Liberdade pelo ar

Duas gerações em uma só busca: o encontro, a liberdade. “Espalhadas pelo Ar” é um filme, em essência, feminino; trata de mulheres e suas inquietações, presentes em todas nós. Entende-se o porquê da sutileza do filme ao conhecer sua diretora, Vera Egito, “menina” que resolveu transformar em imagens aquilo que um dia, em sua adolescência, surgiu em um papo com as amigas.

Cora, 30 anos, está numa prisão: vive uma crise em seu casamento, não tem liberdade para criar, para amar e nem fumar, afinal, o marido não gosta. É nesse contexto que flagra algumas meninas de seu prédio fumando na escada de serviço. As meninas fumavam apenas de lingerie, para não dar pista do “pequeno delito” em casa; às escondidas, as garotas espalhavam suas crises e vontades pelo ar.

O filme é pura poesia, não abusa do nu, o insinua. A fotografia é simples, correta, retrata essa busca da mulher, que ao longo da história se privou de emoções e sentimentos. Na pós-modernidade, ela valoriza sua vida, sua liberdade, sua profissão e seu corpo, sem deixar de responder ao chamado da natureza. Quando foi necessário, a mulher ajudou na guerra, protestou nas ruas, queimou o sutiã; estava em pauta a liberdade de ação e pensamento. Neste curta, as mulheres queimam o cigarro e espalham suas conquistas pelo ar. (Karla Maria)

“Espalhadas pelo Ar” está na Mostra Brasil 9

Sofia chora, eu também

Durante a sessão de “Sofia”, curta de Alexandre Franco, a protagonista de mesmo nome estava descontente com sua vida amorosa e eu, com o celular que tocou e permaneceu ligado durante a exibição, sem falar dos cochichos, em plena Cinemateca. Mas “Sofia” merecia atenção, então tentei me desligar da “vizinhança” e dialogar com o curta.

Não deu muito certo. Com um roteiro linear chato e cansativo, ele não apresentava novidades durante a exibição, nada acontecia. Alguns cortes foram feitos de maneira brusca e em certos momentos a câmera trepidou. A fotografia, sim, era linda e comunicava mais que o texto em si.

Mas como cinema é arte e arte é subjetividade, identidade e interpretação pessoal, quando há, convido a todos para que assistam ao curta e tragam novas reflexões e novos olhares. Diferentes deste meu olhar em formação.

Uma coisa “Sofia” me provocou: inquietação. Já não conseguia ficar na poltrona, naquela pasmaceira, sentindo sua solidão, sua vida sem graça e sem atitude. Descobri depois, no bate-papo com o diretor, que sua intenção com o filme era passar esse momento de “Sofia”, de solidão, tristeza, abandono. Acho que deu certo nesse sentido: a solidão me afetou. (Karla Maria)

“Sofia” está na Mostra Brasil 9

“El Deseo”

O que sente uma mulher aos 50 anos? Solidão, amor ou a falta dele, ondas de calor? Sente gratidão por sua família, netos, profissão, cachorro e marido? Essas respostas não precisam ser excluídas, todavia, o que a mulher aos 50 sente é desejo, pelo menos segundo o curta mexicano “El Deseo”.

Essa vontade de conseguir algo, a ânsia de satisfazer certos apetites, o impulso sexual: é disso que trata o curta, do desejo feminino em redescobrir sua sexualidade, redescobrir a si mesma. Ana, a protagonista, é uma mulher de beleza comum, tem sua casa e suas roupas comportadas. Certa manhã, vê seu marido partir sem retorno.

O curta consegue atravessar a alma dessa mulher, transmitir suas angústias, dores e sofrimentos tão presentes nas almas femininas da sociedade, que por vezes escondem seus sentimentos por submissão, medo, vergonha ou mesmo por posturas arraigadas pelas culturas e religiões.

Durante os 13 minutos de exibição, o curta faz um caminho inverso ao das histórias clássicas de superação e elevação da auto-estima; a diretora e roteirista do filme, Marie Benito, vai na contramão. Ana não procura o marido para se reconciliar, não procura as amigas, o chocolate ou o travesseiro; ainda magoada e abandonada, ela decide quebrar alguns rótulos ao buscar, em seu corpo, o prazer de novamente ser uma mulher, que precisa e deseja ser amada.

Para superar a depressão e a solidão da cama, Ana — em uma cena leve e delicada — busca em si o prazer; suas lágrimas já não são de tristeza, e sim de êxtase. Êxtase pelo orgasmo e mais, por ser dona de si mesma, responsável pelo seu sorriso, pelo seu corpo e por suas linhas de expressão.

Após entregar-se ao seu corpo e seus prazeres, Ana se entrega a um desconhecido; foi em um banheiro público que a protagonista se desprendeu das normas de conduta e boa moral. Resta-nos saber se ela retornará a ligação do marido arrependido ou permanecerá dona de si. (Karla Maria)

“El Deseo” está na Mostra Latino-Americana 1.

Festival Internacional de Curtas Metragens, de 22 a 29 de agosto

Zita Carvalhosa e Walter Salles
Walter Salles e Zita Carvalhosa, diretora da Associação Kinofórum

O Festival está chegando, será realizado de 22 a 29 de agosto, nas salas bacanas de São Paulo. Durante o Festival, através dos curtas, observamos um intercâmbio cultural, político e até econômico. Ver cinema, pelos diferentes olhares, viajar na cor, no som…é uma aventura sinestésica.

O Festival conta paralelamente com projetos super interessantes, descarto aqui, até porque faço parte dele, o Kinoforum Crítica Curta, que pelo quarto ano reúne alunos de cursos de audiovisual e comunicação, para uma produção intensiva de críticas cinematográficas ao longo de todo o Festival.

    “Os alunos escolhidos terão como missão cobrir as sessões dos programas brasileiros e latino-americanos do Festival, produzindo textos que são publicados em um tablóide, editado pelo crítico de cinema Sérgio Rizzo, para distribuição no encerramento do Festival”, confirma a organização do Projeto. 

   As críticas de anos anteriores, e tudo o que vai rolar nete 19° Festival Internacional de Curtas Metragens, podem ser encontradas e por que não, questionadas e dialogadas no blog do projeto.

Escolas participantes: Anhembi Morumbi, ECA-USP, FAAP, Mackenzie, Metodista, PUC-SP, UFSCar e UNICAMP.

Roteiristas lutam por Liberdade de expressão

A *A.R*. (*Associação de Roteiristas*), através de abaixo-assinado, afirma que não concorda com o uso do chamado “Manual da Nova Classificação Indicativa”, elaborado pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação e da ANDI – Agencia de Noticias dos Direitos da Infância.

Entendem os autores e roteiristas da A.R. que, mesmo deixando às emissoras a responsabilidade pela Classificação, a Portaria do Ministério da Justiça não contribui para a melhora do audiovisual brasileiro, tornando-se, pelo contrário, instrumento que pode inibir e censurar a atividade criativa.

Esclarece que é a favor da Classificação Indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na constituição. E concorda com o documento quando afirma que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.

Mas é contra a associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição do programa.

A classificação Indicativa permite ao cidadão escolher se quer ou não que sua família e seus filhos tomem contato com determinado conteúdo. Ser indicativo é ser democrático. O horário obrigatório, ao contrário, não é democrático. Em tempos nos quais ondas de obscurantismo ditatorial avançam sobre as conquistas civilizatórias, a transparência deve ser sempre buscada, especialmente em relação a medidas que interfiram nos meios de comunicação, principal via para a construção da verdadeira democracia.

Forçar, por exemplo, um programa a ser exibido em horário avançado, impede o acesso de  parte da população e acaba *prejudicando muitos  por determinação arbitrária de alguns, o que vem justamente a configurar censura.*

Queremos deixar claro que nossa posição é distinta das emissoras de televisão. Por exemplo: quanto à diferença de fusos horários no país, que redunda em horários de exibição diferentes, opinamos que essa é uma questão puramente comercial ou técnica – fora do nosso foco – que deve ser resolvida pelas emissoras.

Nossa bandeira é a da liberdade de expressão. Não nos opomos ao controle social da programação televisiva.  Desejamos um controle democrático. O controle, como entendemos, almeja a diversidade da programação, não interfere em conteúdos e aumenta o grau de liberdade e escolha do conjunto da sociedade. Temos o projeto de uma Nova Lei Geral para as Comunicações, prevendo apoio aos produtores independentes, a criação de uma cota de tela para a teledramaturgia nacional, a regionalização do audiovisual, entre outras medidas.* *

Ao obrigar o Estado a fazer classificação indicativa, a Constituição diz claramente que ela não pode ser imposta, tem de ser apenas indicativa. Com isso garante a liberdade de expressão nas obras artísticas e no entretenimento. *

A *A.R*. considera que é direito do cidadão, dos artistas e das emissoras de televisão (que são concessões públicas e democráticas) definir o horário que o programa será exibido, de acordo com critérios de interesse da maioria da população. Acredita que o critério para exibir um programa em determinado horário deve ser indicado pelos espectadores de televisão e não por decreto ou influência de algumas associações da sociedade civil.

Em suma, a *A.R*. concorda que fazer classificação indicativa é um dever do estado democrático e que esta deve ser promovida em diálogo com a sociedade civil, incluindo os criadores de televisão e as emissoras. Mas está convicta de que obrigar a exibição de um programa em determinado horário é uma forma de censura.

Como representante de autores, roteiristas e criadores de programas, a *A.R é a favor da liberdade de expressão e contra qualquer espécie de censura.  A AR foi fundada há cerca de seis anos e conta com mais de 200 membros, entre eles os principais autores da teledramaturgia atual, roteiristas de cinema e de todas as mídias.

Assoaciação Brasileira dos Roteiristas