vagão rosa é retrocesso para paulistanas

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Então, os homens terão licença para abusar das mulheres que não utilizarem o tal vagão rosa? Como serão vistas as usuários do metrô que não optarem por utilizarem esse vagão exclusivo? “Safadas”, “olha lá, ela escolheu vir aqui”? Os demais vagões serão espaços com autorização ou vista grossa para abusos, passadinhas de mão e encoxadas?

Mais uma vez estão nos podando, criminalizando. A culpa é dos nossos corpos? das nossas bundas? Ora, que sociedade é esta que vê, admite e outorga a falta de respeito. Por acaso os homens são animais irracionais? Incapazes de controlar suas “tentações”, “desejos sexuais”? Não, não o são e defendo vários deles, que penso devem estar insultados por este projeto de lei do PMDB.

Mais uma vez, a mulher é a tentação na vida do homem. Desde Eva somos as culpadas pelo erro. A vítima se torna a criminosa. Como escreveu a jornalista Eliane Brum, hoje nos colocam em vagões exclusivos e amanhã? saímos de burcas, cobertas para não chamar a atenção dos “pobres e incontroláveis homens”? Ora, que absurdo.

Somos a maioria! Não seremos confinadas ou adjetivadas por entrar neste ou naquele espaço. Somos livres. Mulheres eduquem seus filhos para que se comportem como gente e Homens, por favor, o sejam. Simples assim.

Mulheres, os números não mentem, a desigualdade permanece

Na Constituição brasileira, especificamente no Artigo 113, inciso 1, lemos: “todos são iguais perante a lei”. Aos olhos de Deus e penso que no coração Dele, todos nós, mulheres e homens, somos seus filhos e filhas sem distinção alguma. Sabemos, contudo, que tanto a Bíblia, quanto a carta magna deste país, sempre e por muito tempo foram interpretadas quase que exclusivamente por homens, pertencentes a uma sociedade patriarcal, culturalmente machista, que nega às mulheres muitos direitos concedidos aos homens.

Olhe para o lado e observe a sua mãe. Existiria o mundo sem a força desta mulher, sem o útero gerador da vida? A ela, foi depositada a responsabilidade e a graça de gerar, e mais, de assumir ao lado do homem, seu papel cidadã garantindo o bem estar a si e às futuras gerações. Agora, que cidadã é essa, que conta na maioria das vezes, com deveres, sem que seus direitos essenciais sejam reconhecidos? A cidadania plena consiste em direitos e deveres.

Em pleno século XXI, as mulheres ainda não são tratadas de forma igual aos homens. Falácia? Vamos aos números. Dados do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, divulgados nesta manhã (08/03), informam que o rendimento médio do trabalhador de gênero masculino é de R$ 1.070,07, já as trabalhadoras possuem renda média de R$ 700,88, tendo em vista, que as mulheres estudam mais. São 7,6 anos de estudo para as mulheres e 7,2 anos de estudo para homens

Os números ainda apontam que 34,9% das famílias no Brasil são chefiadas por mulheres, que tem conseguido, graças à implementação de políticas públicas de fortalecimento de sua identidade, entrarem no mercado de trabalho. Mas isso não lhes tira a responsabilidade “natural”, pelo trabalho doméstico. Elas dedicam 23,9 horas por semana, às tarefas do lar, enquanto eles, destinam somente 9,7 horas por semana. 42,1% das mulheres empregadas no Brasil, trabalham em condições precárias, os homens são 26,2%. A taxa de desocupação segue com 5,2% para os homens e 9,6% para as mulheres.

No Brasil há 6,2 milhões de trabalhadoras domésticas, ou seja, 15,8% da população feminina, que possuem em média, renda mensal de R$ 350,77, cifra inferior ao salário mínimo. No campo, 28,5% das mulheres trabalhadoras não possuem rendimentos. Trabalho escravo? Exploração? Estes são dados econômicos e refletem diretamente na identidade e valorização da mulher brasileira, que luta contra a interpretação parcial de seu papel na sociedade, e ao lado do homem, quer acabar com esse impasse da humanidade pós-moderna: enfrentar a problemática da relação de gêneros definindo o lugar do homem e da mulher.

O lugar do homem deve ser ao lado da mulher, e o lugar da mulher deve ser ao lado do homem, ambos como cidadãos, que buscam seus direitos sem discriminação de raça e gênero.

Definir a importância e o papel da mulher na sociedade pós-moderna é como definir a mulher: simples e complexa. Requer um olhar. Olhe para o lado, veja a mãe que amamenta o filho, veja a menina que enfeita os cabelos, observe as senadoras, prefeitas, vereadoras, deputadas, governadoras, presidentas que enfrentam o machismo dos ternos e o pragmatismo das leis por eles criadas. Veja as enfermeiras, médicas, cabeleireiras, arquitetas, engenheiras, floristas, artesãs, biólogas, professoras, advogadas, jornalistas, são tantas as mulheres, tantos os sorrisos e formas de resistência.

Olhe para a cozinheira, para a lavadeira, para aquela que lava o seu chão, suas roupas, sua louça, para aquela que leva a Comunhão, o Pão, a Palavra, o amor, para aquela que te ama. As mulheres negras, missionárias, religiosas, indígenas, migrantes, campesinas, sem teto, sem terra, olhe para as pobres e excluídas, as não convencionais deste sistema, as gordas, as magras, as ruivas e morenas, as que sustentam seus cachos, e quebram os quadris na da

nça do dia-a-dia. São tantas as mulheres, a resposta está em cada uma delas. No silêncio e no grito, no riso e na lágrima.

Que no seio da Mãe Terra, brote a igualdade, fora a discriminação e o preconceito, que nós mulheres, saibamos reescrever a história da civilização, por um prisma mais humano, gerador de vida, verdade e paz.

Mulheres: Mais educadas do que eles, mas não mais iguais

Jaime C. Patias | Articulação de Mulheres durante o 9° FSM, Belém - PA

De Mario Osava*

A escolaridade feminina avançou em todo o mundo, e em muitos países as meninas e as moças estudam mais e melhor do que os homens há décadas. Mas isso está longe de se traduzir em equidade no trabalho, na política e nas relações sociais. No Brasil, por exemplo, 53,3% dos que entraram na universidade em 2007 eram mulheres. Essa proporção quase sempre foi superior a 55% nos últimos 15 anos. E a participação aumenta em mais de cinco pontos percentuais entre os que concluem cada curso, o que confirma que elas são melhores estudantes.

As mulheres são maioria em todos os níveis de ensino e sua escolaridade supera em mais de um ano a masculina. Porém, seus salários são 30% inferiores aos dos homens na mesma função, e elas ocupam apenas 56 das 594 cadeiras do Congresso Nacional. Nas Filipinas, onde há muito as mulheres alfabetizadas são mais do que os homens, 17,8% delas se graduam na universidade, contra 8,2% dos homens, segundo a Comissão Nacional sobre o Papel da Mulher.

Mas as filipinas se concentram em carreiras como educação e saúde, e ficam fora das de engenharia e direito, áreas dominadas em mais de 80% por homens. Também na África do Sul elas são maioria nas universidades, embora não em carreiras de tradição masculina, como engenharia. E tampouco ocupam posteriormente muitos cargos de direção.

No Chile, as mulheres também superam os homens em educação, segundo o governamental Índice de Iniquidade Territorial de Gênero 2009, que considera o analfabetismo, anos de escolaridade e cobertura do ensino básico e médio. Porém, as chilenas perdem em participação trabalhista, com 42%, e seu nível salarial é 30% inferior ao de seus colegas homens.

“A educação sozinha não faz milagres”, pois mudar valores é mais complexo e “enquanto não houver creches para todas as famílias, não haverá mudanças estruturais na participação feminina no mercado de trabalho”, disse Fulvia Rosemberg, pesquisadora da brasileira Fundação Carlos Chagas, ao lançar um olhar sobre a desigualdade de oportunidades entre os gêneros. O Brasil vale como exemplo. Apenas 18% dos meninos de zero a três anos frequentam creches, disse ao TerraViva. Além disso, em geral as escolas recebem as crianças por apenas meio período, impondo tripla jornada de trabalho às mulheres, privando-as de “condições comparáveis” às dos homens, afirmou a também professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A isso se soma o mesmo ensino. O currículo, os livros e a forma de educar reproduzem preconceitos que desvalorizam o papel feminino, o confinam no lar, a trabalhos e carreiras pouco valorizadas, acrescentou. Na universidade, a maioria das mulheres escolhe as ciências humanas e os homens as áreas de exatas e tecnológicas. A escolaridade feminina progrediu rapidamente, mas as mudanças culturais são lentas e as institucionais ainda mais, disse Moema Viezzer, socióloga fundadora da Rede de Educação Popular entre Mulheres da América Latina e do Caribe, cuja campanha por uma educação não sexista acontece, há 29 anos, todo dia 21 de junho.

Foram necessárias décadas de luta do movimento antes da admissão de mulheres no governo e no Supremo Tribunal brasileiro. A VI Conferência Mundial sobre a Mulher, de 1995, em Pequim, representou “um salto quantitativo”, ao impulsionar políticas públicas, com o Estado assumindo programas antes limitados a organizações não governamentais, disse Viezzer. Desde ontem e até o dia 12 deste mês acontece, na sede da Organização das Nações Unidas em Nova York, a conferência da Comissão da Condição Jurídica e Social da Mulher, para avaliar o cumprimento dos compromissos assumidos há 15 anos. O acesso das mulheres a todos os níveis educacionais foi uma das 12 prioridades da Plataforma de Ação de Pequim.

Além de um ensino com enfoque de gênero adequado, são necessárias muitas ações afirmativas e uma educação popular para a igualdade de gênero, defendeu Viezzer. A melhor escolaridade feminina se impõe onde conta o esforço pessoal e a capacidade, mas não quando entram em jogo relações, negociações, a promoção por recomendação de chefes, disse Schuma Schumacher, coordenadora da não governamental Rede de Desenvolvimento Humano do Brasil.

Um quadro pior na África

No plano mundial, a porcentagem de meninas sem instrução caiu de 58% para 54% entre 1999 e 2007, segundo o Informe de Acompanhamento da Educação para Todos no Mundo 2010. Isto é, o acesso feminino no ensino primário continua abaixo do masculino. Na África subsaariana havia 89 meninas para cada cem meninos na escola primária em 2006, segundo o Informe dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A situação é pior no ensino secundário, onde as adolescentes caem para 80 para cada cem. No conjunto do ensino, elas constituem 55% das excluídas.

A realidade subsaariana, de muita pobreza, fome, guerras e epidemia de síndrome da deficiência imunológica adquirida (aids), trava a escolaridade e fomenta a deserção escolar, especialmente de meninas, disse a sul-africana Muleya Mwananyanda, coordenadora da Semana de Ação da Campanha Mundial pela Educação. Estima-se que 12 milhões de meninas nunca irão à escola, contra sete milhões de meninos. As atitudes estão mudando lentamente nessa parte do mundo. Ainda se vê “com suspeita a educação feminina, sobretudo nas comunidades onde o modelo patriarcal corre risco de se desbaratar”, disse Mwananyanda.

Mas há razões para otimismo, se considerarmos o efeito multiplicador. “Uma mulher me disse assim ‘educar uma menina é educar uma aldeia inteira’, pois as mulheres instruídas enviarão suas filhas para a escola”, afirmou. Dezessete dos 41 países subsaarianos estudados no informe da Educação para Todos alcançaram a igualdade de meninas e meninos na escola primária.

Exceções

Essa região africana vai contra a corrente da tendência mundial. Na América Latina e no Caribe havia 107 meninas para cem meninos na escola secundária em 2006, enquanto na Ásia oriental e no sudeste asiático a proporção era de 101 e 102 para cem, respectivamente, superando inclusive a paridade das regiões do Norte industrial. Entretanto, no segundo maior país latino-americano, o México, perderam força as políticas educacionais com perspectiva de gênero, impulsionadas a partir de Pequim.

Um avanço em matrícula e presença escolar produziu uma “equiparação de matrícula entre homens e mulheres” e atenção para os temas de educação profissional, pós-graduação e eliminação de estereótipos, disse ao TerraViva Clara Jusidman, presidente da não governamental Iniciativa Cidadã e Desenvolvimento Social. Entretanto, desde 2000, quando chegou ao poder o conservador Partido Ação Nacional, primeiro com Vicente Fox e desde 2006 com Felipe Calderón, a educação retomou os antigos valores e estereótipos nos papeis dos homens e das mulheres.

Ainda em pleno século XXI, “há Estados mexicanos governados por conservadores que não permitem livros com texto contendo informação sobre educação sexual e direitos reprodutivos”, disse Jusidman.

Educação machista dada por mulheres

Em todo o mundo as educadoras são maioria. Mas isso não evita que o ensino tenha um caráter sexista, pró-masculino e discriminador difícil de corrigir, segundo as mulheres organizadas. O machismo sobressai nos livros didáticos, onde personagens femininas, minoritárias e secundárias, aparecem mais no contexto familiar, em trabalhos domésticos, como seres passivos e servis, contrastando com os masculinos ativos, autônomos e criativos.

As autoridades educacionais das Filipinas ofereceram treinamento em gênero para autores e editores de livros escolares, quando um Comitê das Nações Unidas condenou, em 1997, os estereótipos em textos e materiais de instrução que reforçam a imagem de subordinação feminina. Mas essas iniciativas ficaram na fase-piloto, e faltam políticas para integrar a igualdade de gênero aos programas educacionais desde o jardim da infância, disse a professora Aurora de Deus, diretora do Instituto de Mulheres e Gênero, de Manila.

“O lugar da mulher é a cozinha” soa muito antigo, mas é um preconceito que persiste na sociedade como um dos fatores que faz “o mundo do poder e do domínio ser quase essencialmente masculino”, disse a brasileira Vera Vieira, da Rede Mulher de Educação. São visões reafirmadas pelos livros infantis.

No Chile, os textos escolares têm enfoque de gênero desde 2008. “Houve uma intervenção na linguagem, tornando visíveis ‘meninas’ e ‘meninos’, e as imagens, evitando figuras estereotipadas como mulheres fazendo trabalho doméstico”, e assim resgatando a contribuição feminina para o desenvolvimento do país, explicou Juana Aguirre, responsável de gênero do Ministério da Educação. A reforma curricular de 2009 incorporou a dimensão de gênero em cinco áreas, como matemática e linguagem, além de estratégias para corrigir o “currículo oculto” nas relações entre educadores e alunos, acrescentou.

No Brasil, o Ministério da Educação adotou, em 1996, uma avaliação dos mais de cem milhões de livros didáticos que compra e distribui anualmente nas escolas, vedando os que expressam “preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou qualquer outra forma de discriminação”. Fulvia Rosemberg, da Fundação Carlos Chagas, duvida dos critérios aplicados por avaliadores especializados em suas disciplinas, mas não em “sexismo e racismo discursivo”. Além do mais, o Ministério condena “preconceitos”, não “estereótipos”.

O ensino discriminador não impede, porém, que as meninas e mulheres tenham melhor desempenho do que os homens, colocando em xeque as análises sobre os efeitos do sexismo nos livros, acrescentou.

* Com as colaborações de Nastasya Tay (Johannesburgo), Kara Santos (Manila), Emilio Godoy (México) e Daniela Estrada (Santiago).

Fonte: IPS/Envolverde