picos não fala muito, mas sorri. Solta frases de um passado distante e difícil de ser montado e compreendido histórica e geograficamente. “Foram cinco dias de viagem de ônibus. Ela era pequena, o nome dela é Maria de Jesus. Eu devia ter uns 22 anos quando as deixei”, diz lembrando também da esposa Raimunda Maria da Vieira e dos pais Plácido José Vieira e Maria José da Conceição.

João Plácido não recebe visitas, é hipertenso, caminha com dificuldades, sempre escorado em uma cadeira. Lê a Bíblia, acredita em Deus, e mais, que nunca mais verá sua família. Não esquece do tempo que morou nas ruas. “Fiquei sozinho, jogado. Era muita cachaça, mas me acostumei a ser sozinho”, diz senhor João, com um olhar de quem se cansou desse modo de ser.
Casa de Repouso abandonou outros idosos
João Plácido não foi a única vítima da Casa de Repouso para Idosos Aprisco, de Itaquaquecetuba. Em maio de 2012, o juiz Fernando de Oliveira Domingues Ladeira, juiz de Direito da 2ª Vara Criminal de Itaquaquecetuba citou Genival Beserra da Silvaco, proprietário da casa de repouso, a responder sobre a acusação de abandono dos idosos: Deuzira Maria Madalena, 81 anos; Nelson Cosito, 69 anos e o próprio João Plácido Vieira, na época com 73 anos.
Publicada na Folha Metropolitana, dia 26 de novembro de 2013