O SÃO PAULO não se calou na ditadura brasileira

Foto de Filó/Fotossínete | dom Angélico Sândalo, ex-diretor do O SÃO PAULO

Ao completar 55 anos, O SÃO PAULO, comporá um documentário feito e distribuído pelo Instituto Vladmir Herzog, sobre a história recente do Brasil. Trata-se do projeto Resistir é Preciso – A recuperação da história da imprensa alternativa” que fará 50 entrevistas com personalidades da imprensa combativa e com elas 12 DVDs que  serão transmitidos pela TV Brasil e pelas TVs Cultura. De 1968 a 1978, durante o regime militar, O SÃO PAULO foi obrigado a apresentar suas matérias previamente aos censores do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). “Nossa ideia é contar a história recente do Brasil, de 1964 a 1979, através  dos olhos da imprensa que efetivamente combateu a ditadura, a chamada na época, imprensa alternativa”, revelou Ivo Herzog na Cúria Metropolitana, na manhã do dia 18, após ouvir dom Angélico Sândalo Bernadino e Maria Angélica Rittes Garcia, alguns  dos protagonistas da história do semanário da Arquidiocese.

Dom Angélico Sândalo Bernadino, hoje bispo emérito de Blumenau (SC), foi diretor do semanário arquidiocesano, de 1977 a 2000. “Nosso jornal exerceu na ditadura, um papel em defesa da democracia. Na redação do jornal ficavam os censores, que em matéria de doutrina social da Igreja eram ignorantes; tivemos matérias vetadas, outras cortadas em partes. O SÃO PAULO foi um jornal profético”, disse dom Angélico.

Em 1978, Maria Angélica, foi convidada por dom Paulo a ser editora-chefe do jornal. “Em reunião o senador Romeu Tuma [diretor do DOPS] nos orientou na redação jornal ‘nunca saiam sozinhos, saiam em grupo para se protegerem”. Neste tempo, éramos muito procurados pelos jornalistas da grande imprensa que propunham fazer matérias”; entre eles estava Ricardo Carvalho, um dos realizadores do documentário e jornalista da Folha de S. Paulo. “Para nós jornalistas daquela época, O SÃO PAULO era o lugar onde você podia beber de uma fonte segura, tínhamos dom Paulo, que  sempre nos recebia e indicava caminhos. Íamos à redação conversar com dom Angélico e era um oxigênio, era um jeito da gente não descolar da realidade, a partir daí criamos a editoria de Direitos Humanos”.

“O jornal e a Cúria Metropolitana de São Paulo eram uma vanguarda da Igreja católica brasileira e mundial. A Igreja de São Paulo era aquela que elaborava, que tinha a audácia de fazer propostas, era aquela que tinha 100 mil comunidades eclesiais de base. As pessoas se reuniam para discutir e viver o evangelho, se reuniam para ler o jornal que era disputado, queria ser lido”, revelou o senador da República Italiana, José Luiz Del Roio, um dos fundadores do Fórum Social Mundial e responsável pelas pesquisas do documentário.

Antes de ser O SÃO PAULO, o semanário recebeu outros nomes; José Aurélio Chiaradia Pereira, mestre em Mídia e Igreja, retoma a origem do jornal a 1905, quando teve o nome de Gazeta do Povo, até 1930, que por iniciativa de dom Duarte Leopoldo e Silva tornou-se O Legionário, e mais tarde, definitivamente, rebatizado de O SÃO PAULO, por dom Carlos Carmelo Motta. Com o advento do Concílio Vaticano 2º, a Igreja via a necessidade de atuar junto aos meios de comunicação, de modo mais efetivo.

“Ser boa imprensa a serviço do apostolado, da evangelização, anunciando Jesus Cristo com o mesmo vigor e criatividade do Apóstolo de quem o jornal emprestou o nome”, escreveu na primeira edição de O SÃO PAULO, dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, em 25 de janeiro de 1956. Dom Carlos Carmelo governou a Igreja de São Paulo até 1964, quando dom Agnelo Rossi tomou posse da  arquidiocese, ficando à frente dela até 1970. No mesmo ano, dom Paulo assumiu a Arquidiocese, permanecendo nela até 1998, transmitindo o cargo à dom Cláudio Hummes e posteriormente ao cardeal dom Odilo Pedro Scherer, atual arcebispo de São Paulo.

Em 2001, em entrevista cedida ao pesquisador Fábio Lanza, padre Cido Pereira, diretor do jornal desde 2000, disse que a história de O SÃO PAULO foi marcada por mudanças ao longo de sua trajetória editorial, aspecto esse relacionado também às diversas conjunturas, inclusive da política nacional.

Há 55 anos esse semanário registra a história da Igreja de São Paulo, história essa, que se confunde à história da cidade, de seu povo, e à sua própria.

Publicado em O SÃO PAULO.

Dom Angélico esclarece posição da Igreja nestas eleições

Em ato na região Brasilândia,  zona noroeste da cidade de São Paulo, realizado no último sábado (23/10) , dom Angélico Bernadino Sândalo, bispo emérito de Blumenau e 1° bispo da Região Episcopal Brasilândia, da Arquidiocese de São Paulo, esclareceu pedagogicamente a confusão feita por alguns de nossos bispos e colocou ponto final na tentativa de manipularem nosso voto. (assista o vídeo de dom Angélico)

A Igreja, e digo por mim em meu blog como membro dela, é plural em suas  manifestações, pastorais, ministérios e também em suas opções políticas (e que bom!!), mas isso não dá poder às lideranças, a padres e bispos de usarem tal influência e capilaridade da Igreja, como instrumento para campanha política.  Tal prática é vergonhosa, pois usa do poder moral que estas lideranças teem sob os altares, e/ou à frente das atividades na Instituição.

Somos, eu sou cristã, católica e a Igreja que sempre lutou pela vida aqui em São Paulo e em todo o país, lutou também pela liberdade de ir e vir e de cada um se expressar segundo seus valores.  Quem não se lembra de dom Paulo Evaristo Arns, abrindo as portas da Catedral da Sé, acolhendo os perseguidos pela ditadura?! Eu não presenciei isso, mas está registrado na história deste país e nos arquivos de vários jornais, inclusive no da Arquidiocese de São Paulo, O SÃO PAULO, que também resistiu à censura.

A Igreja de São Paulo, na voz de dom Odilo Pedro Scherer, seu arcebispo, e a Igreja de todo o Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem afirmado reinteradamente que não indica, nem desqualifica candidatos. Defende sim, que cada cristão vote segundo sua opção calcada na formação política crítica, nos valores cristãos e nas informações disponíveis.  A bandeira da Igreja é a bandeira da vida e de uma vida com dignidade.

Pois, que todos votemos naquele ou naquela, em que nossa consciência cidadã avalie como positivo para a sociedade brasileira, em especial à população mais pobre, aquela que mais sofre e precisa da solidariedade e mais, precisa e tem exigido que seus direitos já garantidos pela Constituição, sejam aplicados integralmente.

O voto é seu, a consciência é sua.

CEBs do setor Pereira Barreto encerram novena de Natal

Comunidades participam da missa

“Gente simples, fazendo coisas pequenas em lugares pouco importantes consegue mudanças extraordinárias”.

Foi com este provérbio africano, vindo direto de Porto Velho-RO, do 12° Intereclesial das CEBs, que nós, CEBs e Grupos de Rua do Setor Pereira Barreto, nos reunimos em 11/12, na paróquia Nossa Sra. de Fátima – Vila Bonilha, para celebrar o encerramento da Novena de Natal em nossas comunidades. A missa foi presidida por dom Angélico Bernadino Sândalo, bispo emérito de Blumenau e co-celebrada por dom Servílio Conti, imc, bispo emérito de Boa Vista – RR, e pelos padres Edmílson Gongaza, pároco de Nossa Sra. de Fátima e Jaime C. Patias, imc, diretor da revista Missões, da Região Episcopal Santana.

Mais de 150 pessoas das oito paróquias e suas comunidades, que compõem o setor, participaram da missa. Trouxeram consigo símbolos e camisetas que marcaram a caminhada de suas comunidades e grupos de rua, trouxeram também o desejo de em 2010, atuarem mais em conjunto, como Igreja Missionária em unidade. Importante registrar a presença de membros do Setor Nova Esperança, em especial Serginho, Ana Cristina e Gisele que animaram a liturgia com os cantos. Participaram da missa também membros da Comissão Regional das CEBs.

Presépio de Moçambique

Esta missa foi o primeiro passo visível da rearticulação, que nós, do Setor Pereira Barreto assumimos, desde nossa participação no 12° Intereclesial da CEBs, em julho de 2009, em Porto Velho-RO. O meu, o nosso compromisso para 2010 é caminhar mais unidos, com o pé fincado na realidade do povo, realidade que necessita de uma formação cristã, pastoral, cidadã. Usando a comunicação como instrumento de evangelização, aprendendo a cuidar do meio-ambiente, a lidar e caminhar com a juventude.

Para começar bem o ano, vamos refletir com toda a Região Brasilândia, a Campanha da Fraternidade-2010, com o tema “Economia e Vida”. Será um dia de formação, em 25/01, ainda sem local confirmado. Já no dia 13/02 teremos outro encontro do setor para acertar o calendário de atividades, de formação e a equipe de “coordenadores/comunicadores” das CEBs do Setor Pereira Barreto.

Na tarefa de registrar e dar visibilidade às atividades das CEBs da Região Brasilândia, sempre usei a 3° pessoa, contudo, hoje utilizo este texto, para agradecer aos padres do setor Pereira Barreto pela acolhida e mais uma vez pedir o apoio e a presença de vocês em nossas atividade, os padres são exemplos e estimulam a caminhada das comunidades. Ao padre José Renato, assessor regional e arquidiocesano das CEBs, o meu obrigada pelo voto de confiança, pela aposta e pelo carinho.

Nós, aqui do setor, bem como as milhares de comunidades por todo o Brasil, somos “Gente simples, fazendo coisas pequenas em lugares pouco importantes” e desejamos conseguir mudanças extraordinárias”. Os sonhos continuam, as lutas se renovam e o próprio Cristo, vem nos visitar na noite de Natal, iluminando-nos para 2010.

Feliz Natal!
beijo carinhoso
Karla Maria

Grita Amazônia, grita que este povo escuta

Trem de Ferro Gusa

Porto Velho – RO sediará 12°Intereclesial de CEBs – Comunidades Eclesiais de Base, de 21 a 25 de julho deste ano.

Um encontro que promete reunir aproximadamente 3 mil pessoas, interessadas em discutir, refletir e apontar soluções para questões como o desmatamento da Amazônia, à questão indígena – o descumprimento da Constituição que lhes garante a vivacidade das culturas originais e o acesso à terra. Os danos do agronegócio, da transposição e poluição de rios por todo o Brasil, do consumo desenfreado de bens não essenciais à vida, do desperdício de energia, comida, da geração de lixo e de tantos outros problemas que permeiam a sociedade brasileira e todo o mundo.

Ouvi nesta tarde, que estes problemas são fruto da vaidade humana, portanto, há de se refletir também neste encontro, qual o compromisso do homem/mulher com sua vida, sua civilização. Quem são estes homens e mulheres, como estão constituídas suas famílias, suas histórias…

Os participantes deste grande encontro em Rondônia, chamado 12° Intereclesial de Cebs, são cristãos, católicos que se vêm comprometidos, à exemplo de jesus Cristo, a defender a vida, a dignidade dela.

Da cidade de São Paulo, denominada nas estruturas da Igreja como Arquidiocese de São Paulo, saírão 54 delegados, representantes de suas comunidades e paróquias. Entre eles padres, religiosas e religiosos, leigos e leigas, jovens que estão dispostos a buscar outros caminhos para aquele virão.

Delegados em dia de formação / Itatiba - SP
Delegados em dia de formação / Itatiba - SP

A Região Amazônica está em pauta no mundo, sediou em janeiro, em Belém do Pará, os Fóruns Social Mundial de Teologia e Libertação, o 9° Fórum Social Mundial e agora acolhe o 12° Intereclesial de CEBs.

Estarei em Porto Velho, de 19 a 26 de julho como uma das delegadas de São Paulo, representando a Região Brasilãndia e o Setor Pereira Barreto. Hoje (05/07) nós, os 54 delegados tivemos um encontro especial pela manhã com Dom Angélico Bernadino Sândalo, bispo emérito de Blumenau e às 11h fomos enviados pelo bispo da Arquidiocese dom Odilo Pedro Sherer, que nos pediu para levar também o grito de São Paulo, que sofre por tantos males.

Do ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia – estarei atenta a este grito de perto, acompanhando as discussões, ouvindo, aprendendo….estamparei aqui fotos deste povo bonito, que atravessa kilometros, por terra, mar e ar, numa tentativa corajosa cheia de esperança na busca de um outro mundo possível.

“Nos vemos” por aqui…

ENTREVISTA

José Renato é sacerdote, radialista e assessor das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base no Estado de São Paulo.

Qual a importância deste encontro em Porto Velho e quais as suas expectativas quanto ao 12° Intereclesial…

José Renato – Os intereclesiais são momentos, como diz o grande Pedro Casaldáliga, são momentos macro, momentos de fortaecimento na fé, são momentos de compromisso bem definidos para todos e para que de fato o clamor da Amazônia apareça. A gente sabe que quando, biblicamente, os pobres clamam Deus desce. A história do êxodo, o grito de Jesus na Cruz, são clamores que mostram o protesto definitivo de Deus contra as injustiças e tudo aquilo que vai contra a realização do Seu Reino.

Então enquanto clamor a Igreja que não é de hoje, já trabalha há muito tempo, inclusive com a questão ecológica desde 1979, já fizemos uma Campanha da Fraternidade – CF sobre ecologia, já fizemos a CF trabalhando em nível nacional, da Amazônia, dos índios, a água, que são todos temas que estão aí relacionados. Então a expectativa é que o intercâmbio, a comunhão fraterna, de experiências, de buscas de saída dos problemas de missão e ecologia, a gente volte com mais ânimo, claro, a gente vai ver que as lutas são as mesmas, vamos celebrar vitórias e vamos ver os desafios, mas que na cidade de São Paulo, especialmente na nossa Região Brasilãndia, onde o problema ecológico aparece tanto, que até é uma prioridade pastoral, está aí a Luta para resolver o problema do lixo, a luta por moradia, a reciclagem, são problemas que nos dizem imediatamente. O problema da Amazônia é também problema de São Paulo.

 O que esperar destes 54 delegados da Arquidiocese de São Paulo…

Os nossos representantes nós esperamos que venham animados, mais esclarecidos, com maior ardor profético para testemunhar a missão do reino que passa pela ecologia, e como a gente rezava hoje, pela manifestação dos filhos de Deus, porque a criação foi submetida à vaidade humana. Então eu acho que vai ser muito positivo, com certeza é um momento de esperança, um momento de celebração, de toda a vida de Igreja. De toda a vida de Igreja, que eu participo desde coroinha, eu nunca vi nenhum encontro desta grandiosidade, desta beleza, onde todos realmente, bispos, padres, leigos estão irmanados numa relação de muita fraternidade, muita comunhão. Lá agente faz a experiência de viver a igreja da comunhão, da igreja do serviço, da simplicidade e comprometida com o reino, mais próximo daquilo que os evangelhos pedem.