Conheça esta Maria antes de 2022

Nestes dias em que o calendário parece perder um pouco o sentido e a ordem, as gavetas, os armários e projetos são revisitados, não é verdade? Aproveitando este aparente lapso temporal, te convido a ler meu último trabalho publicado: uma conversa que tive com Maria Fonseca, artista sacra cearense que segue de mala e pincéis pelo país pintando belezas em espaços sagrados. A reportagem escrita em estilo perfil está aqui no site da Agência de Notícias Signis.

Confira um trechinho…

A rotina do seu trabalho inclui um café da manhã que pode ser na casa paroquial, de alguém da comunidade ou em um hotel de alguma cidade deste imenso país, o que determina também seu cardápio: ovos, inhame, pãozinho na chapa, pão de queijo, açaí, um peixinho, tudo varia e acompanha o sabor e o sotaque local.

Após um trajeto feito a pé, carro ou barco, Maria chega à igreja. Diante da “tela” em branco, que pode variar de tamanho, traça o sinal da cruz, sobe os andaimes e, acompanhada por pincéis, tintas e seu celular, inicia seus desenhos. Antes, contudo, aciona a playlist de músicas que a inspiram na arte de dar concretude ao mistério do encontro com o próprio Deus. Celina Borges e Ziza Fernandes são alguns dos nomes que a acompanham em sua atividade.

“Eu entrego meu trabalho a Deus. Aí eu coloco uma música católica que tenha a ver com o que eu estou produzindo. Coloco uma música para que eu chame o Espírito Santo. Não é só a emoção, às vezes eu intercalo com áudios de passagens da Bíblia pra ouvir a passagem bíblica daquilo que eu vou criar. Eu tenho várias Bíblias de estudo e com várias traduções, e isso ajuda também a atentar aos detalhes”, reflete.

às margens da estrada e da história

indio
Foto Karla Maria I BR 290 – Acampamento Arroio Divisa

Em maio, estive cortando as estradas do Rio Grande do Sul para realizar reportagens que mexem com a história daquela povo, com a história que construiu e garantiu o jeito peculiar de ser do gaúcho.

Uma reportagem especial, que acaba de ser publicada na edição impressa da Revista Família Cristã, traz a situação de três acampamentos indígenas dos Guarani M’bya, às margens das rodovias RS 040, BR 116 e BR 290. Um contexto de extrema pobreza e abandono dos poderes públicos.

Convido os leitores a desvirem o olhar a estes povos, cerca de 36 mil brasileiros e brasileiras que vivem no estado gaúcho.

Foto de Guilherme Klein I dona Joventina e a repórter
Foto de Guilherme Klein I dona Joventina e a repórter

Também para a Revista Família Crista, desta vez para sua página eletrônica, estive em Espumoso, cidade à 5 horas de ônibus de Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul.

Ali, conheci dona Joventina, uma senhora centenária, que traz em seu olhar, parte da história do Brasil e das consequências insuperáveis causadas pela escravidão.

Fica o convite para as leituras do texto, das fotos e do vídeo, que irão dizer mais do que minhas perseverantes palavras.

Guadalupe na porta, malas por fechar e pesar

Picture 348Último dia no Arizona. Estou sentada num banquinho, debaixo de uma árvore, esperando o ônibus, enquanto os carros passam. É domigo, Dia das Mães, dia de almoço, abraço e beijo…
Não sou mãe, ainda, e espero ser de um jeito ou de outro em um amanhã. Mas não me faltaram abraços, não me faltaram carinhos neste dia.
Mensagens no telefone dizem “I am going miss you, you are special, be happy”, letras que marcam a despedida, encerram esse capítulo que foi bem confuso, difícil e surpreendente também.
Pequenos momentos me marcaram: o primeiro dia de aula, naquela sala cheia de história e cultura; conhecer e brincar na neve como criança; andar nas ruas de Tucson com minha família americana, celebrar a Paixão e Páscoa com eles; sentir o cheirinho do Oriente em uma cozinha palestina.
Nestes tempos de intercâmbio, fui além do inglês, acho que além de mim. Conheci o meu limite e gostei. Vi que o mundo é pequenininho, cabe numa conversa, assim debaixo da árvore, num café aguado, agora no ônibus com o motorista, que elogia o inglês desta estrangeira. Sim, o ônibus chegou.
Neste período falei do Brasil, quase todos os dias por aqui, foi outro ponto interessante… o Pelé? sim, mas ia além, porque nós somos mais.
Aqui também vi a guerra de perto, no olho dos amigos vindos da Síria, da Palestina, da Somália, do Iraque…; vi o sonho trazido pelo deserto com os mexicanos e a pobreza estabelecida aqui com os americanos.
Tanta coisa, tanta gente, tanta história, tanta, tanta, tanta…  Chegando em casa, sol forte, Guadalupe na porta, malas por fechar e pesar.
Ela, a mala volta mais pesada sim, a cabeça mais aberta, os olhos mais atentos e o coração, a esse  coração volta na mão…

Festivais seguem revelando novos talentos da música brasileira

Banda
Durante o 4º Som Léo Festival. Foto de Laila Araujo

Elis Regina, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto Gil. Estes nomes surgiram e tocaram o Brasil nos anos 1960. Eram tempos de Festivais da Música Popular Brasieira, transmitidos pela TV Excelsior e depois pela TV Record.

Desde então, canções como “Arrastão” (Edu Lobo e Vinicius de Moraes), interpretada por Elis Regina, e “Porta-estandarte” (Geraldo Vandré e Fernando Lona), interpretada por Airto Moreira e Tuca permanecem no imaginário do brasileiro, são raízes da cultura popular brasileira.

Cinquenta anos depois, os festivais espalhados pelo país, continuam revelando grandes e escondidos talentos, contando desta vez, com as possibilidades da internet para a divulgação e participação do público na escolha de seus preferidos artistas.

No 4º Som Léo Festival de Música de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, entre os dias 21 e 22 de setembro de 2012, o público que seguia o Festival e as bandas participantes, pôde escolher suas bandas preferidas através da rede social, o Facebook. Na página do Festival também foram divulgados os vídeos dos artistas e das bandas musicais.

Destaque do 4º Som Léo Festival de Música de São Leopoldo, a banda II Louis and The Jay formada por quatro gaúchos e um catarinense, mistura influências do folk, rock, reggae e blues, compoe suas próprias canções e conta com a internet para a divulgação de seu trabalho.

Em entrevista ao Ká entre Nós, o vocalista Jeremias Dillenburg fala do surgimento da banda, de música e inspiração, da importância dos festivais na carreira da banda e mais, de internet e projetos que estão por vir. Antes, com vocês, a banda II Louis and The Jay:

Jeremias Dillenburg, nos vocais e violão
Luiz Carlos Oliveira, no baixo
Luiz Bitencourt, na bateria

Músicos convidados
Matheus Miguel , na guitarra
Isaque Pacheco, nos teclados

Ká entre Nós:  Como tudo começou?
Jeremias Dillenburg:
Eu sempre tive a vontade de formar uma banda de surf music, pois sou um surfista fissurado por esta cultura de mar! Conversei sobre essa vontade com um ex-colega do curso Técnico em Música, o Luiz Bitencourt, e ele topou ser o baterista. O baixista, Luiz Carlos, conheci na aula de inglês e, no momento, ele fazia o mesmo curso que nós tínhamos feito. Fechou! Formamos um trio e essa é a base da banda até hoje.

Ká entre Nós: Ouvindo as músicas que tocaram no Festival, percebe-se diversas referências na música de vocês. Quem, quais são as referências musicais?
Jeremias Dillenburg:
Somos fãs de música boa, criativa e simples. Gostamos dos mesmos caras, como Ben Harper, Bob Marley, Jack Johnson, Tim Maia, Natiruts, O Rappa, entre outros. Claro que cada um possui seu gosto pessoal, mas no fim aderimos à mesma sonoridade. Os gêneros mais frequentados são o folk, o rock, o reggae e o blues.

II Louis & the Jay / Foto: Facebook/Estudio Digroove
II Louis & the Jay / Foto: Facebook/Estudio Digroove

Ká entre Nós: Esse foi o prmeiro festival que participaram? Qual o peso para vocês de festivais na Carreira musical?
Jeremias Dillenburg:
O 4º Som Léo Festival foi o nosso primeiro e já entramos ganhando. As 10 bandas selecionadas foram agraciadas com a gravação de um DVD. Isso foi demais! De uma hora pra outra estávamos gravando entrevistas em rádio e TV, além do making off para a produção e o show final no Teatro Municipal de São Leopoldo. Acreditamos que os festivais são essenciais para a experiência e exposição da banda. Em 2013, já participamos de um festival de rock em Porto Alegre e estamos prontos para tocar no Festival do Meio Ambiente de Sapucaia do Sul, onde nossas três músicas também foram selecionadas.

Ká entre Nós: Como avalia o cenário da indústria fonográfica? Primeiro sobre  a qualidade das músicas?
Jeremias Dillenburg:
Sabemos que indústria fonográfica tomou outros rumos, principalmente com o crescimento e a facilidade do uso da internet e de outras ferramentas digitais. Hoje em dia, podemos encontrar muita música, de diversos gêneros e qualidades, e podemos fazer música em casa sem muita dificuldade. Acredito que a qualidade e a precisão das músicas de hoje são incríveis , mas perdemos muito sentimento no processo do trabalho em cima da obra. Temos mais “música passageira” do que “clássicos”.

Ká entre Nós: Falávamos no facebook sobre música independente. Quanto difícil é trabalhar, promover sua música longe das grandes gravadoras?
Jeremias Dillenburg:
Somos como formigas: pequenos e operários. Trabalhamos muito para poder gravar uma única música que for e utilizamos a divulgação do “boca a boca” ou “face to face” para apresentá-la ao público. É muito difícil fazer isso em meio a tanta informação, mas as pessoas que se identificam com a gente vão ajudando inconscientemente no processo. Além disso, já contamos com a ajuda de uma produtora musical, a Adriana Vargas, que empresaria a banda e assessora nossos passos.

Ká entre Nós: Qual o papel da internet na vida de uma banda independente?
Jeremias Dillenburg:
A internet é uma ferramenta de custo quase-zero muito acessível.  Nossa divulgação, por exemplo, é toda feita através do site  e das redes sociais, como o youtube e o facebook.  Atingimos um grande público em curto prazo.

Ká entre Nós: Você acha que é possível viver de música hoje? Esse é o plano de vocês?
Jeremias Dillenburg:
Acho que sempre foi possível viver de música, pois, como em todas as funções dentro de uma sociedade, é preciso de muito trabalho e dedicação para ser recompensado. O único “porém” também está ligado às outras profissões: COMO FAZER O QUE GOSTO, SER FELIZ E GANHAR DINHEIRO COM ISSO? Acredito que muita gente é obrigada a trabalhar com determinado tipo de música, principalmente a música comercial, só por dinheiro. A nossa banda ainda segue paralela com nossos empregos comuns, mas o sonho é viver da nossa música, da alegria de ver todos curtindo o nosso som do jeito que ele é.

Ká entre Nós: O que te inspira a compor? Quantas músicas você já compos?
Jeremias Dillenburg:
A minha inspiração vem de relacionamentos afetivos e do estilo de vida que almejo: correr sem pressa na areia de uma praia, sentir o vento no rosto em uma viagem, agradecer ás pessoas que amo todos os dias, surfar até cansar…enfim, felicidade nas coisas mais simples da vida. Já fiz muitas músicas, algumas até já estão perdidas no tempo. Com a banda, já temos música suficiente para o primeiro álbum.

Ká entre Nós: Quais são os planos, objetivos da banda? Mais festivais pela frente? Músicas novas?
Jeremias Dillenburg:
Nosso objetivo mais próximo é a gravação de um E.P. com cinco músicas. Estamos lançando nos próximos dias nossa primeira música gerada por gravação independente, totalmente caseira e numa versão folk. Fora isso, tocamos em bares e pretendemos participar de muitos festivais ainda, sempre buscando o aperfeiçoamento e o reconhecimento! ALOHA

Contatos da banda
www.twolouisandthejay.com
youtube.com/2louisjay
facebook.com/TwoLouisandtheJay

Folha de S. Paulo e a entrevista de Leonardo Boff não publicada

lboffLeonardo Boff, concedeu uma entrevista à jornalista Patricia Britto, da Folha de S. Paulo. O trabalho foi publicado dia 15 de fevereiro, às 05h30 e está disponível neste link com o título Igreja precisa de pontífice ‘mais pastor que professor’, diz Leonardo Boff.

Hoje, às 16h16, horário de Brasília, recebi uma longa entrevista do teólogo à disposição em meu e-mail. No início do documento consta a seguinte mensagem do próprio teólogo. “Dei generosamente uma entrevista à Folha de São Paulo que quase não aproveitou nada do que disse e escrevi. Então publico a entrevista inteira aqui no blog para reflexão e discussão entre os interessados pelas coisas da Igreja Católica. As perguntas foram reordenadas: Lboff”.

Aos interessados em ler a entrevista, ela está disponível no blog no teólogo. Aos leitores, vale lembrar que independentemente do teor da entrevista (e aqui não estou julgando o jornal, a réporter ou o entrevistado) é muito comum não serem publicadas entrevistas na íntegra, e os motivos são diversos e não se excluem (falta de vontade, interesse, espaço, tempo…).

Por ser Leonardo Boff e um tema que muito me interessa e penso que também aos leitores do Ká entre Nós, reforço o convite à leitura aqui.

Lincoln, política, poder e liberdade

Lincolnnytimes.com_Chego em casa depois de caminhar umas 4 milhas. Foi uma longa caminhada, cerca de 7 quilômetros, voltando de uma tarde de cinema. Na verdade voltando de uma aula de atuação de Daniel Day-Lewis. Não sou crítica de cinema, já arrisquei há alguns anos fazê-lo em curtas metragens, todavia… a tela do cinema hoje se transformou em palco e fez meu caminhar de volta para casa mais reflexivo.

O filme:  Lincoln de Steven Spielberg é baseado no livro Team of Rivals: The Genius of Abraham Lincoln (sem tradução para o português), da historiadora Doris Kearns Goodwin, premiada em 1995 com o Pulitzer pela biografia de Franklin Roosevelt (outro ex-presidente norte-americano). Com iluminação e fotografias que te levam ao século 19, o filme retrata os últimos quatro meses de vida do presidente que aprovou a emenda que aboliu a escravidão no país, em 1865.

Spielberg concentra seu olhar e agora o nosso nos gabinetes no poder. É por detrás da fumaça do tabaco que acontecem as negociações, a barganhas de votos por cargos pelos votos dos democratas no Senado americano. Isso no século 19. Entre um diálogo e outro de Lincoln, me lembro do Congresso Nacional Brasileiro. E Não preciso me alongar no motivo…

O detalhe interessante é que o presidente Lincoln era republicano, um partido conservador que não queria o fim da escravatura, já que esta sustentava a atividade econômica do sul do país naquele momento. O crescimento Sulista era baseado no liberalismo econômico que abria todo o mundo às agro-exportações e com mão-de-obra escrava (de origem africana) como base da produção.

No filme, o ator Daniel Day-Lewis, que o protagoniza, é tão extraordinário que nos faz acreditar no verdadeiro desejo presidencial de liberdade e igualdade para todos, o que contudo, é de certa maneira refutado não só pela biografia do presidente, quanto pelos historiadores.

“Lincoln se tornou um dos principais nomes do Partido Republicano, que havia sido fundado principalmente para se opor à escravidão e para ser uma espécie de porta-voz dos interesses industriais mais amplos nos Estados Unidos”, disse Arthur Ávila, doutor em História norte-americana e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), ao jornal Tribuna do Planalto.

Lincoln, explica o professor,  não era um radical, pois antes de chegar à presidência da República sempre se colocou como um anti-escravocata, e não como um abolicionista. A ideia dele era limitar a escravidão aos estados sulistas e impedir seu avanço para os estados do Norte. Ávila lembra ainda que o ex-presidente americano era contrário à expansão dos direitos civis aos negros, pois como a maioria dos homens brancos que viveram em sua época, não acreditava na igualdade entre as três raças.

Como imaginar que 140 anos depois, este país, que questionava a emancipação dos negros, o fim da escravidão e o voto feminino, conta hoje com Barack Obama à Presidência da República e reeleito e ainda, que Hilary Clinton, ex-secretária de Estado já apareça nas pesquisas como nome forte para 2016.

Vale a pena assistir o filme pela bela fotografia e iluminação reveladora. Pela história contada, conquistada e superada, pela emoção e sobretudo pela atuação de Daniel Day-Lewis.

Valeu a pena cada milha caminhada e refletida.

Fim de um capítulo bom

Nos últimos 2 anos e alguns meses registrei muitas e muitas histórias. Voltando às reportagens encontro alguns excessos, uma literatura meio rasa, observo em uns a falta de dados, em outros um anseio ingênuo por justiça. Letras que esperavam a maturidade desta Karla, no texto e na alma.

Visitando os inseparáveis bloquinhos de anotações – e só Deus sabe como consigo entendê-los – vejo também muitas vozes, de gente de toda sorte, cor, formação. Gente letrada, gente do povo, gente com teto, sem terra, preso, prostituta, mãe, padre, desembargador, índio, nigeriano, refugiado, gente com esperança, gente sem amanhã….

Em minhas pautas vi  desespero, fogo e morte, mas não nego: presenciei verdadeiros milagres, nascimentos, vida, Vitória! Segurei Vitória no colo e na verdade, ela permanece comigo, embora tenha virado uma estrela. Essa, talvez seja a maior graça de ser jornalista: trabalhar com a vida, que para mim é sim obra de Deus.

Ela, a vida, foi sem dúvida alguma criada para a experimentação. Assim como um texto que  surge, ambos precisam de objetivos, concatenação de ideias e também de certas divagações, de rascunhos e muita, muita borracha. No meu caso há necessidade de inspiração, transpiração e um bom par de óculos – exigência que me acompanha desde os 5 anos.

A minha vida de repórter no O SÃO PAULO foi assim de muita descoberta e muita borracha nos textos, nas perguntas e nas posturas. Aprendi ali, cercada por dois prêmios Vladmir Herzog, respirando a história recente desse país, respirando o Evangelho de Jesus Cristo, que acreditem os colegas ateus, é aula de cidadania, de humanidade.

Por isso, por tanto aprendizado, por tanto questionamento interno e alimentada pelas relações que nasceram ao longo desses anos com fontes e colegas de redação, que encerro esse capítulo feliz. Sou a mesma, talvez com mais perguntas, mas certa sim, de que muitas laudas me esperam para ouvir tantos e tantas outras pessoas, para tantas outras denúncias e boas histórias.

Aos colegas Daniel Gomes, Dudu Cruz, Edcarlos Bispo, Ellen, Elvira Freitas, Fernando Geronazzo, Izilda, Jovenal, Jucelene Rocha, Luciney Martins, Nayá Fernandes e Rafael Alberto o meu muito obrigada pelo convívio, pela troca, pelo carinho. Ao padre Antonio Aparecido Pereira e a Maria das Graças (Cassia) o meu mais profundo agradecimennto pelo voto de confiança, por apostarem em alguém que chegou com muito mais vontade do que prática jornalística.  A você que já me concedeu entrevistas e informações, que me confiou sua história, sua dor e indignação, o meu muito, muito obrigada.

Encerro esse tchau, lembrando que agora e ainda mais, nos veremos por aqui, no Ká entre Nós! É isso, frio na barriga, sonhos na cabeça e no coração, bloquinho na mão, é vida que segue.

Karla Maria

Esplendores do Vaticano estão no Ibirapuera

Foto: Karla Maria | Compasso de Michelangelo

Depois de 1,5 milhão de pessoas apreciarem a exposição “Esplendores do Vaticano: Uma Jornada Através da Fé e da Arte”, nos Estados Unidos, chegou a vez do público brasileiro. Pela primeira vez na América Latina, a exposição traz 200 obras do acervo do Vaticano.

Em coletiva de imprensa, dia 13, na OCA do Ibirapuera,  o curador, monsenhor Roberto Zagnoli, apresentou três das obras que estarão em exposição:  o Compasso de Michelangelo Buonarroti,  instrumento que auxiliou o artista a compor as figuras que estão desenhadas na Capela Sistina. O compasso data do século 17 e é feito de ferro.

“A Veronica de Guercino”, um retrato de Cristo com a coroa de espinhos, de Giovanni Francesco Barbieri e um dos “Dois Anjos”, da oficina de Gian Lorenzo Bernini, do século 17, também foram apresentadas aos jornalistas.

“É importante salientar que apesar de estarem sobre os cuidados do Vaticano, são obras que pertencem à humanidade e não falam de uma beleza estética dos objetos e sim da beleza divina que elas transmitem”, disse o curador, monsenhor  Zagnoli, que já trabalhou por 15 anos como diretor no Departamento de Etnologia dos Museus do Vaticano.

Para o padre italiano, a mostra é interessante do ponto de vista didático porque apresenta a história da Igreja passando desde o túmulo de Pedro até os últimos pontífices. “A exposição é um livro aberto para todos que vierem observá-la e nesse sentido foi toda estudada para que fosse acessível àqueles que não têm conhecimento sobre o tema, por isso, todas as obras poderão ser apreciadas também pelos jovens”, explicou.

Entre as 11 galerias e uma sala com projeção, destaque paras as obras de Michelangelo. Considerado um dos maiores criadores da história da arte Ocidental, o pintor e escultor italiano pode ser visitado na galeria 4. Nela, há uma reprodução da obra original “Pietà”, uma das esculturas mais renomadas da humanidade. Ainda nesta seção, o visitante, poderá experimentar uma imersão na Capela Sistina, passando por uma reprodução dos andaimes utilizados pelo artista para alcançar o teto da capela, com pouco mais de 20 metros.

Foto: Karla Maria | A Verônica de Guercino – Retrato de Cristo com a coroa de espinhos

A devoção ao apóstolo Pedro também ganha destaque. Na galeria 1, o visitante poderá ver uma apresentação do túmulo de São Pedro como foi encontrado, em 160 d.C., com um fragmento original da parede vermelha descoberto em 1941, com a inscrição  “Petros Eni”, do grego: Pedro está aqui. “Estas obras são muito importantes para a evangelização, porque falam da fé da humanidade, transmitem a fé. Essa exposição é de fato uma viagem através da arte”, disse frei Luis M. Cuna Ramos, arquivista do Vaticano e membro da Congregação para a Evangelização dos Povos.

Na galeria 9, o visitante se deparará com a linha sucessória de Pedro retratada por mosaicos, afrescos, pinturas, esculturas e por fim, fotografias. A galeria 11 é dedicada ao pontificado do papa João Paulo 2º (1978-2005). Nela há o busto em bronze do Beato e o molde da mão de João Paulo também em bronze, que pode ser tocado pelos visitantes e tem provocado momentos de intensa oração. A exposição segue até 23 de dezembro em São Paulo e parte para o Rio de Janeiro em 2013.

Serviço

“Esplendores do Vaticano: Uma Jornada Através da Fé e da Arte”
Período: de 21 de setembro até 23 de dezembro de 2012
Horários dea exposição: segunda à sexta-feira, das 10h às 20H (acesso até às 19h); sábados, domingos e feriados, das 9h às 19h (acesso até às 18h).
Local: Oca – Parque do Ibirapuera – SP (avenida Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 3.
Informações: http://www.esplendoresdovaticano.com.br, 4003-5588.
Preço dos ingressos: R$ 44,00, 1/2 entrada: R$ 22,00.

O bispo do Xingu

Texto: Karla Maria
Publicada Revista Família Cristã de julho/2012

Conhecido como Bispo do Xingu, dom Erwin Kräutler (foto), bispo da Prelazia do Xingu e  presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia: “Os cidadãos do Pará são tratados como cidadãos de segunda categoria”. À Revista Família Cristã, dom Erwin denuncia o “caos em Altamira”, resultado do início da construção da hidrelétrica de Belo Monte e dos impactos ambientais e sociais que vêm afetando a população ribeirinha e indígena. Destaca também a exploração sexual fomentada pela chegada de milhares de trabalhadores à região, a política indigenista no País e a presença e defesa dos povos indígenas, com respeito à cultura e por meio do diálogo inter-religioso.

FC – A construção de Belo Monte já começou. Qual o cenário?
Dom Erwin –
Altamira é um caos, por isso digo que somos desconsiderados, o governo usa a estratégia do fato consumado, quem grita é contra o progresso, quem se levanta não quer o desenvolvimento. Nem sequer as condicionantes previstas para serem cumpridas antes do início das obras foram cumpridas. As condicionantes de saneamento básico, de hospitais, de escolas, de segurança, de transporte, de habitação, nada disso ou quase nada aconteceu para que as obras começassem.

FC – Essa é a segunda grande migração desordenada de trabalhadores para o Pará (antes houve a exploração da Serra dos Carajás). Como o senhor avalia tal situação?
Dom Erwin –
O cidadão do Pará e do Xingu, de modo especial agora no contexto de Belo Monte, é tratado como cidadão de segunda categoria. Para nós sempre caiu e continua a cair as migalhas, e isso é um absurdo, porque o governo tem obrigação de, primeiro, ouvir a população local e de, segundo, dar o retorno para o que se arranca de lá. Eu pergunto, em que ponto melhorou educação, saúde, habitação, segurança, transportes no Pará, depois da exploração dia e noite da Serra dos Carajás? O que nós realmente recebemos em troca por Belo Monte, pelo que está sendo implantado? Nós recebemos nada mais, nada menos do que o caos.

FC – A Pastoral da Mulher Marginalizada realizou, em 2011, um seminário sobre o impacto de Belo Monte no aumento da prostituição e na exploração sexual em Altamira, o senhor já observa essa realidade?
Dom Erwin –
Altamira é um caos também nesse sentido, porque a prostituição hoje na região é em céu aberto, é terrível, e porque estão chegando milhares e milhares de homens e logicamente essas redes de prostituição, que pegam as meninas e não perguntam a idade que elas têm, as oferecem.

FC – Qual é a posição dos povos indígenas da região de Belo Monte?
Dom Erwin –
O índio não está a favor de Belo Monte, mas logicamente está a favor dos benefícios que vai receber. Para mitigar um pouco e para calar a boca dos índios, estão entupindo-os com dinheiro, benefícios de todo o tipo e jeito. Essa é uma forma de matá-los, é uma punhalada fatal no coração da cultura indígena e de sua própria organização social.

FC – O senhor sempre fez denúncias de conflitos na disputa de terras indígenas e por isso já sofreu ameaças de morte. O senhor continua andando com segurança militar?
Dom Erwin –
Há quase seis anos ando com segurança. Desde 29 de junho de 2006, estou sendo acompanhado por quatro PMs (Policiais Militares), se revezando, e não sei o que vai dar. Tenho impressão que vou levar isso até o final do meu mandato como bispo, porque eu não posso dizer que estou sendo ameaçado de novo, mas a situação agora, nesse contexto todo, é delicada.

FC – O senhor teve tratativas pessoais com o governo do então presidente Lula sobre a construção de Belo Monte? O que resultou delas? Como são as tratativas hoje, com a presidente Dilma Rousseff?
Dom Erwin –
Sim, em 2009, estive duas vezes com Lula, em 19 de março e 22 de julho. Hoje digo que o Lula mentiu para mim, porque ele, segurando-me nos braços, me disse, com todas as letras, “Olhe, nós não vamos empurrar a Belo Monte goela baixo”. E está acontecendo exatamente isso, um rolo compressor sobre nós, diálogo nunca teve. Só monólogo do governo. Até hoje quando falamos com instâncias governamentais, o governo constrói a pauta, se você coloca Belo Monte, eles mandam riscar, não tem conversa. A Dilma não conversa sobre isso, mesmo o Gilberto Carvalho (ministro da Secretaria-geral da Presidência da República), neste ponto nega o diálogo. Não fui mais lá, porque ele próprio disse que Belo Monte sairia de qualquer jeito, então o que vou conversar?

FC – Preocupação do governo…
Dom Erwin –
Não se preocupam conosco, o objetivo é desenvolvimento, simplesmente aumentar a renda, aumentar a exportação. Então, eu sustento o Pará para o resto do Brasil, para o Sul e Sudeste, para a capital federal é a província mineradora, a província madeireira, a província energética, última fronteira agrícola.

FC – Mas o diálogo teve que existir durante as audiências públicas…
Dom Erwin –
As audiências públicas foram só para inglês ver, foram uma mentira, uma encenação, um teatro vergonhoso. O povo realmente atingido não conseguiu se manifestar, e os índios não foram ouvidos, o que é previsto em constituição. Tem lei para isso, oitivas indígenas, tem que ser ouvido. Fez-me uma maquiagem, agora, uma mentira mil vezes repetida, não se torna uma verdade nunca.

FC – Como o senhor e o Conselho Indigenista Missionário avaliam a política indigenista no Brasil?
Dom Erwin –
Nada favorável aos povos indígenas, no fundo se entende o índio como estorvo, como obstáculo ao progresso. E isso não se pode falar abertamente. Nesse sistema neoliberal tudo vira mercadoria, não se tem mais um relacionamento de vida, temos que comprar, explorar e consumir. É a lei do lucro, e o índio não produz nesse sentido, então é considerado contra o progresso.

FC – O Cimi, o qual o senhor preside, completou 40 anos. Como acontece o trabalho nesse Conselho?
Dom Erwin –
O objetivo do Cimi é ser presença solidária. Não estamos com os povos indígenas para civilizar, como antigamente, nós estamos nos aproximando dos povos indígenas num profundo respeito à cultura e suas expressões culturais, de sua vida, com um profundo amor. Somos aliados a todos os povos indígenas, servidores desses povos, para que possam viver e sobreviver, tanto física, quanto culturalmente. A primeira coisa é a presença concreta, no chão da aldeia, e a segunda é a sensibilização da sociedade. Nossa função é conscientizar o povo brasileiro não indígena a respeito dos direitos dos povos indígenas e também a sociedade internacional.

FC – O Cimi respeita a cultura dos povos indígenas, e nisso está inclusa sua religiosidade. Como acontece nesse contexto a evangelização, há também tal objetivo?
Dom Erwin –
O que significa evangelizar? Porque há ideias de evangelização que para mim são reducionismos. Evangelizar de fato é anunciar a Boa Nova, não há dúvidas, anunciar Jesus Cristo, é anunciar aquilo em que acredito, mas não somente o anúncio verbal, mas também o testemunho de minha dedicação e abnegada doação da minha vida em favor dos povos indígenas.

FC – Como o senhor avalia a crítica sofrida por missionários de séculos anteriores, em relação aos métodos de evangelização?
Dom Erwin –
Não vou jogar pedras em missionários de séculos anteriores, era outra cultura, eles eram filhos de seu tempo, subjetivamente foram todos heróis, objetivamente falando desrespeitaram as culturas aborígenes. Isso temos que dizer com todas as letras. Hoje em dia, a Antropologia, a Psicologia, tudo isso evoluiu, estamos vendo a Ciência da Religião mostrar que os índios sempre tiveram religião, por isso precisamos trabalhar nas aldeias o diálogo inter-religioso.

Costa oeste americana revela mais que lindas paisagens

Big Sur, Califórnia (EUA)

O Ká entre Nós atravessou fronteiras e estas letras surgem da Califórnia (EUA). De férias, das ruas de São Paulo, estou com amigos na costa oeste americana. O roteiro – de Los Angeles a San Francisco e Las Vegas, tem revelado o rosto do californiano, um rosto plural, livre, rústico porém muito educado e muito, muito colorido.O roteiro tem revelado paisagens indescritíveis. Montanhas, praias, píers, casas, casinhas, mansões. E o que dizer desta costa… nas curvas da Big Sur, registrei mar, terra, céu, penhasco, gente, sol….a, o sol… o dia todo nos acompanhou na viagem, como que a observar o dia e que dia inesquecível.

Nas curvas da Big Sur descobrimos um país escondido por trás de preconceitos, revelado pelo cinema, mas não em sua totalidade. No horizonte, da janela do carro, ali ao longe, vë-se o encontro do Pacífico com o sol, e surge o som do vento, o momento do agradecimento, uma oração. São muitas as cidades, as histórias, fotografias, bandeiras, aventuras e postais.

Desde o dia 1 de julho já passamos por Los Angeles, Santa Monica, Malibu, Santa Barbara, Solvang, Morro Bay, San Luis Obispo, Carmel, Monterey. A Freway nos leva agora, dia 6, a San Francisco, totalizando 556km da nossa cidade de partida (Los Angeles).

É isso, to na estrada… de férias, e o melhor desse período não pode ser registrado em uma fotografia, ou mesmo em um post, fica na memória, nos sorrisos partilhados com os amigos e na vontade enorme de dividir tanta beleza vista, com quem a gente ama.

Em breve tem mais de San Francisco (CA).

Fotos da turma!!