Diálogo com os afro-descentes, uma tentativa de reparar a história

Casa de Candomblé recebe católicos em Porto Velho - RO
Casa de Candomblé recebe católicos em Porto Velho - RO

O diálogo interreligioso é uma das características das CEBs na América Latina. Como prática desta postura, o 12º Interecesial incluiu em sua programação uma visita dos participantes à casa de candomblé Ile Ase Ogun Dajulekan, na cidade de Porto Velho.

A visita aconteceu na quinta-feira, no dia dedicado à missão. Cheia de cor e axé, o babalorixá Hilton Veiga Monteiro recebeu aproximadamente 150 delegados do Intereclesial dispostos a conhecer o outro, ouvir e aprender com as práticas e espiritualidades locais. Tiveram ainda a oportunidade de aprofundar e adquirir novos conhecimentos, tirar dúvidas e mitos que alimentam o pré-conceito em relação às religiões afro-descentes.

O pai de santo Hilton da casa Ile Ase Ogun Dajulekanque, acolheu os delegados com uma palestra sobre a origem do candomblé e respondeu às perguntas dos visitantes. Afirmou que o candomblé desde sempre defendeu o meio ambiente, por considerar que os orixás estão presentes nos quatro elementos da natureza (água, fogo, terra e ar). Quando questionado sobre a importância do 12° Intereclesial das CEBs, pai Hilton foi claro: “precisamos de união e este é um momento de união, de um só grito pela ecologia, pela natureza”. Hilton está no candomblé há 52 anos e há nove é pai de santo.

Em entrevista revelou que a população brasileira desconhece as religiões e essa falta de conhecimento gera o pré-conceito. Ele se colocou à disposição para esclarecer aspectos da cultura. Maria Aparecida, delegada amazonense da Prelazia de Lábrea estava presente na missão. Para ela “a Igreja está aceitando a realidade do povo, ela deve defender e valorizar o negro e sua cultura”, afirmou. Disse ainda ver a CEBs como a uma porta de acolhida dos irmãos de religião afro-descendente para a Igreja Católica.

Para as visitas missionárias os delegados foram divididos em 11 grupos que se deslocaram para comunidades de povos indígenas, agrícolas, extrativistas, ribeirinhas, comunidades de ocupação, Casas de detenção, hospitais, Casa do Menor, bairros da periferia de Porto Velho, Casa de pessoas com deficiência e Casa de Recuperação de pessoas com dependência química.

A Amazônia acolhe as CEBs do Brasil

DSC00057Porto Velho – RO  está de cara nova, isto porque desde a última sexta-feira, centenas de pessoas de todo o Brasil, chegam à cidade para participar do 12° Intereclesial de CEBs, que acontecerá de 21 a 25 de julho próximo e trabalhará com o tema: Ecologia e Missão, Do Ventre da Terra, o Grito que Vem da Amazônia. Os participantes deste evento, são representantes/delegados de mais de 100 mil comunidades, cerca de 272 dioceses brasileiras. Chegam à cidade aquecendo os aeroportos, rios e estradas, a economia e a vida dos cerca de 1200 voluntários que estão envolvidos na infra-estrutura e logística do evento, bem como a vida das mais de três mil famílias que estão acolhendo gratuitamente todos os participantes, que somam cerca de também três mil pessoas.

DSC00069Dentre eles estão 94 representantes dos povos indígenas, 61 estrangeiros, 53 bispos, 35 convidados, 97 assessores e 32 jornalistas. Antonio da Conceição Lopes, 39 anos é um dos 170 delegados de Manaus – AM. Desembarcou hoje no Aeroporto Internacional de Porto Velho Governador Jorge Teixeira de Oliveira, por volta das 13h e falou sobre sua expectativa quanto ao 12° Intereclesial. “Espero aprender muito aqui, discutir sobre questões ecológicas, repensar a Amazônia e levar um pouco para a minha comunidade e para a minha diocese”. Assim como Antonio, as outras dioceses se organizaram para participar deste grande momento das CEBs no Brasil, são cerca de 60 ônibus que vem dos diversos rincões, aviões e barcos que trazem homens e mulheres que gritam junto com a Amazônia.

Esta é a 12° edição, que de quatro em quatro anos, reúne os representantes das comunidades eclesiais de todo o Brasil, para refletir a postura do cristão diante da duras realidades cotidianas e específicas de cada local e ainda suscita a espiritualidade, a corresponsabilidade de cada um em defesa da vida, da ecologia, por meio de ações práticas. “Possa o 12° Intereclesial de Porto Velho ser um ponto de convergência para o exercício de uma cidadania solidária e corresponsável, em prol de uma nova ordem, uma nova civilização e uma nova Amazônia”, afirmou dom Moacyr Grenchi, arcebispo de Porto Velho.

A cerimônia de abertura acontecerá amanhã, 21/07, na Praça Madeira Mamoré, às 19h. Estarão presentes os três mil delegados, assim como as equipes de voluntários. No total, segundo a secretaria do evento, espera-se cerca de sete mil pessoas na abertura.

Grita Amazônia, grita que este povo escuta

Trem de Ferro Gusa

Porto Velho – RO sediará 12°Intereclesial de CEBs – Comunidades Eclesiais de Base, de 21 a 25 de julho deste ano.

Um encontro que promete reunir aproximadamente 3 mil pessoas, interessadas em discutir, refletir e apontar soluções para questões como o desmatamento da Amazônia, à questão indígena – o descumprimento da Constituição que lhes garante a vivacidade das culturas originais e o acesso à terra. Os danos do agronegócio, da transposição e poluição de rios por todo o Brasil, do consumo desenfreado de bens não essenciais à vida, do desperdício de energia, comida, da geração de lixo e de tantos outros problemas que permeiam a sociedade brasileira e todo o mundo.

Ouvi nesta tarde, que estes problemas são fruto da vaidade humana, portanto, há de se refletir também neste encontro, qual o compromisso do homem/mulher com sua vida, sua civilização. Quem são estes homens e mulheres, como estão constituídas suas famílias, suas histórias…

Os participantes deste grande encontro em Rondônia, chamado 12° Intereclesial de Cebs, são cristãos, católicos que se vêm comprometidos, à exemplo de jesus Cristo, a defender a vida, a dignidade dela.

Da cidade de São Paulo, denominada nas estruturas da Igreja como Arquidiocese de São Paulo, saírão 54 delegados, representantes de suas comunidades e paróquias. Entre eles padres, religiosas e religiosos, leigos e leigas, jovens que estão dispostos a buscar outros caminhos para aquele virão.

Delegados em dia de formação / Itatiba - SP
Delegados em dia de formação / Itatiba - SP

A Região Amazônica está em pauta no mundo, sediou em janeiro, em Belém do Pará, os Fóruns Social Mundial de Teologia e Libertação, o 9° Fórum Social Mundial e agora acolhe o 12° Intereclesial de CEBs.

Estarei em Porto Velho, de 19 a 26 de julho como uma das delegadas de São Paulo, representando a Região Brasilãndia e o Setor Pereira Barreto. Hoje (05/07) nós, os 54 delegados tivemos um encontro especial pela manhã com Dom Angélico Bernadino Sândalo, bispo emérito de Blumenau e às 11h fomos enviados pelo bispo da Arquidiocese dom Odilo Pedro Sherer, que nos pediu para levar também o grito de São Paulo, que sofre por tantos males.

Do ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia – estarei atenta a este grito de perto, acompanhando as discussões, ouvindo, aprendendo….estamparei aqui fotos deste povo bonito, que atravessa kilometros, por terra, mar e ar, numa tentativa corajosa cheia de esperança na busca de um outro mundo possível.

“Nos vemos” por aqui…

ENTREVISTA

José Renato é sacerdote, radialista e assessor das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base no Estado de São Paulo.

Qual a importância deste encontro em Porto Velho e quais as suas expectativas quanto ao 12° Intereclesial…

José Renato – Os intereclesiais são momentos, como diz o grande Pedro Casaldáliga, são momentos macro, momentos de fortaecimento na fé, são momentos de compromisso bem definidos para todos e para que de fato o clamor da Amazônia apareça. A gente sabe que quando, biblicamente, os pobres clamam Deus desce. A história do êxodo, o grito de Jesus na Cruz, são clamores que mostram o protesto definitivo de Deus contra as injustiças e tudo aquilo que vai contra a realização do Seu Reino.

Então enquanto clamor a Igreja que não é de hoje, já trabalha há muito tempo, inclusive com a questão ecológica desde 1979, já fizemos uma Campanha da Fraternidade – CF sobre ecologia, já fizemos a CF trabalhando em nível nacional, da Amazônia, dos índios, a água, que são todos temas que estão aí relacionados. Então a expectativa é que o intercâmbio, a comunhão fraterna, de experiências, de buscas de saída dos problemas de missão e ecologia, a gente volte com mais ânimo, claro, a gente vai ver que as lutas são as mesmas, vamos celebrar vitórias e vamos ver os desafios, mas que na cidade de São Paulo, especialmente na nossa Região Brasilãndia, onde o problema ecológico aparece tanto, que até é uma prioridade pastoral, está aí a Luta para resolver o problema do lixo, a luta por moradia, a reciclagem, são problemas que nos dizem imediatamente. O problema da Amazônia é também problema de São Paulo.

 O que esperar destes 54 delegados da Arquidiocese de São Paulo…

Os nossos representantes nós esperamos que venham animados, mais esclarecidos, com maior ardor profético para testemunhar a missão do reino que passa pela ecologia, e como a gente rezava hoje, pela manifestação dos filhos de Deus, porque a criação foi submetida à vaidade humana. Então eu acho que vai ser muito positivo, com certeza é um momento de esperança, um momento de celebração, de toda a vida de Igreja. De toda a vida de Igreja, que eu participo desde coroinha, eu nunca vi nenhum encontro desta grandiosidade, desta beleza, onde todos realmente, bispos, padres, leigos estão irmanados numa relação de muita fraternidade, muita comunhão. Lá agente faz a experiência de viver a igreja da comunhão, da igreja do serviço, da simplicidade e comprometida com o reino, mais próximo daquilo que os evangelhos pedem.