E Talita estava ali na cadeia

Sentada com sua havaiana, camiseta branca e calça cáqui contando-me sobre sua longa história. Uma história que cabe num filme de aventura ou drama, temperada pelo desejo de recuperar aquilo que foi um dia. Contada com um fôlego e uma rapidez que me faz pensar que seria difícil mentir tanto e tão rápido.

Enquanto eu a entrevistava, uma outra jovem se aproximou de nossa conversa. Era Milena, que também responde processo por tráfico e associação ao tráfico.

Mas eu ainda estava com Talita. “Fui presa dia 22 de novembro, o meu avô faleceu em acidente de carro e minha avó não respondia mais as minhas cartas, porque já era minha quinta cadeia. Ela cansou e eu entendo”.

Ela lembrou, que nas primeiras cadeias, a avó se dividia para garantir o jumbo dela e do irmão que cumpria pena em São Bernardo do Campo.

“Na minha primeira cadeia ela trazia jumbo pra mim. Na segunda, ela me visitou um ano e quatro meses na penitenciária do Estado, me mandava jumbo via sedex. Na terceira cadeia ela já baqueou, falou pra mim que infelizmente eu tinha que sofrer um pouco”.

– Você concorda com ela? – Perguntei.

– Concordo sim.

“É um trampo muito grande para a minha avó. Ela tinha as despesas da casa, eu presa e o meu irmão preso. Foi um ano e quatro meses assim. Tinha vezes que ela ia ver meu irmão no sábado e eu no domingo. Ela puxou cadeia junto comigo. Fiquei quatro meses na terceira vez. Saí e nem fui em casa, fui direto para a Cracolândia”, disse de cabeça baixa, com as mãos agitadas.

Um trecho de meu livro, O Peso do Jumbo. Neste dia estava com Luciney Martins responsável pelas fotos, a quem agradeço os registros e apoio, sempre.

Você encontra meus livros na loja virtual da @editorapaulus e nas boas livrarias.

#opesodojumbo#prisão#mulheres#karlamariajornalista

à frente do seu tempo

Santa Dulce era uma mulher muito à frente de seu tempo. Nestes dias em que concedo muitas entrevistas sobre ela, em decorrência de sua Festa litúrgica no dia 13 de agosto, tenho refletido e reafirmado isso. O episódio a seguir demonstra que ela, imbuída por sua missão, não se deixa levar pelas avaliações inapropriadas da autoridade, do bispo, a quem também devia obediência. Quem duvida? Confira aqui.

Quer ler meu livro “Irmã Dulce, a santa brasileira que fez dos Pobres sua vida”? Acesse o site da minha casa editorial, a Paulus.

Você não vai se arrepender.

Conta Comigo

Começo a semana compartilhando com você minha participação no programa Conta Comigo da Rede Vida. Conversei com Dalcides sobre meu livro “O Peso do Jumbo, histórias de uma repórter de dentro e fora do cárcere” (Paulus Editora), e me alegrei pela abordagem com que meu colega conduziu a entrevista. De um modo humano e que certamente provocou seus telespectadores.

Assista, compartilhe, compre o livro... Amplie seu olhar sobre o sistema carcerário, sobre políticas de combate às drogas, posse de armas, segurança pública, maternidade, esperança… Sim, uma entrevista bonita e complexa, assim como este livro e tema que te apresento.

Comente aqui o que achou da entrevista.

Dias de correio são assim

Os dias de correio têm um ritual que me movimentam de um jeito único… desde o início da pandemia não encontro mais leitores pessoalmente, então faço desse momento de venda e dedicatória do livro, um momento de encontro, especial mesmo.

Busco um café quentinho. Hoje está bem cremoso. Sento no sofá e em seu braço, apoio a pequena pilha de livros. Um a um vou abrindo e relendo frases que escrevi em outros tempos. Tenho frio na barriga. Uma alegria boba encontrada entre um silêncio e outro.

Naquele sofá, onde a luz banha-nos de energia, escrevo cada uma das dedicatórias pensando em seu portador. Portadora na maioria das vezes. Acho o momento tão solene, que antes eu mesma faço minhas unhas, juro e rio de mim mesma.

Encaixo o marca-páginas com saudades da Rê, quem faz tudo o que há de bonito que acompanha as minhas palavras. E pronto, envelope, endereço e rua.

Máscara, alcool em gel e prudência até a agência do Correio, lá no centro de Guarulhos. Cruzo a praça Getúlio Vargas, cumprimento os que por ali vivem e fila.

As filas revelam traços interessantes do brasileiro, como a dificuldade de respeitar o distanciamento. O chão está marcado, mas é ignorado. Ô, povo, carente… antes fosse só de contato humano.

Nos guichês, os sorrisos são conhecidos. Eles sabem que ali estão meus livros e tratam os envelopes com cuidado. Observo. E assim, eles seguem seu percurso até os olhos, a vida de alguém.

Dias de correio são quase sempre assim… 😉
Se quiser meu terceiro livro, O Peso do Jumbo, eu os tenho aqui. Me avise, que terei o prazer em fazer sua dedicatória e enviá-lo ainda hoje.

#opesodojumbo #karlamariajornalista #correios #dedicatórias #livros

O começo de um livro

Minha ideia de escrever o livro O Peso do Jumbo surgiu após eu sentir o impacto que o livro Mulheres Extraordinárias tinha gerado nas pessoas. Admito.

Foi incrível viajar pelo país e ver as mulheres se identificando com as histórias e debatendo temas que são tão nossos como a violência doméstica, o controle, a inexistência, a violência do Estado em nossas vidas, a depender do tema… nossas relações amorosas, nossas inspirações, sonhos e lutas .

Tanto as linhas que escrevi nesse livro, quanto os encontros que elas me provocaram mexeram demais comigo.

Ao ver e sentir o impacto do livro de estreia, decidi propor a Paulus Editora que apresentássemos o sistema carcerário de um jeito humano, responsável e real para meus leitores, que envolvesse todos os seus atores, desde aquele e aquela que cumpre pena até o juiz que a sentencia.

Eu precisava cumprir minha função como jornalista, e de um modo desafiador que eu passara a experimentar: os livros.

Meu objetivo foi e é dar luz a uma questão tão ligada à segurança pública, ao tráfico de drogas, às facções criminosas, ao papel da imprensa na formação de consensos e do imaginário nosso sobre “bandido bom é bandido morto”.

Escrevi o livro norteada pelos passos de dona Lúcia, mãe de uma jovem presa por tráfico. Ela estava presa sem grades.

Lúcia me ensinou, assim como tantos outros e outras entrevistadas, e está tudo aí. E juro, que ao entregar esse livro, depois de 1 ano e sete meses escrevendo, tirei um peso das costas, mas não da alma.

Um peso que carrego desde a primeira vez que pisei em um presídio com pouco mais de 20 anos pelas mãos da Pastoral Carcerária Padre Macedo da Brasilândia.

Eu me coloquei no lugar daquelas pessoas e pensei como eu sairia do presídio sendo tratada como tudo, menos gente. Quais as consequências disso para a sociedade brasileira. O que é a justiça? O que são os direitos humanos? E a dor? A falta de humanidade de quem comete um crime?

Senti raiva. Perdi a esperança. Conheci as regras do crime. A omissão e o fracasso do Estado.

Mas encontrei esperança. Juro. O resultado está aí. Em detalhes, com cuidado, respeito e dedicação.

Você encontra meus livros no site da Paulus ou comigo 😉

#opesodojumbo #karlamariajornalista

Qual a sua narrativa de combate a covid-19?

No momento em que escrevo estas palavras, o Ministério da Saúde revela, a partir de informações das secretarias estaduais de saúde, que 5.901 pessoas morreram no país vítimas do covid-19. Dados de 30 de abril às 16h50. São 85.380 casos confirmados e quase 50% deles estão localizados na região sudeste do país, que compreende os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais.

Só no Estado de São Paulo são 2.375 óbitos e uma ocupação dos leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) chegou a 89%, elevando a pressão sobre o sistema na região a um nível que o governo decidiu enviar os pacientes graves para tratamento no interior do estado. Os números poderiam ser piores não fosse o isolamento social adotado pela população.

Há contudo, uma tendência em afrouxamento deste isolamento, muito incentivada pelo comportamento e falas do presidente da República, que continua contrariando a Ciência e desobedecendo orientações da Organização Mundial da Saúde. Tal constatação é de um estudo ainda em andamento de economistas da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas) e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Os pesquisadores usaram dados de geolocalização de celulares para comparar as variações no índice de isolamento em municípios brasileiros pró ou anti-Bolsonaro, classificados de acordo com os resultados das eleições de 2018, cota o jornalista Bruno Fávero. Na pesquisa, os economistas descobriram que os níveis de adesão às quarentenas dos dois grupos são parecidos na maior parte do tempo, mas caíram em cidades bolsonaristas depois de duas falas do presidente, em 15 e 24 de março, em que ele criticou enfaticamente medidas de distanciamento.

O então candidato do PSL, Jair Bolsonaro, venceu em 631 das 645 cidades do estado de São Paulo no 2º turno das eleições de 2018. Fernando Haddad (PT) ganhou em apenas 14 municípios.

#EmCasa
É portanto, diante deste cenário possível aumento da tensão no SUS, do aumento de mortes e da necessidade de isolamento social que iniciativas de solidariedade brotam nas periferias e nas redes sociais para ajudar a atravessar física e emocionalmente esta quarentena.

Informar, formar, entreter e inspirar são objetivos de diversas entidades, grupos e associações neste momento, e da Editora Paulus também, que me convidou para um bate-papo sobre o processo de criação de meus livros, que são reportagens de fôlego com caminhos bem peculiares.

Nesta conversa falo da minha quarentena, da perda do meu avô (ainda escreverei sobre a despedida em momento de quarentena). Levanto a bandeira do uso da máscara e peço para que se você pode, fique em casa, lembrando que nem sempre eu posso também já que engrosso a fileira dos desempregados formais. Quando preciso ir à ruas vou com todos os cuidados para evitar a transmissão do covid-19. Faça você o mesmo. Confere aqui meu bate-papo.

Aniversário de 1 ano, a gente não esquece

aniversárioO livro Mulheres Extraordinárias completou um ano nas prateleiras de nossas livrarias e estantes pelo país. Tenho um orgulho gigante desse movimento que começou com minhas andanças e reportagens e se tornou uma obra de jornalismo literário que dialoga com as mulheres e os homens sensíveis aos dilemas e durezas de nosso dia a dia.

Na última sexta-feira, 9, estive na Livraria da Paulus na Vila Mariana, em São Paulo, para bater um papo com alguns leitores e foi uma experiência muito intensa. Mulheres e homens de diferentes gerações se reuniram para falar de empatia, o poder da educação e da sororidade nas nossas vidas. Falar do papel da mulher e chegamos às nossas avós. Teve emoção.

Dei-me conta do quanto é importante a qualidade dos encontros, do ouvir, do fazer bem aquilo que se faz, do olhar no olhar. Por isso, agradeço a você que enfrentou o trânsito daquela sexta-feira para estar comigo, foi tão importante quanto estar com Ronnie Von, na quarta-feira anterior. A televisão ainda tem um poder de alcance que poucos podemos mensurar e sim fui reconhecida na rua e isso já me assustou positivamente.

Estar um ano com o livro por aí, pelo país, estimulando debates, discussões, confissões, lágrimas, reencontros, empoderamento feminino sim com toda a força que essa palavra tem, é das coisas mais maravilhosas que já pude vivenciar em minha vida. Por isso fica o agradecimento a quem acreditou, porque muitos não acreditaram e ainda torcem contra, o que é um desperdício de energia absurdo.

Obrigada Claudiano Avelino por acreditar naquilo que nem eu acreditava. Obrigada, Paulus Editora. Quero continuar por aí encontrando e conversando com mais homens e mulheres para que o jornalismo a serviço da vida continue alcançando mais e mais pessoas para que o desconhecimento e/ou a desinformação que geram ignorância e violência percam espaço para o conhecimento, a admiração, a empatia.

Obrigada a cada livraria, associação, faculdade, clube de leitura, parente, amigos e amigas, colegas jornalistas que possibilitaram esses encontros literários, encontros de vida, que mudaram minha percepção em vários aspectos. É uma força que me move, tanto que já estou escrevendo meu segundo livro, que será tema para este blog mais para o futuro.

O livro Mulheres Extraordinárias continua à venda nas livrarias da Paulus, Saraiva, Amazon, nas versões impressa e e-book.