Dias de correio são assim

Os dias de correio têm um ritual que me movimentam de um jeito único… desde o início da pandemia não encontro mais leitores pessoalmente, então faço desse momento de venda e dedicatória do livro, um momento de encontro, especial mesmo.

Busco um café quentinho. Hoje está bem cremoso. Sento no sofá e em seu braço, apoio a pequena pilha de livros. Um a um vou abrindo e relendo frases que escrevi em outros tempos. Tenho frio na barriga. Uma alegria boba encontrada entre um silêncio e outro.

Naquele sofá, onde a luz banha-nos de energia, escrevo cada uma das dedicatórias pensando em seu portador. Portadora na maioria das vezes. Acho o momento tão solene, que antes eu mesma faço minhas unhas, juro e rio de mim mesma.

Encaixo o marca-páginas com saudades da Rê, quem faz tudo o que há de bonito que acompanha as minhas palavras. E pronto, envelope, endereço e rua.

Máscara, alcool em gel e prudência até a agência do Correio, lá no centro de Guarulhos. Cruzo a praça Getúlio Vargas, cumprimento os que por ali vivem e fila.

As filas revelam traços interessantes do brasileiro, como a dificuldade de respeitar o distanciamento. O chão está marcado, mas é ignorado. Ô, povo, carente… antes fosse só de contato humano.

Nos guichês, os sorrisos são conhecidos. Eles sabem que ali estão meus livros e tratam os envelopes com cuidado. Observo. E assim, eles seguem seu percurso até os olhos, a vida de alguém.

Dias de correio são quase sempre assim… 😉
Se quiser meu terceiro livro, O Peso do Jumbo, eu os tenho aqui. Me avise, que terei o prazer em fazer sua dedicatória e enviá-lo ainda hoje.

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O começo de um livro

Minha ideia de escrever o livro O Peso do Jumbo surgiu após eu sentir o impacto que o livro Mulheres Extraordinárias tinha gerado nas pessoas. Admito.

Foi incrível viajar pelo país e ver as mulheres se identificando com as histórias e debatendo temas que são tão nossos como a violência doméstica, o controle, a inexistência, a violência do Estado em nossas vidas, a depender do tema… nossas relações amorosas, nossas inspirações, sonhos e lutas .

Tanto as linhas que escrevi nesse livro, quanto os encontros que elas me provocaram mexeram demais comigo.

Ao ver e sentir o impacto do livro de estreia, decidi propor a Paulus Editora que apresentássemos o sistema carcerário de um jeito humano, responsável e real para meus leitores, que envolvesse todos os seus atores, desde aquele e aquela que cumpre pena até o juiz que a sentencia.

Eu precisava cumprir minha função como jornalista, e de um modo desafiador que eu passara a experimentar: os livros.

Meu objetivo foi e é dar luz a uma questão tão ligada à segurança pública, ao tráfico de drogas, às facções criminosas, ao papel da imprensa na formação de consensos e do imaginário nosso sobre “bandido bom é bandido morto”.

Escrevi o livro norteada pelos passos de dona Lúcia, mãe de uma jovem presa por tráfico. Ela estava presa sem grades.

Lúcia me ensinou, assim como tantos outros e outras entrevistadas, e está tudo aí. E juro, que ao entregar esse livro, depois de 1 ano e sete meses escrevendo, tirei um peso das costas, mas não da alma.

Um peso que carrego desde a primeira vez que pisei em um presídio com pouco mais de 20 anos pelas mãos da Pastoral Carcerária Padre Macedo da Brasilândia.

Eu me coloquei no lugar daquelas pessoas e pensei como eu sairia do presídio sendo tratada como tudo, menos gente. Quais as consequências disso para a sociedade brasileira. O que é a justiça? O que são os direitos humanos? E a dor? A falta de humanidade de quem comete um crime?

Senti raiva. Perdi a esperança. Conheci as regras do crime. A omissão e o fracasso do Estado.

Mas encontrei esperança. Juro. O resultado está aí. Em detalhes, com cuidado, respeito e dedicação.

Você encontra meus livros no site da Paulus ou comigo 😉

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Dia do jornalista, e…

Dia do jornalista e por isso dia de angústia também. Dia em que lembramos o nosso papel de desmentir a mentira institucionalizada, de combater a banalização da verdade, a relativização da Ciência, a criminalização dos repórteres, a precarização do nosso trabalho dia a dia, as ameaças veladas e também diárias à democracia, à liberdade de expressão.

Força aos colegas que continuam com ética e compromisso em meio ao caos que vivemos.

Foto do colega Joaquim Souza, enquanto eu cobria as cheias do Rio Madeira, em Porto Velho (RO), em abril se 2014.

#karlamariajornalista