O estado de Rondônia ainda sofre com as cheias do Rio Madeira, que subiu cerca de 20 metros nos últimos três meses. Na capital, Porto Velho, 21 ruas estão intransitáveis, debaixo d`água. O comércio, repartições públicas, casas e praças, entre elas a Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que guarda um patrimônio cultural e histórico do Brasil, esperam a água baixar para que a vida volte ao normal.
O ribeirinho Raimundo Oliveira da Costa, 65 anos, perdeu seu sítio, localizado na Comunidade Niterói, no baixo Rio Madeira. A água levou suas plantações, seu sustento. Atualmente vive de favor com o filho na casa de um parente e ganha dinheiro levando turistas e curiosos para conhecerem a nova realidade da cidade submersa.
“A água chegou na minha casa no dia 20 de fevereiro e desde então eu moro na casa de um primo meu. Até agora eu não tive ajuda de nada, recebi uma cesta básica que me disseram que de 15 em 15 dias iam entregar. Mas já faz quase um mês que fizemos o cadastro”, disse o ribeirinho enquanto guiava a equipe de reportagem na canoa, entre as ruas de Porto velho.
“Com isso aqui [referindo-se ao trabalho], dá para fazer um dinheirinho. Tem dias que faz R$ 100, até R$ 200, mas tem as despesas também. Se não fosse isso como é que eu ia viver?”, questionou Raimundo, que nasceu e cresceu à beira do Rio Madeira. O ribeirinho é uma das cerca de 20 mil pessoas atingidas pela cheia.

A Arquidiocese de Porto Velho está em campanha há mais de três meses para arrecadar e distribuir cestas básicas, roupas e móveis aos atingidos. O coordenador da campanha, padre Miguel Fernandes, pároco da Paróquia São João Bosco, que se tornou ponto de referência aos atingidos e acolhe 12 famílias, fala do trabalho da Arquidiocese, que já entregou mais de 40 toneladas de alimentos.
“Já são três meses nessa angústia e o rio cada vez sobe mais. É assustador. São vários distritos isolados. A BR 364 [rodovia] está alagada. São milhares de pessoas que perderam o seu referencial, estão fora de suas casas, perderam tudo”, disse o padre, que é referência, inclusive aos órgãos públicos, no amparo aos desabrigados e na logística de entrega dos mantimentos.
Há dois meses vivendo no improviso
Rovilson Denic Nunes é um dos atingidos pela cheia histórica. Casado, pai de seis filhos, encontrou abrigo na Paróquia São João Bosco, na região central de Porto Velho. Sua casa, localizada no bairro Triângulo, está alagada e suas crianças não frequentam a escola há mais de dois meses.

“Faz dois meses que estamos aqui. Foi rápido demais quando a água chegou, nós não esperávamos. A gente não queria sair, confiamos que a água não ia chegar, mas ela está lá acima do teto da minha casa”, disse Rovilson, em sua cama improvisada no ginásio da paróquia. “Disseram que não ia acontecer nada com a gente, porque fizeram uma contenção de pedra, mas a água começou a minar pela barragem de pedra, a ponto de estourar e pegar todo mundo dormindo dentro de casa. Perdemos móveis, o guarda-roupa que eu tinha, tudo o que eu tenho está aqui”, disse o paranaense, há 22 anos em Rondônia.
Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o acúmulo de água nos reservatórios e o aumento da vazão dos vertedouros das usinas de Santo Antonio e Jirau potencializaram os alagamentos naturais do período e estes agora atingem áreas que antes não sofreriam alagamento. Procurado, o Consórcio Santo Antonio Energia preferiu não se pronunciar sobre o tema.
Nesta sexta-feira, mais uma embarcação da Defesa Civil da Prefeitura de Porto Velho desce o Rio Madeira para levar alimento e medicação às famílias que estão ilhadas e acampadas em distritos banhados pelo rio. Nossa equipe de reportagem acompanhará esta ação.
A jornalista Karla Maria é enviada especial a Porto Velho (RO) pela Revista Família Cristã/Signis Brasil.
Oi Karla, aqui é o Flávio da Região Sé. Parabéns pelo material que está sendo produzido. Hoje são poucos os profissionais que se arriscam a cobrir tragédias fora do grande centro midiático.
Acompanho este caso, com carinho e apreensão, pois além de ter um irmão aí, esta terra tem um povo valente, mas muito sofrido; consequência da inexistência da ação do estado que age apenas para a imprensa. E como a imprensa aí é escassa eles não precisa, trabalhar tanto.
Fiquei muito feliz de saber que você está acompanhando este caso, e espero ver mais material com imparcialidade, que lhe é característica.
Abraços, Flávio.
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