Jovens buscam um novo jeito de fazer política

2013-06-17 18.52.01Na esteira das manifestações sociais e religiosas que ocuparam as ruas do Brasil nos últimos meses, apresento uma breve entrevista que fiz, em 2011, com Fernando Altemeyer Júnior, doutor em ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A avaliação de Altemeyer é pertinente para o momento em que vive o país.

Ká entre Nós:  Poderíamos afirmar que as manifetações juvenis hoje, são mais de cunho pessoal, do que coletivo? por quê?
Fernando Altemeyer: É um padrão que não resiste à crítica dizer que os jovens de hoje são menos articulados e utopicos que os de ontem. O que há é uma imensa mutação de quadros simbólicos e de aprojeção cultural. Os jovens não são mais nem menos “coletivos” que os de maio de 1968 ou os “caras-pintadas” da década de 1990. São coletivamente diferentes.
Há manifestações juvenis eclodindo em todos os níveis: pessoais, afetivos, coletivos, articuladas, individualizadas, virtuais, libertadoras e miméticas ou ainda até alienadas e fundamentalistas. A capacidade polivalente dos jovens em dizer suas palavras, seus medos e suas esperanças se exprime de formas variadas (mauitas alegres e outras patéticas e plenas de sofrimento). A grande questão é se há interprétes para compreender esta “música” que por eles é produzida e difundida pelos quatro cantos do planeta. E sabendo ouvir, saber também dialogar. Ser ou não ser: eis a questão!

Ká entre Nós: Por quê o jovem, na grande maioria, não se filia mais a partidos políticos?
Fernando Altemeyer: Me arrisco a comentar sua afirmação assumindo que a participação juvenil em instituições formais tem diminuido. Penso que seja verdadeira esta desfiliação ou não-filiação, pois isto indicaria que os jovens preferem participar ativamente da sociedade civil, mais que da organização partidária, pois ela está viciada pelo poder e por mecanismos de manutenção de privilégios.
Muitos partidos não tem ajudado a forjar a democracia de forma clara e transparente. O que vemos é gente boa metida em máquinas velhas com resultados pífios. Alguns conseguem algo, mas outros são engolidos e manipulados. E ainda há as velhas raposas que querem manter a injustiça e a segregação de classe e raça em nosso país. É a velha e recorrente oligarquia que muda de partido mas não muda de prática corrupta e oportunista. Serve-se do Estado e dos bens públicos e não se fez servidor e funcionário do povo.
Talvez seja isso aquilo que afaste. Esta falta de ética e de visão utópica. Os jovens percebem que não há exemplos claros de valores. Fala-se muito e faz-se pouco ou nada. Jovem quer testemunho, beleza e festa. Haverá esta matéria prima onde? Nos partidos, com certeza, há grave carência. Penso que muitos jovens tem buscado alternativas para construir relações novas em favor de um outro mundo possível.  É esta sede que devemos alimentar e fomentar.

Manifestação estudantil

Almeida Rocha/Folha Imagem
Almeida Rocha/Folha Imagem

 fonte O Globo – Estudantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e de entidades estudantis estaduais fizeram nesta quarta-feira em São Paulo uma grande manifestação pelo fim do vestibular, por mais investimentos na educação e contra as políticas do novo secretário estadual de Educação, o deputado Paulo Renato (PSDB-SP), ex-ministro da Educação, que deixou a Câmara e assumiu a pasta na última segunda-feira. Depois de cerca de uma hora e meia de passeata, da Avenida Paulista até a Praça da República, onde fica a Secretaria da Educação, Paulo Renato não estava e a comissão de sete estudantes se recusou a conversar com seus assessores.

De acordo com a presidente da UNE, Lúcia Stumpf, a comissão de estudantes queria conversar diretamente com o secretário, entregar a ele um manifesto em defesa da educação em São Paulo e ainda reclamar da falta de democracia nas escolas estaduais. De acordo com as entidades estudantis, em algumas escolas está poribida a formação de grêmios estudantis. Quando a comissão saiu do prédio, poucos minutos depois de entrar, ficando claro que Paulo Renato não a havia recebido, os manifestantes fizeram pesados discursos contra o secretário, que foi longamente vaiado.

Os manifestantes começaram a se reunir por volta das 10h no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, e foram acompanhados até a Praça da República por um caminhão de som, de onde lideranças nacionais e e estaduais dos estudantes faziam discursos defendendo suas posições. A UNE, a Ubes e as entidades estudantis paulistas querem o fim do vestibular tradicional e a substituição pelo “Enem seriado”, em que o exame seria adotado no final de cada um dos três anos do ensino médio.

Tanto a presidente da UNE como o presidente da Ubes, Ismael Cardoso, avaliam como “tímida” e “limitada” a proposta feita pelo Ministério da Educação para o Enem. Segundo eles, que defendem o “Enem seriado”, não basta substituir o vestibular tradicional pelo novo Enem.

Acompanhada por forte aparato da Polícia Militar, inclusive com tropa de choque ao lado do prédio da Secretaria da Educação, a manifestação foi tranquila e sem incidentes.

 

Folha de S. Paulo admite: uso da expressão ditabranda foi um erro

“Vim aqui em nome de meus filhos e netos, que precisam saber a verdade. Ditadura é ditadura. Ditabranda é a porra”, leitor da folha Adílson Sérgio.
O diretor de redação do jornal Folha de São Paulo, Otavio Frias Filho, afirmou que o uso da expressão “ditabranda”, no editorial do dia 17 de fevereiro, foi um erro. A Folha de São Paulo havia usado a expressão para caracterizar o regime militar brasileiro, vigente de 1964 a 1985. Mas, após uma manifestação feita no último sábado (7), em frente à sede do jornal, Frias admitiu o erro e afirmou que “todas as ditaduras são igualmente abomináveis”.

A Manifestação, 07 de marçosite da Adital

de André Cintra.

Cerca de 500 pessoas denunciaram os laços íntimos entre a família Frias, proprietária do jornal, e a ditadura militar (1964-1985). Fizeram mais: renderam homenagens às vítimas dos “anos de chumbo” e rechaçaram o termo “ditabranda”, evocado pela Folha para relativizar o regime totalitário. Eram ex-presos políticos e familiares de vítimas da ditadura, lideranças partidárias, ativistas dos mais diversos movimentos da sociedade civil e de organizações não-governamentais.

“Vim aqui em nome de meus filhos e netos, que precisam saber a verdade. Ditadura é ditadura. Ditabranda é a porra”, disparou, indignado Adilson Sérgio.

Antes do ato, a Rua Barão de Limeira já estava tomada por faixas e cartazes que antecipavam o tom do protesto. “Folha, ditabranda nunca existiu. Ditadura nunca mais”, dizia uma das faixas. “De rabo preso com o feitor”, ironizava um cartaz. “‘Ditabranda’? No dos outros é refresco”, enunciava uma mensagem mais audaciosa.

“Com esse ato, queremos estimular a sociedade a sair da afasia, da letargia”, explicou o presidente do MSM, Eduardo Guimarães, antes de ler para o público o manifesto “Pela Justiça e pela Paz no Brasil”. Segundo Eduardo, “depois de 20 anos de ditadura, as pessoas no Brasil têm medo de se manifestar. Mas não podemos ficar quietos”.

fonte: adital.org.br, RádioagêncianciaNP