Tráfico de pessoas, trabalho escravo, conflito de terra são temas de debate para Igreja da Amazônia Legal

dorothyHá poucos dias fui comunicada de que farei uma cobertura na Amazônia, cobrirei o 1. Encontro da Igreja [Católica] na Amazônia Legal. Será em Manaus (AM), Estado que nunca pisei, calor que nunca senti, com sabores ainda a serem descobertos. O objetivo do encontro é que os bispos, padres, missionários, agentes das pastorais compartilhem as iniciativas de atuação que vem realizando na região.

Além da partilha das ações para a evangelização, há a partilha daquilo que é feito na defesa da dignidade humana de diversas formas: denúncia do trabalho escravo de crianças, da exploração sexual de mulheres, do descompasso dos centros urbanos tendo em vista os impactos de obras federais, da fome, do abandono do Estado, dos conflitos de terra indígenas e de conservação do meio ambiente.

Denúncias estas, trabalhos estes retribuídos com ameaças de morte. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, atualmente 295 pessoas, entre elas dom Pedro Casaldáliga, estão ameaçadas de morte, 199, ou 67% delas, encontram-se na Amazônia Legal. Irmã Dorothy Mae Stang era uma religiosa norteamericana naturalizada brasileira. Estava desde a década de 1970 junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Trabalhava para minimizar os conflitos fundiários na região, recebeu diversas ameaças, mas mantinha-se firme. “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.

Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005. Em 2011, o casal de seringueiros João Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo também foram assassinados. Dom Erwin Krautler, o bispo do Xingu esta ameaçado, dom José Luíz Ascona, o bispo da Ilha de Marajó também. Os religiosos frei Gilvander Luís Moreira e Henriqueta Cavalcante também estão ameaçados de morte, entre tantos outros homens e mulheres.

A dignidade humana ferida na Amazônia – No Regional Noroeste, que compreende os Estados do Acre, Sul do Amazonas e Rondônia, a preocupação está no impacto que os grandes projetos do governo federal e as Pequenas Centrais Hidrelétricas estão gerando aos centros urbanos: exploração sexual, impactos às comunidades tradicionais, ribeirinhas e ao meio ambiente.Os conflitos de terra também estão presentes.

No Norte 1, que compreende o Norte do Amazonas e Roraima, há a preocupação com a acolhida a imigrantes haitianos, com as populações tradicionais e ribeirinhas, com os povos indígenas da Raposa Serra do Sol. Já no Regional Norte 2, nos estados do Amapá e Pará, bispos, religiosos e agentes de pastoral estão ameaçados de morte por denunciarem o tráfico internacional de mulheres, o trabalho escravo em usinas de carvão, os conflitos e interesses em terras indígenas.

A pobreza, o tráfico de mulheres e o trabalho escravo também estão presentes nos regionais centro Oeste, que compreende parte do Tocantins, Goiás e Distrito Federal e Oeste 2, a outra parte do Tocantins e Mato Grosso; e no Nordeste 5, o Maranhão, que atualmente é o penúltimo Indíce de Desenvolvimento Humano (IDH) do País.

Qual a ação da Igreja Católica diante destes fatos?

“Expressamos nossa gratidão ao Deus da vida, não obstante nossas fragilidades, nossa Igreja tem anunciado Jesus Cristo ressuscitado, caminho, verdade e vida e tem marcado presença junto ao povo sofrido, sendo muitas vezes a voz dos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros e migrantes, nas periferias e em novos ambientes dos centros urbanos animando as comunidades na reivindicação do respeito pela sua história e religiosidade.

É também a vida destes povos, seu modo de viver, sua simplicidade, seu protagonismo, sua fé que nos encantam! Não faltou o testemunho de entrega da própria vida até o derramamento de sangue. Este testemunho nos anima, nos encoraja e nos fortalece. São também protagonistas religiosos e religiosas, pastorais, movimentos e serviços que tem sido uma força viva e atuante na realidade das nossas comunidades. ‘Cristo aponta para a Amazônia’ lembrava o Papa Paulo VI aos bispos da Amazônia por ocasião de seu encontro em Santarém, de 24 a 30 de maio de 1972, marco indelével na história da Igreja desta grande região brasileira, habitada por povos de culturas e tradições tão diferenciadas do outro Brasil”.

Este é um trecho da carta publicada em Julho de 2012, na celebração final do 10º Encontro da Igreja na Amazônia, realizada em Santarém (PA).

Colaborou Osnilda Lima, da Revista Família Cristã, Com quem trabalharei na cobertura destes temas, na Amazônia. Bora Lá.

às margens da estrada e da história

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Foto Karla Maria I BR 290 – Acampamento Arroio Divisa

Em maio, estive cortando as estradas do Rio Grande do Sul para realizar reportagens que mexem com a história daquela povo, com a história que construiu e garantiu o jeito peculiar de ser do gaúcho.

Uma reportagem especial, que acaba de ser publicada na edição impressa da Revista Família Cristã, traz a situação de três acampamentos indígenas dos Guarani M’bya, às margens das rodovias RS 040, BR 116 e BR 290. Um contexto de extrema pobreza e abandono dos poderes públicos.

Convido os leitores a desvirem o olhar a estes povos, cerca de 36 mil brasileiros e brasileiras que vivem no estado gaúcho.

Foto de Guilherme Klein I dona Joventina e a repórter
Foto de Guilherme Klein I dona Joventina e a repórter

Também para a Revista Família Crista, desta vez para sua página eletrônica, estive em Espumoso, cidade à 5 horas de ônibus de Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul.

Ali, conheci dona Joventina, uma senhora centenária, que traz em seu olhar, parte da história do Brasil e das consequências insuperáveis causadas pela escravidão.

Fica o convite para as leituras do texto, das fotos e do vídeo, que irão dizer mais do que minhas perseverantes palavras.

Reciclando vidas

As jornalistas Renata Moraes e Yara Almeida decidiram em trabalho de conclusão do curso de graduação na FIAM FAAM, em São Paulo, tratar do tema Reciclagem. A ideia inicial era apontar a falta de políticas públicas em torno dos resíduos sólidos e suas consequências, como os lixões e aterros sanitários, que hoje, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE, são o destino de 27%  dos resíduos sólidos das cidades brasileiras.O tema, no entanto, percorreu outro caminho. “Em uma conversa com o nosso professor  Cláudio Tognolli, ele nos contou sobre o trabalho da OAF, com a reinserção social  por meio das cooperativas de reciclagem. Desde então, nos apaixonamos pelo tema, e pelas histórias das pessoas que conhecemos em todas as cooperativas”, disse Renata Moraes, e então, da reciclagem da matéria, dos resíduos sólidos, as jornalistas passaram para a reciclagem de vidas.Na entrevista, a seguir, a jornalista fala da importância do trabalho de instituições não govenamentais no acolhimento das pessoas em situação de vulnerabilidade social e da situação das políticas públicas em torno da reciclagem dos resíduos e também da vida das pessoas. O resultado do trabalho, você confere no vídeo publicado nesta página.Ká entre Nós: Por que decidiram trabalhar com esse tema?
Renata Moraes: Inicialmente quando decidimos nos juntar para fazer o nosso TCC, queríamos algum tema que fosse de comum interesse, de preferência algo como temas sociais, que sempre foram minha paixão durante a faculdade.
Escolhemos o tema da Reciclagem  e íamos  trabalhar com lixões e aterros sanitários. Mas em uma conversa com o nosso professor  Cláudio Tognolli, eles nos contou sobre o trabalho da OAF, com a reinserção social  por meio das cooperativas de reciclagem. Desde então nos apaixonamos pelo tema, e pelas histórias das pessoas que conhecemos em todas as cooperativas.
Ká entre Nós: Qual a avaliação que vocês fazem, a partir deste trabalho, das políticas públicas em SP voltadas para:
A- Acolhimento e reinserção das pessoas moradoras em situação de rua?
Renata Moraes: Baseada em nossa pesquisa de campo, para realizar a gravação do nosso vídeo documentário, foi possível perceber que há pelo menos dez anos em que as pessoas em situação de rua ou em risco social encontraram na reciclagem uma forma de serem reinseridas na sociedade. Uma forma de resgatarem sua dignidade, pois a maioria das pessoas que vivem em situação de rua chegou nesta situação devido o vício em drogas e álcool.A reciclagem chega como uma opção para aquelas pessoas que muitas vezes não possuem uma profissão. Principalmente no centro de São Paulo, que há uma grande quantidade de materiais que podem ser reciclados e a facilidade em encontrar esses materiais contribui bastante para que estas pessoas comecem a trabalhar com reciclagem.
B – O papel de entidades, como a OAF, no trabalho com os mais pobres, em situação de rua?
Renata Moraes: Entidades como OAF [OrganizaÇão de Auxílio Fraterno], Minha Rua Minha Casa, Coopamare, Recifran possuem um importante papel no trabalho com pessoas em situação de rua. Primeiramente que eles não oferecem apenas trabalho, emprego, mas oferecem a estas pessoas uma nova chance de recomeçar. Oferecem a eles a chance de reciclar suas vidas. Foi até este o título que escolhemos para o nosso TCC: Reciclando Vidas.As pessoas chegam nessas cooperativas um pouco que dilaceradas, cansadas, desacreditadas, semelhantes a pedacinhos de azulejos, e as cooperativas vêm como o rejunte, aquilo que vai juntar os cacos, os pedaços, como a reciclagem mesmo. O que é triste de se perceber, que a maioria destas entidades não possui o apoio financeiro da Prefeitura e do Estado. Das quatro cooperativas visitadas, nenhuma delas recebe este apoio. Apenas doações de empresas, associações e pessoas voluntárias. Tudo que é arrecado com a venda dos produtos reciclados é dividido entre os cooperados. Além de oferecer trabalho, estas cooperativas mostram a estas pessoas a importância social do trabalho de coleta seletiva, permitindo a valorização dos catadores. Eles são considerados agentes de transformação ambiental, contribuindo com o problema do lixo nas grandes cidades.

 

C – E sobre a reciclagem em SP? Qual a situação do município em relação à reciclagem?
Renata Moraes: Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, a cidade gera, em média, 18 mil toneladas de lixo diariamente (lixo residencial, de saúde, restos de feiras, podas de árvores, entulho etc.). Só de resíduos domiciliares são coletados quase 10 mil toneladas por dia. Porém deste total apenas 1,2% é recolhido para reaproveitamento por prefeituras e concessionárias Ecourbis e Loga.Segundo informações do site do Instituto Ressoar, estima-se que a quantidade de lixo produzida semanalmente por um ser humano é de aproximadamente 5 kg. O Brasil produz 240 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 88% deste lixo vai parar nos aterros sanitários. As cooperativas de reciclagem vêm crescendo rápido e podem ser encontradas nas grandes capitais e interior. Segundo dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), no final de 2006, em todo o país foram registrados 450 cooperativas formalizadas e aproximadamente 35 mil catadores cadastrados.Ká entre Nós: O que fica deste trabalho para a jornalista, Renata Moraes?

Renata Moraes: O mais gratificante de todo o trabalho foi ver e ouvir as histórias de pessoas que tiveram suas vidas resgatadas por meio do trabalho com a reciclagem do lixo. Vivenciei a alegria de ouvir delas que antes não tinham onde morar, o que comer, e que depois que conheceram o trabalho com a reciclagem, começaram a sonhar com uma vida nova.Tantos depoimentos daqueles que agora têm um teto, mesmo que seja em uma pensão, em um albergue, ou até mesmo uma oficina emprestada para morar. Que agora têm um salário, que podem comprar suas próprias roupas, seu alimento.

Também fica o questionamento do quanto, nós como população podemos contribuir com o problema da destinação correta do lixo em nossas cidades. Nos falta, muitas vezes, à educação ambiental, ensinar as pessoas a reciclar, não apenas pela contribuição ambiental, mas também por saber que o lixo que eu reciclo pode ajudar pessoas a sair da situação de rua a terem um futuro diferente, a voltar a ter a dignidade da pessoa humana.

Imprensa é impedida de cobrir ocupação em Belo Monte

CimiEm Vitória do Xingu (PA), os jornalistas Lunaé Parracho (fotógrafo da Agência Reuters), Ruy Sposati  (Conselho Indigenista Missionário) e François Cardona (correspondente da Radio France Internationale no Brasil) , e o deputado Padre Ton (PT-RO) foram impedidos de permaner no principal canteiro de construção da barragem de Belo Monte, o Sítio Belo Monte e isso porque a juíza Cristina Sandoval Collier da 4a. Vara Cível de Altamira concedeu pedido reintegração de posse contra não-indígenas que estivessem no canteiro.

Desde quinta-feira, 2, cerca de 200 indígenas dos rios Xingu, Tapajós e Teles Pires afetados pela construção de usinas hidrelétricas ocupam o maior canteiro dos quatro abertos para as obras de Belo Monte, no município de Vitória do Xingu (PA), a 50 quilômetros de Altamira. As informações e a foto são do jornalista Ruy Sposati, direto de Altamira (PA).

“Nós somos a gente que vive nos rios em que vocês querem construir barragens. Nós somos Munduruku, Juruna, Kayapó, Xipaya, Kuruaya, Asurini, Parakanã, Arara, pescadores e ribeirinhos. Nós somos da Amazônia e queremos ela em pé. Nós somos brasileiros. O rio é nosso supermercado. Nossos antepassados são mais antigos que Jesus Cristo”, dizem os indígenas em carta apresentada na data da ocupação e disponível aqui.

Na sexta-feira, 3, foi negado pela Justiça Federal o pedido de reintegração de posse da Norte Energia contra os indígenas que lá permanecem e exigem que as obras sejam suspensas até que eles sejam ouvidos pelo governo federal.

Por que jornalistas e um deputado não podem permanecer no canteiro de obras? Há algo para se esconder? No sábado, 4, os indígenas publicaram nova carta, intitulada Deixem os jornalistas aqui.  “A cobertura jornalística ajuda muito. Nós exigimos que a juíza retire o pedido de reintegração de posse, não aplique multas e permita que jornalistas, acadêmicos, voluntários e organizações possam continuar testemunhando o que nós passamos aqui, e ajudar a transmitir nossa voz para o mundo”.

Esclarecimento quanto à ordem de prisão de frei Gilvander

Nos últimos dias de março de 2013, diversas manifestações surgiram nas redes sociais em defesa do frei Gilvander Luís Moreira, padre carmelita, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e militante dos direitos humanos, que estaria respondendo a uma nova ordem judicial de prisão por ter veiculado o vídeo “O feijão de Unaí está envenenado? Fala de Edivânia, de Escola Municipal de Arinos, MG”.

Estive em contato com frei Gilvander para esclarecer a situação e ele enviou-me o texto abaixo, o qual publico na íntegra.

“Nos últimos dois dias, dias 01e 02 de abril de 2013, inúmeras pessoas me telefonaram ou enviaram mensagens preocupadas e solidárias querendo saber se havia nova ordem judicial de prisão contra minha pessoa. Não há. A ordem existente é de 29/10/2012, que não foi cumprida. Deixou o juizado Especial Cível da Comarca de Unaí, MG, o juiz Raphael Ferreira Moreira, o que concedeu liminar a favor da Torrefação e moagem Café Unaí Ltda (Empresa cerealista dona da marca Feijão Unaí), empresa denunciada em vídeo que postei no youtube.

O juiz Raphael também, em 29/10/2012, ordenou que dentro de 5 dias o Google e o youtube comprovassem a exclusão do youtube do Vídeo “O feijão de Unaí está envenenado? Fala de Edivânia, de Escola Municipal de Arinos, MG.” E ordenou que eu, frei Gilvander L. Moreira, não reinserisse o vídeo no youtube. Caso o vídeo não fosse retirado do youtube dentro de 5 dias, o juiz Rapfael ordenou prisão em flagrante por desobediência aos diretores do Google e youtube e à minha pessoa.

foto: rappadeangu.blogspot.com
foto: rappadeangu.blogspot.com

No final de dezembro de 2012, o juiz Raphael deixou a Comarca de Unaí. Com a saída do juiz do processo, agora o processo que a Empresa do Feijão Unaí e do Café Unaí moveu contra mim está nas mãos do juiz Dr. Fabrício Simão da Cunha Araújo, o responsável pelo Juizado Especial Cível de Unaí. Houve uma decisão em meados de março, mas ainda não publicada.

O Vídeo “O feijão de Unaí está envenenado? Fala de Edivânia, de Escola Municipal de Arinos, MG” foi excluído do youtube, mas várias pessoas já reinseriram o vídeo em seus canais no youtube. Entre elas Anonimous Brasil, deputado padre João (PT/MG), Bruno Cardoso (Direitos Humanos), Thecrachergamer, bergspot, TheanonimousMG etc. Quem está reinserindo o vídeo está lutando pelo direito de livre expressão e pelo direito a saúde pública e está reforçando a luta tão árdua, mas justa e necessária, contra os agrotóxicos e por alimentação saudável.

O meu site www.gilvander.org.br , pela terceira vez, foi raqueado e totalmente destruído da internet há uma semana. Um companheiro de luta está trabalhando na reconstrução do site www.gilvander.org.br . Em breve, esperamos recolocá-lo na internet novamente. Ainda bem que os textos que publico semanalmente no meu site também foram publicados em www.ecodebate.com.br , www.adital.com.br , www.brasildefato.com.br , www.unegro.org.br , www.cebsuai.org , www.racismoambiental.net.br , www.ihu.unisinos.br , www.sitraemg.org.br , www.cebi.org.br , www.blodoeulerconrado.blogspot.com.br e em outros sites e blogs que agora não me recordo.

Enfim, agradeço, de coração, a todos os que de alguma forma estão comprometidos com as lutas em defesa da dignidade humana, contra o uso dos agrotóxicos, pela produção de alimentos saudáveis e etc. Que a luta cresça e se torne de todos/as!
Abraço na luta. Frei Gilvander Moreira”

Ato em solidariedade a dom Pedro Casaldáliga dia 7 de fevereiro em SP

dom pedroDesde novembro de 2012, dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, vem recebendo ameaças de morte devido à sua luta pela devolução das terras batizadas como Marãiwatsédé aos índios da etnia Xavante. No início de dezembro, após a Justiça derrubar dois recursos que tentavam adiar a retirada dos não índios da região, agora chamada Gleba Suiá Missú, ele teve de se deslocar contra sua própria vontade para uma localidade não revelada para sua própria segurança.

Ainda assim, dom Pedro retornou em 29 de dezembro a São Félix, estando agora sob proteção policial. Porém, além de Casaldáliga, diversas lideranças indígenas e agentes da pastoral também estão sendo ameaçados desde que o Incra iniciou o processo de desintrusão da região. Em soloifdariedade ao bispo, pastorais e movimentos sociais farão um ato de solidariedade na Câmara Municipal de São Paulo, 7 de fevereiro (quinta-feira), às 19h, no Salão Nobre – 8º andar.

– Do Comitê de solidariedade a dom Pedro Casaldáliga e ao povo Xavante.

Leia a carta da comunidade Xavante de Marãiwatsédé à sociedade brasileira: http://goo.gl/AMr4V

18º Grito dos Excluídos questiona Estado e energia para quê e para quem?

Foto Luciney Martins | Coletiva em São Paulo sobre o Grito dos Excluídos

“Queremos um Estado a serviço da nação, que garanta direitos a toda a população”. Esse é o “grito”que percorrerá as ruas no próximo Dia da Pátria, 7 de setembro, em todo o Brasil. O anúncio foi feito em coletiva de imprensa, dia 30, por dom Guilherme Antônio Werlang, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na sede do Regional Sul 1 da CNBB, em São Paulo.

“Estamos percebendo que o Estado brasileiro está a serviço muito mais de interesses particulares do que de toda a nação, e o Grito quer dizer: nós somos a nação brasileira, mas o Estado não atende e não garante os direitos de toda a população”, afirmou dom Guilherme, que defende que as pessoas saíam às ruas e se mobilizem no Dia da Pátria.
Para o bispo, a sociedade civil precisa ser protagonista no processo verdadeiramente democrático e a mobilização é a arma a ser usada. “Vejamos a Lei da Ficha Limpa, anticorrupção, vejam o mensalão. Temos que lembrar que nenhuma dessas leis que está passando o Brasil a limpo, nasceu de dentro do Congresso Nacional, nasceu de iniciativas populares e são elas que estão fazendo o Brasil de fato mudar, por isso esse Grito é urgentíssimo”.

Para Paula Ribas, da Associação dos Moradores de Santa Efigênia, “o grito daquela região é contra a gentrificação no centro de São Paulo [expulsão dos pobres para enobrecimento do espaço urbano]. Temos prédios e prédios abandonados e os movinentos sociais estão reunidos para dar o uso social devido àqueles lugares”, afirma Paula, que mora na região há 37 anos.

Em janeiro deste ano, a Polícia Militar realizou a Operação Sufoco na Cracolândia, com o objetivo de oferecer tratamento aos dependentes químicos e acabar com os pontos de tráfico de drogas, mas segundo a moradora, de nada adiantou a operação. “Toda a intervenção que a polícia fez em janeiro não serviu para nada, o dependente químico não tem assistência nenhuma, só serviu para espalhar o problema”.

Outro grito em destaque nesta 18º edição são os impactos da construção da usina de Belo Monte, em Altamira, no Pará. O Grito dos Excluídos não aceita o projeto da construção da barragem e de outras obras do Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal. Iury Paulino, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) explicou o motivo. “Estamos discutindo energia elétrica para quê e para quem? À quem essa energia vai servir, os benefícios dela são para o conjunto da população brasileira? Não, Belo Monte nada mais é, do que um instrumento das corporações”, disse Iury, referindo-se às empresas presentes no consórcio Norte Energia, responsável pela Obra de barragens pelo Brasil: o grupo Eletrobras, as empresas Neoenergia, Cemig, Light, Vale e Sinobras, o grupo J Malucelli, os fundos de pensão Petros (Petrobras), Funcef e Cevix 3.

“O modelo energético brasileiro serve para sustentar esses negócios”, disse Iury. Questionado sobre a posição da CNBB diante da construção da Usina de Belo Monte, dom Guilherme ressaltou que entre os bispos há discordâncias. “A CNBB não tem uma posição única, porque há opiniões divergentes, mas defendemos o meio ambiente e apoiamos as manifestações, exigimos a transparência [na construção das barragens]”.

O bispo do Xingu

Texto: Karla Maria
Publicada Revista Família Cristã de julho/2012

Conhecido como Bispo do Xingu, dom Erwin Kräutler (foto), bispo da Prelazia do Xingu e  presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia: “Os cidadãos do Pará são tratados como cidadãos de segunda categoria”. À Revista Família Cristã, dom Erwin denuncia o “caos em Altamira”, resultado do início da construção da hidrelétrica de Belo Monte e dos impactos ambientais e sociais que vêm afetando a população ribeirinha e indígena. Destaca também a exploração sexual fomentada pela chegada de milhares de trabalhadores à região, a política indigenista no País e a presença e defesa dos povos indígenas, com respeito à cultura e por meio do diálogo inter-religioso.

FC – A construção de Belo Monte já começou. Qual o cenário?
Dom Erwin –
Altamira é um caos, por isso digo que somos desconsiderados, o governo usa a estratégia do fato consumado, quem grita é contra o progresso, quem se levanta não quer o desenvolvimento. Nem sequer as condicionantes previstas para serem cumpridas antes do início das obras foram cumpridas. As condicionantes de saneamento básico, de hospitais, de escolas, de segurança, de transporte, de habitação, nada disso ou quase nada aconteceu para que as obras começassem.

FC – Essa é a segunda grande migração desordenada de trabalhadores para o Pará (antes houve a exploração da Serra dos Carajás). Como o senhor avalia tal situação?
Dom Erwin –
O cidadão do Pará e do Xingu, de modo especial agora no contexto de Belo Monte, é tratado como cidadão de segunda categoria. Para nós sempre caiu e continua a cair as migalhas, e isso é um absurdo, porque o governo tem obrigação de, primeiro, ouvir a população local e de, segundo, dar o retorno para o que se arranca de lá. Eu pergunto, em que ponto melhorou educação, saúde, habitação, segurança, transportes no Pará, depois da exploração dia e noite da Serra dos Carajás? O que nós realmente recebemos em troca por Belo Monte, pelo que está sendo implantado? Nós recebemos nada mais, nada menos do que o caos.

FC – A Pastoral da Mulher Marginalizada realizou, em 2011, um seminário sobre o impacto de Belo Monte no aumento da prostituição e na exploração sexual em Altamira, o senhor já observa essa realidade?
Dom Erwin –
Altamira é um caos também nesse sentido, porque a prostituição hoje na região é em céu aberto, é terrível, e porque estão chegando milhares e milhares de homens e logicamente essas redes de prostituição, que pegam as meninas e não perguntam a idade que elas têm, as oferecem.

FC – Qual é a posição dos povos indígenas da região de Belo Monte?
Dom Erwin –
O índio não está a favor de Belo Monte, mas logicamente está a favor dos benefícios que vai receber. Para mitigar um pouco e para calar a boca dos índios, estão entupindo-os com dinheiro, benefícios de todo o tipo e jeito. Essa é uma forma de matá-los, é uma punhalada fatal no coração da cultura indígena e de sua própria organização social.

FC – O senhor sempre fez denúncias de conflitos na disputa de terras indígenas e por isso já sofreu ameaças de morte. O senhor continua andando com segurança militar?
Dom Erwin –
Há quase seis anos ando com segurança. Desde 29 de junho de 2006, estou sendo acompanhado por quatro PMs (Policiais Militares), se revezando, e não sei o que vai dar. Tenho impressão que vou levar isso até o final do meu mandato como bispo, porque eu não posso dizer que estou sendo ameaçado de novo, mas a situação agora, nesse contexto todo, é delicada.

FC – O senhor teve tratativas pessoais com o governo do então presidente Lula sobre a construção de Belo Monte? O que resultou delas? Como são as tratativas hoje, com a presidente Dilma Rousseff?
Dom Erwin –
Sim, em 2009, estive duas vezes com Lula, em 19 de março e 22 de julho. Hoje digo que o Lula mentiu para mim, porque ele, segurando-me nos braços, me disse, com todas as letras, “Olhe, nós não vamos empurrar a Belo Monte goela baixo”. E está acontecendo exatamente isso, um rolo compressor sobre nós, diálogo nunca teve. Só monólogo do governo. Até hoje quando falamos com instâncias governamentais, o governo constrói a pauta, se você coloca Belo Monte, eles mandam riscar, não tem conversa. A Dilma não conversa sobre isso, mesmo o Gilberto Carvalho (ministro da Secretaria-geral da Presidência da República), neste ponto nega o diálogo. Não fui mais lá, porque ele próprio disse que Belo Monte sairia de qualquer jeito, então o que vou conversar?

FC – Preocupação do governo…
Dom Erwin –
Não se preocupam conosco, o objetivo é desenvolvimento, simplesmente aumentar a renda, aumentar a exportação. Então, eu sustento o Pará para o resto do Brasil, para o Sul e Sudeste, para a capital federal é a província mineradora, a província madeireira, a província energética, última fronteira agrícola.

FC – Mas o diálogo teve que existir durante as audiências públicas…
Dom Erwin –
As audiências públicas foram só para inglês ver, foram uma mentira, uma encenação, um teatro vergonhoso. O povo realmente atingido não conseguiu se manifestar, e os índios não foram ouvidos, o que é previsto em constituição. Tem lei para isso, oitivas indígenas, tem que ser ouvido. Fez-me uma maquiagem, agora, uma mentira mil vezes repetida, não se torna uma verdade nunca.

FC – Como o senhor e o Conselho Indigenista Missionário avaliam a política indigenista no Brasil?
Dom Erwin –
Nada favorável aos povos indígenas, no fundo se entende o índio como estorvo, como obstáculo ao progresso. E isso não se pode falar abertamente. Nesse sistema neoliberal tudo vira mercadoria, não se tem mais um relacionamento de vida, temos que comprar, explorar e consumir. É a lei do lucro, e o índio não produz nesse sentido, então é considerado contra o progresso.

FC – O Cimi, o qual o senhor preside, completou 40 anos. Como acontece o trabalho nesse Conselho?
Dom Erwin –
O objetivo do Cimi é ser presença solidária. Não estamos com os povos indígenas para civilizar, como antigamente, nós estamos nos aproximando dos povos indígenas num profundo respeito à cultura e suas expressões culturais, de sua vida, com um profundo amor. Somos aliados a todos os povos indígenas, servidores desses povos, para que possam viver e sobreviver, tanto física, quanto culturalmente. A primeira coisa é a presença concreta, no chão da aldeia, e a segunda é a sensibilização da sociedade. Nossa função é conscientizar o povo brasileiro não indígena a respeito dos direitos dos povos indígenas e também a sociedade internacional.

FC – O Cimi respeita a cultura dos povos indígenas, e nisso está inclusa sua religiosidade. Como acontece nesse contexto a evangelização, há também tal objetivo?
Dom Erwin –
O que significa evangelizar? Porque há ideias de evangelização que para mim são reducionismos. Evangelizar de fato é anunciar a Boa Nova, não há dúvidas, anunciar Jesus Cristo, é anunciar aquilo em que acredito, mas não somente o anúncio verbal, mas também o testemunho de minha dedicação e abnegada doação da minha vida em favor dos povos indígenas.

FC – Como o senhor avalia a crítica sofrida por missionários de séculos anteriores, em relação aos métodos de evangelização?
Dom Erwin –
Não vou jogar pedras em missionários de séculos anteriores, era outra cultura, eles eram filhos de seu tempo, subjetivamente foram todos heróis, objetivamente falando desrespeitaram as culturas aborígenes. Isso temos que dizer com todas as letras. Hoje em dia, a Antropologia, a Psicologia, tudo isso evoluiu, estamos vendo a Ciência da Religião mostrar que os índios sempre tiveram religião, por isso precisamos trabalhar nas aldeias o diálogo inter-religioso.

Indígenas em SP esperam saneamento e banheiros há 19 meses

Em agosto de 2010, o O SÃO PAULO esteve na aldeia guarani Kwarãy Djekupé no Jaraguá e denunciou as precárias condições de vida dos cerca de 600 indígenas que ali viviam; 19 meses depois, as violações continuam: faltam banheiros e saneamento básico, sobram crianças doentes, fossas e descaso público.

A Comunidade Indígena está dividida em duas aldeias: a Tekoa Ytu (conhecida como aldeia de baixo), e a aldeia Tekoa Pyau (conhecida como aldeia de cima). A equipe de reportagem acompanhou em 2010, a visita da Defensora Pública do Estado, Tatiana Belois Vieira, à aldeia de cima, e lá constatou-se a  necessidade urgente de saneamento básico e a continuação das obras de 23 banheiros, que ainda hoje não funcionam.

Cortada pela Estrada Turística do Jaraguá, as aldeias contam com uma Unidade Básica de Saúde (UBS), nele um clínico geral, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem, três agentes indígenas de saúde e um dentista atendem a população, hoje de 123 famílias, cerca de 580 pessoas. “Temos este postinho  de saúde, mas falta medicamentos. Quando as crianças ficam com diarreia, pneumonia, bronquite, o médico prescreve o medicamento, mas nós não recebemos, temos que procurar em outros postos”, disse um dos líderes da aldeia, Maurício Popigua, 37 anos.

Para a professora Poty Porã, 34 anos, o problema de saúde das crianças está ligado à falta de saneamento. “Meus alunos tem muitos problemas de pele: feridas, furúnculos, isso porque elas brincam com a terra poluída. Falta saneamento básico, nós não temos esgoto, existe fossa séptica só na escola, mas as casas não têm”. Poty Porã, a Flor Bonita, educa seus alunos à prevenção. No intervalo da aula, após o lanche, ajuda seus 18 alunos do 2º ano a escovarem os dentes. “Escovamos os dentes das crianças todos os dias, cada professora tem o seu horário, porque quando ora todo mundo junto era muita bagunça. Elas [as crianças] já tiveram uma melhora na saúde local”, disse Poty que realiza anualmente o papanicolau na própria UBS.

“A gente quer ter um área boa, a cidade diz que o indígena está chegando, mas na verdade é a cidade que está encurralando a nossa aldeia, e não tem como fazer.  Vocês tão vendo as nossas casinhas, nós vivíamos em paz, caçávamos, nos alimentávamos da mata, agora aqui no meio da cidade, cumprimos e respeitamos as leis, mas não somos respeitados”, disse Natalício de Souza, que há 12 anos vive na aldeia com sua família.

A saúde integral do povo indígena está intimamente ligada à sua relação com a terra, e a situação instável da aldeia ainda sem demarcação, afeta diretamente à dignidade dessa população. “Vivemos como um passarinho dentro da gaiola, nós perdemos tudo, nós não temos mais espaço, nossa liberdade”, disse Aloízio Gabriel Tupan, 55 anos, casado com seus oito filhos. As famílias vivem de modo precário em pouco mais de três hectares.”Antes éramos alegres, vivos, e hoje vivemos só de lembrança e saudade. É uma tristeza que vem junto com a falta de terra, se tivéssemos uma terra boa, com água, rio pra nadar e pescar, teríamos vida”, disse Tupan.

Brasil ainda descumpre direitos humanos

Relatório lançado dia 8, aponta que 7° economia do mundo ainda não garante o direito de seus cidadãos

Cacique Faride, guarani kaiowá é homenageado em lançamento do Relatório de Direitos Humanos / Foto de Luciney Martios

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 10 de dezembro de 1948, em Paris, impulsionou mudanças na sociedade, quebrou paradigmas, estabeleceu que todos os seres humanos “sem distinção alguma de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de qualquer outro tipo, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição”, tivessem seus direitos reconhecidos; 63 anos depois, a humanidade está longe de garantir os direitos de todos.
No Brasil, a Rede Social de Justiça e Direitos Humanos apresenta o Relatório de Direitos Humanos; em sua 12° edição, com um panorama dos direitos humanos no país. O lançamento aconteceu dia 8, no Sesc Consolação, no centro da capital e reuniu representantes, militantes de diversas entidades em defesa dos direitos humanos.

O relatório oferecido gratuitamente e disponível no site http://www.social.org.br consta de 28 artigos que tratam de temas como política agrária, segurança pública, direito ao trabalho, à educação, à habitação, direitos das comunidades indígenas e quilombolas, questões raciais e de gênero. “O relatório aponta as mais importantes violações dos direitos humanos e orienta a luta dos movimentos. Nele [relatório], há artigos analíticos que procuram também apontar a causa dessas violações e muitas vezes apontar mecanismos para a solução desses problemas”, lembrou Aton Fon Filho, diretor da Rede Social.

Durante o lançamento, Maria Augusta Capistrano, que militou contra a ditadura militar e esposa de Davi Capistrano, foi homenageada. O cacique Faride Mariano de Lima, guarani kaiowá, membro do Conselho da Aty Guasu, também recebeu homenagem por liderar a resistência na aldeia Indígena Laranjeira Nhanderude, localizada no município de Rio Brilhante (MS). “Nós estamos sendo perseguidos pelos pistoleiros, pelos fazendeiros. Hoje estou aqui com vocês, mas querem me matar, porque eu estou denunciando a violência com o nosso povo”, disse o cacique ao receber a placa em sua homenagem, e continuou: “estamos cercados pelos fazendeiros, somos 150 vivendo em 25 hectares”, o equivalente a 3,5 campos de futebol do Pacaembu, enquanto sua terra original equivalia a 450 hectares.

No Brasil, das 1.023 terras indígenas existentes, apenas 360 estão regularizadas, 320 continuam sem nenhuma providência administrativa. Das terras que se encontram em processo de demarcação, 156 estão em fase de estudos, 27 estão identificadas, 60 obtiveram a portaria declaratória do Ministério da Justiça e 63 foram homologadas pela presidência.
Comunidades indígenas e quilombolas têm se organizado para reivindicar a posse das terras, o que têm gerado mais violência entre povos originários e fazendeiros. Segundo o relatório e baseado em dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 2011, 37 indígenas foram assassinados, sendo que destes, 26 só no Mato Grosso do Sul.

O relatório aponta, contudo, que a violência no campo se estende por todo o território; baseado nos dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o documento destaca: 1.855 pessoas foram ameaçadas de morte entre 2000 e 2010; 42 já foram assassinadas.

O documento destaca também a infração dos direitos da criança, apontando que em 2008, 4.452.301 crianças entre 5 e 17 anos já trabalhavam. Em 2009, o número baixou 0,41%, caindo para 4.250.401 crianças. Deste total, 122.679 tinham entre 5 e 9 anos, sendo que os estados de Rondônia, Acre, Piauí, Bahia e Ceará, concentravam a maioria dos pequenos trabalhadores.
Condições do trabalho no campo também foram avaliadas e revelou-se que o ganho do trabalhador caiu. Na década de 70, o trabalhador ganhava 2 reais, por tonelada de cana cortada, em 2005 o valor baixou para 0,86 centavos de real, isso dada à mecanização da produção no campo.

Publicado na edição 2880 de O SÃO PAULO