De Monica Aquino, do R7
Subprefeita da Lapa não imaginava que cargo seria “uma bomba” tão grande
Em uma longa conversa, Soninha não se esquiva de nenhuma pergunta, fala de tudo. De como resolveu ser política, da decepção com o PT, da amizade com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de como não está satisfeita com o resultado do trabalho à frente da Subprefeitura da Lapa, e do que faz para “desestressar”.
Entrada na vida política
A vontade veio de pequena, da época do colégio. Pensava: “eu quero ser política”, mas depois desisti. A gente nem votava em prefeito ainda. Era a época do senador biônico. Depois, quando o Jânio Quadros foi prefeito, eu me interessava muito, fazia boca de urna, já simpatizava totalmente com o PT, já me considerava do partido. Quando decidi [entrar na política], meu marido na época quase morreu. Porque a gente sempre teve uma paixão por mato, por vida rústica. Ele era budista antes de mim, então a gente pensava em mudar para perto de um templo, eu dar aula e ele cuidar da terra. Quando eu falei que queria me candidatar, isso significava ficar muito longe da vida natural, rústica e campestre. Ele temia, era um pesadelo dele se confirmando.
Relação com o PT
Aos 14 anos, falei “gostei do PT, é mais radical do que o PMDB”. Nos dois partidos você tinha gente que vinha do combate à ditadura. Eu achava que o PT era mais radical e isso me agradava. Não foi que eu escolhi o PT, eu era PT. Em 2004, me indispus com o partido desde o começo da candidatura. Porque o partido queria me ajudar, mas de várias maneiras que eu não concordava. […] Aí a Marta perdeu a eleição e veio uma nova rodada de incômodos. O fim do governo dela, a transição, foi muito ruim, caótica. Enquanto isso, o mundo caindo em Brasília [por causa do escândalo do mensalão]. Mas Brasília, para mim, não era tão determinante. Me incomodava muito mais a situação que eu vivia todo dia, toda semana em reunião de bancada. Foram dois anos, desde que me elegi até a hora que eu decidi sair, de conflitos meus com o partido.
Entrada no PPS
Quando desencantei do PT, não queria ir para outro partido. PV e PCdoB falaram comigo. Antes de me procurar, o PPS me defendeu em algumas das minhas brigas na Câmara. Eles me convidaram, eu falei que não queria ir nunca mais para partido nenhum, que não queria ser candidata. Eles falavam, “se você não quer vir para o PPS, não venha, mas seja candidata pelo PT, é importante você continuar vereadora”. Pela primeira vez me disseram “nosso partido também precisa melhorar”. Depois de um tempo, me procuraram de novo, dizendo que o Roberto Freire [líder do partido] estava em São Paulo e queria almoçar comigo. Enfim, a conversa andou. Estamos [PPS, PSDB e DEM, partidos que fazem oposição ao governo Lula] do mesmo lado do meridiano. Mas [nós do PPS] não somos PSDB, não somos DEM. Não iria jamais para nenhum dos dois partidos. Tenho um milhão de críticas ao PSDB, mas não tenho problema de estar ao lado deles em oposição ao Lula.
Aproximação com o Serra
Sendo totalmente PT e petista… Bom, nem todo mundo no PT é assim, mas eu era. Eu odiava o Serra… Fui mestre de cerimônia de um prêmio do Instituto Sérgio Motta e no fim da cerimônia estava no coquetel, cheio de tucanos. Ele passou por mim, sozinho, eu também estava sozinha, e falou “eu leio você”. Até eu entender as três palavras… O que significou para mim? Nossa, aquele cara arrogante, metido, veio falar comigo assim, super numa boa… Mas não reverteu a imagem que eu tinha. Cada vez [nos encontramos] menos. A gente tinha um contato super próximo no tempo da Prefeitura. Da Prefeitura até a Câmara são cinco minutos a pé. A gente conversava no fim de expediente. Agora é difícil, fisicamente também… Não dá para ir tomar um café no Palácio dos Bandeirantes, não tem a menor condição. Mas a gente continua amigo, sim.
Governo Kassab
No fim do ano [de 2008, após a vitória de Kassab] diziam que eu seria secretária da Cultura, mas nunca teve o menor sinal disso. O Kassab me ligou dizendo que queria tomar um café. Fui lá, por volta do dia 23 de dezembro, e ele falou que queria me convidar para ser subprefeita. Ele achava que eu tinha mostrado preparo na campanha, queria que eu fosse da Lapa porque a Luiza Eluf ia sair, voltar para o Ministério Público. Achei bem legal o modo como ele falou, dizendo que eu ia ser capaz, que iria aprender sobre a Prefeitura. Em janeiro respondi dizendo que queria, que seria difícil, mas que gosto de coisas difíceis. Ele falou que eu poderia montar a minha equipe a meu critério. Ele sabia perfeitamente que era o único jeito de trabalhar comigo.
Trabalho na Subprefeitura
Sou muito infeliz. Só não sou mais infeliz do que era na Câmara. Porque a gente tem toda a responsabilidade do mundo, responde por todas as coisas, por tudo o que acontece na sua região, e tem pouquíssimo poder. Você acorda todo dia para tomar porrada, o dia inteiro, abrir o computador, porrada. Na imprensa, no Conseg, no blog, no Twitter, todo dia, o dia inteiro, porrada. Já não estaria feliz de qualquer jeito, e ainda me xingam… É horrível. E, sou eu, fui candidata a prefeita, vereadora, trabalhei na MTV, na ESPN, escrevo na Folha de S. Paulo, sou amiga do Serra, saio pelada na revista. Que era uma bomba, eu imaginava, mas não que ia me deixar tão infeliz. O resultado é absolutamente insatisfatório para mim. Não consigo ficar feliz com o resultado.
Válvula de escape
Jogo Paciência Spider no iPhone. [risos] Faço meditação, mas tenho sido uma péssima meditadora, não consigo. Na meditação, penso mais em problema. Acabou a bateria, preciso ligar na tomada, fazer um retiro. Gordinho vai para um spa. Preciso fazer isso porque só a meditação não tá dando. Faço meditação de manhã e à noite. Em dez minutos, passo oito tentando voltar para a meditação. Também não consigo ir ao centro budista. Mas, de verdade, a última coisa que faço antes de dormir é jogar Paciência Spider e Sodoku. Tiro meus neurônios e eles vão todos ali, para qual número falta no quadradinho…
Edição: Karla Maria