Cardeal Scherer avalia colóquio e fala sobre visita de Russomanno

Em entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO, o cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo avalia o colóquio, realizado dia 20, entre o clero da capital e os candidatos à prefeitura de São Paulo: Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB), José Serra (PSDB) e Soninha Francine (PPS). Celso Russomanno (PRB) não compareceu ao colóquio, mas foi recebeido pelo cardeal, dia 22, na cúria metropolitano. Na entrevista, o arcebispo fala sobre o teor da conversa:

O SÃO PAULO – A forte repercussão do colóquio aponta o importante papel que a Igreja Católica possui na sociedade?
Dom Odilo Pedro Scherer – Avalio que o colóquio com quatro dos cinco candidatos mais bem cotados para as próximas eleições para o cargo de prefeito de São Paulo foi de bom nível, dando a ocasião para que os candidatos apresentassem suas propostas e propósitos de governo aos padres e religiosos da Arquidiocese de São Paulo, que eram o público alvo convidado; e esses puderam apresentar aos candidatos uma série de questões da cidade de São Paulo que são bem conhecidas pelo trabalho da Igreja, como o trabalho social, com pobres, doentes a população excluída, o povo das periferias urbanas; mas também as situações de violência, a segurança, a educação, a saúde, as condições de habitação de grande parte da população… Desta maneira, ficou claro o papel social relevante que a Igreja Católica tem em São Paulo e que não pode ser ignorado ou negligenciado pelo poder público municipal.

O SÃO PAULO – Qual é a avaliação que o senhor faz das propostas apresentadas pelos candidatos? Elas correspondem às demandas da população de São Paulo acompanhada e vivida pela Igreja Católica?
Dom Odilo – Os candidatos estão preocupados em captar o voto e tentam responder da melhor forma às perguntas que lhes são feitas e no tempo disponível para responder. Por isso, nem sempre são plenamente satisfatórias e isso é até compreensível num momento de debate. Mas penso que a cidade de São Paulo precisa de muita atenção e bons projetos para a educação, saúde, transporte, habitação, segurança, saneamento básico… Precisa dar atenção especial à parte da população mais fragilizada e desatendida pelo Poder Público. E precisa de uma política urbanística no seu todo, que assegure qualidade de vida para a população para o presente e o futuro.

O SÃO PAULO – De que modo a ausência do candidato Celso Russomanno, do PRB, prejudicou o colóquio?
Dom Odilo – Ele perdeu uma boa oportunidade para expor suas ideias e apresentar seus propósitos de governo para São Paulo.

O SÃO PAULO – O candidato Russomanno procurou o senhor no sábado passado, dia 22. Qual foi o teor da conversa com ele?
Dom Odilo – Ele quis, junto com o seu candidato a vice-prefeito, dar-se a conhecer melhor. Mas a questão que, de fato, interessava também foi tratada; manifestei-lhe que os motivos de minha manifestação no domingo, dia 16, foram dois: o uso inapropriado da religião para a conquista do poder político e os ataques infamantes feitos à Igreja Católica pelo chefe do partido dele; disse-lhe que era meu dever defender a dignidade da Igreja Católica, colocada em jogo nesse ataque. A minha tomada de posição não diz respeito a partido A ou B, candidato A ou B, religião A ou B; diz respeito a um fato específico, que foi aquela matéria infamante, divulgada em contexto eleitoral e diante da qual eu não podia me omitir. Falar em “desavenças da Igreja Católica com candidatos”, como foi dito mais de uma vez nesses dias, não é correto, pois nos manifestamos sobre questões de princípios e públicas, e não sobre assuntos pessoais contra candidatos.

Entrevista concedida a Daniel Gomes e Karla Maria.

Istoé entrevista Dilma Roussef

O blog Leituras Frave publicou entrevista exclusiva de Dilma Roussef a editores e articulistas de ISTOÉ. Em quatro horas de conversa a candidata à presidência disse que a missão de seu governo é erradicar a pobreza. Anunciou mudanças na condução do Banco Central e a intenção de criar um fundo federal para compensar perdas regionais na reforma tributária que se compromete a implementar. A seguir, os principais trechos da entrevista:

ISTOÉ – Por que a sra. acha que o presidente Lula a escolheu para sucedê-lo e quando exatamente se deu isso?
Dilma Rousseff – O presidente Lula me escolheu quatro vezes. A primeira foi na transição do governo de Fernando Henrique para o governo Lula, em 2002. O presidente me chamou para fazer a coordenação da área de infraestrutura porque me conhecia das reuniões do Instituto de Cidadania. Depois ele me escolheu para ser ministra de Minas e Energia. E, em 2005, para ser ministra da Casa Civil. Por último, me escolheu para ser pré-candidata para levar à frente o projeto de governo. Acho que me escolheu porque acompanhei com ele a construção de todos os grandes projetos. O presidente sabe que nós conseguimos, juntos, fazer estes projetos.

ISTOÉ – Ser presidente era uma ambição pessoal da sra.?
Dilma – É um momento alto da minha vida, talvez o maior. Tem gente que passou uma vida inteira querendo ser presidente da República. Eu era mais modesta. Fui para a atividade pública porque queria servir. Pode parecer uma coisa falsa, mas acho que se pode servir à população brasileira no setor público. Sempre acreditei que o Brasil podia mudar, mas isto era uma questão longínqua. Quando o Lula me chamou para a chefia da Casa Civil, ele pretendia que o governo entrasse na trilha do crescimento e da distribuição de renda para que o Brasil desse um salto, e vi nisso uma grande oportunidade.

ISTOÉ – A sra. se considera preparada para o cargo?
Dilma – Tenho clareza, hoje, de que conheço bem o Brasil e os escaninhos do governo federal. Então, sem falsa modéstia, me acho extremamente capacitada para o exercício desse cargo. E acredito que o fato de não ser uma política tradicional pode incutir um pouco de novidade na gestão da coisa pública. Uma novidade bem-vinda. Na minha opinião, critérios técnicos se combinam com políticos. Escolher onde aplicar é sempre um ato político. Por exemplo, eu acho que a grande missão nossa é erradicar a pobreza e que é possível erradicá-la nos próximos anos. Isto é um ato político. Outra pessoa pode escolher outra coisa.

ISTOÉ – No horizonte de um governo, é possível erradicar a pobreza?
Dilma – Tem um estudo do Ipea mostrando que até 2016 é possível erradicar a pobreza extrema, a miséria. Mas o empresário Jorge Gerdau costuma dizer que “meta que se cumpre é meta errada”. Metas não são feitas para cumprir, mas para estabelecer um objetivo, criar uma força. Assim, acredito que o prazo de 2016 é viável, mantido o padrão do governo Lula. Nossa meta pode ser ainda mais ousada. Só não vou dizer qual porque, se passar dois dias sem cumpri-la, vão dizer: “Não cumpriu a meta”, como fazem com o PAC. Atrasar uma obra de engenharia em seis meses é a catástrofe no Brasil.

ISTOÉ – O presidente Lula também trabalhou com metas quando foi candidato. Ele falava em dez milhões de empregos…
Dilma – Acho que a gente fecha em 14 milhões. Falei com a área econômica de dois bancos e ambos consideram que o crescimento do PIB será de 6,4%, podendo chegar a 7%, o que dá condições para se chegar a estes 14 milhões de empregos. Os dados da produção industrial que fechamos em março apontam um crescimento muito robusto e sustentável porque são os bens de capital que estão puxando esse desempenho.

ISTOÉ – O Banco Central está preocupado com este crescimento…
Dilma – Não, o Banco Central está preocupado com outra coisa. Ele não pode estar preocupado com a expansão dos bens de capital porque isso é virtuoso.

ISTOÉ – Parece que há uma visão dissonante entre o Banco Central e a Fazenda sobre o desempenho da economia. Como a sra. vê essa questão?
Dilma – Os dois trabalham em registros diferentes. O BC faz uma análise necessariamente de curto prazo, porque ele trabalha com questões inflacionárias conjunturais, mais imediatas. Ele olha a pressão na hora que ela acontece. Já a Fazenda tem uma visão de mais médio e longo prazo. É outro registro. A Fazenda tem consciência de que o Brasil está em uma trajetória de estabilidade e de sustentabilidade. Agora, isso não é incompatível com o fato de você ter pressões inflacionárias imediatas. Acho que foi importante o aumento dos juros na última reunião do Copom.

ISTOÉ – Isso não dá munição para os seus adversários?
Dilma – Nós já tivemos duas experiências muito ruins de, durante a eleição, fingir que é uma coisa e, depois, virar outra. Uma na virada do primeiro para o segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso e outra no Plano Cruzado. Hoje somos perfeitamente capazes de elevar a taxa de juros e assumirmos as consequências, sem que isso signifique uma perda. Temos integral compromisso com a estabilidade.

ISTOÉ – A sra. concorda com a política de juros do BC?
Dilma – Concordo. Acho que, da ótica do BC, ele fez o que precisava fazer. Nos Estados Unidos, onde há um histórico maior de estabilidade, o Federal Reserve tem dois olhos: um que olha a inflação e outro o emprego.

ISTOÉ – O nosso só olha a inflação.
Dilma – No meu governo acho que, mais para o final, teremos condições de olhar as duas coisas: inflação e emprego.

ISTOÉ – Teremos um BC diferente?
Dilma – Teremos uma política e uma realidade diferentes. Porque, para o BC fazer isto, é preciso uma redução da dívida líquida em relação ao PIB. O Brasil converge para condições monetárias de estabilidade que permitirão a combinação de outras variáveis. Criamos robustez econômica suficiente para fazer isso.

ISTOÉ – A sra. vai enfrentar um candidato que também se apresenta como um pós-Lula. O que a diferencia dele?
Dilma – Só se acredita em propostas para o futuro de quem cumpriu suas propostas no presente. O que nos distingue é que nós fizemos, nós sabemos o que fazer e como fazer. Mais do que isso, os projetos dos quais eu participei – 24 horas por dia nos últimos cinco anos – são prova cabal de que somos diferentes.

ISTOÉ – A sra. não acha importante o fato de o PT ter assumido o governo com um quadro de estabilidade da moeda?
Dilma – Eu não queria fazer isso, mas, se vocês insistem, vamos lá: recordar é viver. Nós assumimos o governo com fragilidades em todas as áreas. Taxas de inflação acima de dois dígitos, déficit fiscal significativo e, sobretudo, uma fragilidade externa monstruosa. Tínhamos um empréstimo com o FMI de US$ 14 bilhões. A margem de manobra nessa situação é zero. Você se coloca de joelhos junto aos credores internacionais. Quem fala com você é o sub do sub do sub. Isso não foi momentâneo. Foi uma década de estagnação, de desemprego e desigualdade. Nós tivemos, claro, coisas boas. Uma delas é a Lei de Responsabilidade Fiscal.

ISTOÉ – Mas já cogitam mudá-la. A sra. é favorável a isto?
Dilma – Depende. Acho que para mexer em coisas que têm dado certo é recomendável caldo de galinha e muita calma. Mas, voltando ao recordar é viver, o Plano Real também teve mérito. Já em outros pontos fomos salvos pelo gongo. O País deve dar graças a Deus por não terem partido a Petrobras em pedaços, não terem privatizado o setor elétrico, Furnas, Eletronorte, Eletrosul. A privatização da telefonia foi correta, mas não acho hoje muito relevante. Hoje a banda larga é mais importante que a telefonia.

ISTOÉ – A sra. acha que Serra seria a continuidade de FHC?
Dilma – Não tenho nenhum comentário a fazer sobre a pessoa José Serra. Tenho respeito por ele. Mas nós representamos projetos políticos distintos. Nós temos uma forma diferente de olhar o Estado.

ISTOÉ – Ele também se apresenta como um economista da linha desenvolvimentista.
Dilma – Acho muito significativa essa tentativa de borrar diferenças. Duvido que estariam borrando diferenças se o governo do presidente Lula tivesse menos que 76% de aprovação. Duvido. Há, neste processo, a tentativa de esconder o fato de que somos dois projetos. Tenho orgulho de ter sido ministra do presidente Lula. Devemos comparar as experiências de cada um. Eles diziam que não sabíamos governar, que só tivemos sorte. A gente gosta muito de ter sorte. Graças a Deus não somos um governo pé-frio. Mas quando chegou essa crise, muito maior que a de 1929, mostramos enorme competência de gestão, capacidade de reação e ousadia.

ISTOÉ – O governo FHC foi incompetente?
Dilma – O governo FHC representa um processo em que não acredito. Não acredito num projeto de privatização de rodovias que aumenta o custo Brasil por causa dos pedágios, que embute taxas de retorno de 26% ao ano. Em estradas federais, a qualidade melhorou muito com pedágios bem menores por uma razão muito simples: nós não cobramos concessão onerosa. Logística é igual a competitividade na veia.

ISTOÉ – O que a sr. faria diferente do atual governo?
Dilma – Nós tivemos que trocar o pneu do carro com ele andando. Algumas coisas concluímos, em outras não conseguimos avançar. Acho imprescindível, para o patamar de crescimento atingido, fazer a reforma tributária. Não é proposta, é uma exigência. Se quisermos aumentar nossa produtividade e, consequentemente, nossa competitividade, precisamos acabar com coisas absurdas como a tributação em cascata.

ISTOÉ – O governo atual também diz que tentou fazer isto.
Dilma – Não deu agora porque reforma tributária significa conflito federativo. Aprendemos que é inviável fazer reforma tributária sem compensações porque ela tem tempos diferentes. Para neutralizar o efeito negativo da perda de arrecadação, vamos criar um fundo de compensação. Este é o único mecanismo negociável.

ISTOÉ – Os acordos políticos resultarão ainda em loteamento de cargos?
Dilma – Não. O apoio político é totalmente legítimo. Em todos os países há uma composição política que governa. O que você tem que exigir é padrões técnicos. Lutei muito para implantar isso no governo.

ISTOÉ – Está satisfeita com o que foi feito?
Dilma – Acho que podemos melhorar.

ISTOÉ – A sra. será avó, em breve. E provavelmente seu neto nascerá num hospital privado e se educará numa escola particular. Em que momento a sra. acha que o Brasil estará pronto para mudar isso?
Dilma – Quero muito que isso aconteça porque me esforcei muito para estudar numa excepcional escola pública, que era o Colégio Estadual de Minas Gerais. A gente fazia um vestibularzinho para passar ali. Era difícil. Este é o grande desafio do Brasil. Para a educação ser de qualidade, não é só prédio, laboratório, banda larga nas escolas. É, sobretudo, professor bem remunerado e com formação adequada.

ISTOÉ – Seu neto vai ter uma superavó, moderna, talvez presidente da República. Essa avó moderna também namora?
Dilma – Olha, eu não namoro atual­mente, apesar de recomendar para todo mundo. Acho que faz bem para a pele, para a alma, faz todo o bem do mundo.

ISTOÉ – Uma vez eleita, a sra. assumiria um relacionamento? A sra. casaria no meio do mandato?
Dilma – A vida não é assim, tem que se confluírem os astros…Eu não sou uma pessoa carente propriamente dita, tive uma vida afetiva muito boa, muito rica. Mas nos relacionamentos há uma variá­vel que é estratégica, que é com quem eu vou casar. Essa variável estratégica eu tenho que saber, porque assim, no genérico, isso não existe. Agora, vamos supor que a pessoa seja maravilhosa e eu esteja apaixonadíssima…

ISTOÉ – A sra. está fechada para isso?
Dilma – Não, ninguém pode estar na vida. Mas para mim é uma coisa muito distante. E depende dessa variável: que noivo é esse?

ISTOÉ – Qual a sua posição em relação ao aborto? A sra. passou pela experiência de fazer um aborto?
Dilma – Eu duvido que alguma mulher defenda e ache o aborto uma maravilha. O aborto é uma agressão ao corpo. Além de ser uma agressão, dói. Imagino que a pessoa saia de lá baqueada. Eu não tive que fazer aborto. Depois que minha filha nasceu, tive uma gravidez tubária, eu não podia mais ter filho. E antes disso só engravidei uma vez, quando perdi o filho por razões normais. Tive uma hemorragia, logo no início da gravidez, sem maiores efeitos físicos.

ISTOÉ – Isso foi antes de sua filha nascer?
Dilma – Foi antes. Tanto é que eu fiquei com muito medo de perder minha filha, quando fiquei grávida. Mas todas as minhas amigas que vi passarem por experiências de aborto entraram chorando e saíram chorando. Eu acho que, do ponto de vista de um governo, o aborto não é uma questão de foro íntimo, mas de saúde pública. Você não pode hoje segregar mulheres. Deixar para a população de baixa renda os métodos terríveis, como aquelas agulhas de tricô compridas, o uso de chás absurdos, de métodos absolutamente medievais, enquanto as mulheres de renda mais alta recorrem a clínicas privadas para fazer aborto. Há muita falsidade nisto.

ISTOÉ – A sra. defende uma legislação que descriminalize o aborto?
Dilma – Que obrigue a ter tratamento para as pessoas, para não haver risco de vida. Como nos países desenvolvidos do mundo inteiro. Atendimento público para quem estiver em condições de fazer o aborto ou querendo fazer o aborto.

ISTOÉ – A Igreja Católica se opõe a isto.
Dilma – Entendo perfeitamente. Numa democracia, a Igreja tem absoluto direito de externar sua posição.

ISTOÉ – A sra. é católica?
Dilma – Sou. Quer dizer, sou antes de tudo cristã. Num segundo momento sou católica. Tive minha formação no Colégio Sion.

ISTOÉ – A sra. passou por um tratamento para curar um câncer e precisa submeter-se a revisões periódicas. O que deu sua revisão dos seis meses?
Dilma – Agora faço de seis em seis meses. Fiz há pouco, em abril, e deu tudo perfeito.Existe na sociedade e em cada um de nós uma visão ainda muito pesada sobre a questão do câncer. E isso provoca nas pessoas muita dificuldade em tratar a doença Eu tive a sorte de descobrir cedo. Estava fazendo um exame no estômago e resolveram ver como estavam minhas coronárias. Eu fui para fazer um exame de coronária e descobri um linfoma.

ISTOÉ – Como a sra. reagiu?
Dilma – A notícia é impactante. Na hora eu não acreditei, estava me sentindo tão bem. Há uma contradição entre o que você sente e o que te falam. Para combater o câncer você precisa encontrar forças em você mesma. Tem que se voltar para você, não pode, de jeito nenhum, se entregar. Depois, você combate porque conta com apoio. Eu tive uma sorte danada, recebi apoio popular. Chegavam perto de mim e falavam que estavam rezando. A gente se comove muito. E também tive apoio dos amigos, do presidente, de meus colegas no governo.

“Eu quero Neymar e o Ganso na Seleção.
Eles trouxeram alegria de volta para o futebol”

ISTOÉ – A sra. rezava?
Dilma – Ah, você reza, sim. E reza principalmente porque não é o câncer que é ruim, é o tratamento.

ISTOÉ – A sra. tem medo que o câncer volte?
Dilma – Hoje não.

ISTOÉ – Como a sra. encara a vida depois disso?
Dilma – A gente dá mais valor a coisas que costumam passar despercebidas. Você olha para o sol e fica pensando se você vai poder continuar vendo esta coisa bonita. Você fica mais alerta. Só combate isso se tiver força interna. Vou contar uma coisa. Eu não conhecia a Ana Maria Braga e um dia ela me ligou e conversou comigo explicando como tinha vencido o câncer dela, que o dela era mais difícil, diferente, e que superou. Vou ter sempre uma dívida com ela, porque, de forma absolutamente solidária e humana, ela me ligou naquele momento.

ISTOÉ – Mudando de assunto, o Lula é um bom chefe?
Dilma – Sim. O Lula é uma pessoa extremamente afetiva. Ele não te olha como se você fosse um instrumento dele. Te olha como uma pessoa, te leva em consideração, te valoriza, brinca. Ele tem uma imensa qualidade: ele ri, ri de si mesmo.

ISTOÉ – A sra. também será assim como chefe? Porque dizem que a senhora é o contrário disto, durona…
Dilma – Você não pense que o Lula não é duro não, hein. É fácil até para você cobrar, em função disto. Basta dizer: amanhã tem reunião com o Lula. Simples…

ISTOÉ – As reuniões são muito longas?
Dilma – A busca de um consenso é um jeito que criamos no governo. Algumas vezes o presidente chamava isto de toyotismo. Não é a linha de montagem da Ford, onde cada um vai olhando só uma parte. É aquele método de ilha da Toyota, porque você faz tudo em conjunto. Outra coisa é que a gente sempre discute com os setores interessados. Sabe como saiu o Minha Casa, Minha Vida? Porque nós sentamos com eles (empresários da construção civil) e conversamos. Eles criticando o que se fazia, os 13 grandes mais a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil. Se você não fizer isso, se não for absolutamente exaustivo no debate do detalhe, o projeto não fica em pé. Na curva ele cai.

ISTOÉ – Hoje todo mundo comenta, inclusive dentro do partido, que, a partir da entrada do presidente na campanha, suas chances de vitória aumentam. A sra. traz essa expectativa também?
Dilma – Do nosso ponto de vista já é dado que o presidente participa. Nós nunca achamos que ele vai chegar um dia e participar depois. O presidente é a maior liderança do PT, a maior liderança da coligação do governo, uma das maiores lideranças do País, uma das maiores lideranças do mundo…

ISTOÉ – O fato de ter duas mulheres pela primeira vez concorrendo dará um tom diferente à campanha?
Dilma – Acho que as mulheres estão preparadas para pleitear as suas respectivas candidaturas e o Brasil está preparado para as mulheres agora. Penso que é muito importante que haja um olhar feminino sobre o Brasil. As mulheres são sensíveis e isso é uma grande qualidade. As mulheres são sensatas e objetivas até porque lidam na vida privada com condições que exigem isto. Ou você não conseguiria botar filho na escola, providenciar comida, mandar tomar banho, ir trabalhar… As mulheres também são corajosas: a gente segura dor, a gente encara.

ISTOÉ – A sra. é a favor ou contra a reeleição?
Dilma – Sou a favor. Acho muito importante.

ISTOÉ – A sra. cederia a possibilidade de uma reeleição para o presidente Lula, no caso de ele querer se candidatar em 2014?
Dilma – Ele já me disse para não responder a essa pergunta.

ISTOÉ – Até quando a sra. vai obedecer cegamente o que ele manda?
Dilma – Lula não exige obediências cegas.

ISTOÉ – A sra. acompanha futebol como o presidente Lula?
Dilma – Quero o Neymar e o Ganso na Seleção. Tenho muita simpatia pelo Ganso, aquele jeito meio desconcertado de falar. Mas gosto dos dois. Eles trouxeram alegria de volta para o futebol. Jogam de forma desconcertante e atrevida.

Fonte: Luis Favre – Blog Leituras Favre

Desabafo

Depois de muitos dias, sem publicar algo de minha autoria aqui no Ká entre nós, resolvi desabafar, oxigenar cérebro e coração com estas linhas. Desculpe leitor, leitora, mas ai vai.

Desde o dia 26 de março tenho pensado e repensado na crueldade do ser humano, na crueldade barata, destruidora. Tenho pensado na essência do ser humano…olhado pras ruas, pra tv e para o espelho. Estou me referindo sim, ao caso da menina Isabella, tão amplamente divulgado pelos meus colegas.

Em um daqueles dias ao sair da redação, dentro do ônibus, fiquei lado a lado com o camburão do casal responsável pela morte da menina. A sensação foi estranha, eu tive medo.

Mas tive mais medo no final do julgamento, quando vi a população soltando fogos após a condenação do casal. Não me refiro aqui ao resultado; acredito de fato, que a justiça tenha sido feita pelo conselho constituído para tal, mas me pergunto. Para que tanta energia gasta naquela comemoração? Fogos de artifício? Qual foi o gol, a vitória? Fiquei pensando, pensando.

Outras desgraças surgiram e surgem dia-a-dia. São denúncias de pedofilia, violência doméstica, terremotos, o abuso seguido de morte dos seis meninos de Luziania – GO, a constatação de que indígenas e moradores em situação de rua continuam sendo vítimas de agressão, a falta de “vergonha na cara” de nossos senhores deputados, em dar uma banana ao anseio popular em reformular as campanhas eleitorais (Campanha Ficha Limpa) e o leilão da construção da Usina de Belo Monte, marcada para o dia 20 de abril, que ignora a ciência, o povo, o meio ambiente, as novas tecnologias e empurra o PAC guela abaixo da população brasileira.

Tudo parado na garganta, como um vômito que não sai e impede o sorriso. Sem dizer do coração partido e das noites sem dormir. Meu TCC tem sido a válvula de escape de toda essa ….

Por último acontecem as chuvas no Rio, em Salvador, São Paulo e em tantos outros pontos deste país e querem me convencer, querem convencer à nós,  de que a culpa dos desastres, são daqueles pobres que estão em áreas irregulares. Mentira! Assim como no Jardim Pantanal, aqui em São Paulo, a  prefeitura do Rio de Janeiro, desta e de gestões anteriores, foram omissas e mais, coniventes à tamanha desgraça permitindo que famílias inteiras construíssem seus lares à beira do caos, estimulando a permância com obras de infra-estrutura.

Enquanto isso nas páginas dos grandes jornais Dilma e Serra começam os ataques para angariar o meu, o seu, o nosso voto.

Mas…a vida segue e a minha Páscoa aconteceu ontem ao ver, pela minha TV surgir por debaixo da terra um homem. Um sobrevivente do desastre do Morro do Bumba no Rio de Janeiro. Não sei o seu nome. Negro, pobre, a minha Páscoa, a minha esperança de que a vida é mais forte.

Cansada de “porrada”, Soninha diz que está infeliz

De Monica Aquino, do R7

Subprefeita da Lapa não imaginava que cargo seria “uma bomba” tão grande

Soninha Francine, subprefefeita da Lapa, voltou a dividir opiniões quando decidiu posar seminua na revista Playboy deste mês e num calendário de uma ONG que defende a bicicleta como meio de transporte. O R7 procurou a subprefeita para tentar descobrir algumas faces dessa mulher que não tem medo de dizer o que pensa e admite que está infeliz.- Fui candidata à prefeita, vereadora, trabalhei na MTV, na ESPN, escrevo na Folha de S.Paulo, sou amiga do Serra, saio pelada na revista. Que era uma bomba [assumir a Subprefeitura da Lapa], eu imaginava, mas não que ia me deixar tão infeliz. O resultado é absolutamente insatisfatório para mim. Não consigo ficar feliz com o resultado.

Em uma longa conversa, Soninha não se esquiva de nenhuma pergunta, fala de tudo. De como resolveu ser política, da decepção com o PT, da amizade com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de como não está satisfeita com o resultado do trabalho à frente da Subprefeitura da Lapa, e do que faz para “desestressar”.

Entrada na vida política

A vontade veio de pequena, da época do colégio. Pensava: “eu quero ser política”, mas depois desisti. A gente nem votava em prefeito ainda. Era a época do senador biônico. Depois, quando o Jânio Quadros foi prefeito, eu me interessava muito, fazia boca de urna, já simpatizava totalmente com o PT, já me considerava do partido. Quando decidi [entrar na política], meu marido na época quase morreu. Porque a gente sempre teve uma paixão por mato, por vida rústica. Ele era budista antes de mim, então a gente pensava em mudar para perto de um templo, eu dar aula e ele cuidar da terra. Quando eu falei que queria me candidatar, isso significava ficar muito longe da vida natural, rústica e campestre. Ele temia, era um pesadelo dele se confirmando.

Relação com o PT

Aos 14 anos, falei “gostei do PT, é mais radical do que o PMDB”. Nos dois partidos você tinha gente que vinha do combate à ditadura. Eu achava que o PT era mais radical e isso me agradava. Não foi que eu escolhi o PT, eu era PT. Em 2004, me indispus com o partido desde o começo da candidatura. Porque o partido queria me ajudar, mas de várias maneiras que eu não concordava. […] Aí a Marta perdeu a eleição e veio uma nova rodada de incômodos. O fim do governo dela, a transição, foi muito ruim, caótica. Enquanto isso, o mundo caindo em Brasília [por causa do escândalo do mensalão]. Mas Brasília, para mim, não era tão determinante. Me incomodava muito mais a situação que eu vivia todo dia, toda semana em reunião de bancada. Foram dois anos, desde que me elegi até a hora que eu decidi sair, de conflitos meus com o partido.

Entrada no PPS

Quando desencantei do PT, não queria ir para outro partido. PV e PCdoB falaram comigo. Antes de me procurar, o PPS me defendeu em algumas das minhas brigas na Câmara. Eles me convidaram, eu falei que não queria ir nunca mais para partido nenhum, que não queria ser candidata. Eles falavam, “se você não quer vir para o PPS, não venha, mas seja candidata pelo PT, é importante você continuar vereadora”. Pela primeira vez me disseram “nosso partido também precisa melhorar”. Depois de um tempo, me procuraram de novo, dizendo que o Roberto Freire [líder do partido] estava em São Paulo e queria almoçar comigo. Enfim, a conversa andou. Estamos [PPS, PSDB e DEM, partidos que fazem oposição ao governo Lula] do mesmo lado do meridiano. Mas [nós do PPS] não somos PSDB, não somos DEM. Não iria jamais para nenhum dos dois partidos. Tenho um milhão de críticas ao PSDB, mas não tenho problema de estar ao lado deles em oposição ao Lula.

Aproximação com o Serra

Sendo totalmente PT e petista… Bom, nem todo mundo no PT é assim, mas eu era. Eu odiava o Serra… Fui mestre de cerimônia de um prêmio do Instituto Sérgio Motta e no fim da cerimônia estava no coquetel, cheio de tucanos. Ele passou por mim, sozinho, eu também estava sozinha, e falou “eu leio você”. Até eu entender as três palavras… O que significou para mim? Nossa, aquele cara arrogante, metido, veio falar comigo assim, super numa boa… Mas não reverteu a imagem que eu tinha. Cada vez [nos encontramos] menos. A gente tinha um contato super próximo no tempo da Prefeitura. Da Prefeitura até a Câmara são cinco minutos a pé. A gente conversava no fim de expediente. Agora é difícil, fisicamente também… Não dá para ir tomar um café no Palácio dos Bandeirantes, não tem a menor condição. Mas a gente continua amigo, sim.

Governo Kassab

No fim do ano [de 2008, após a vitória de Kassab] diziam que eu seria secretária da Cultura, mas nunca teve o menor sinal disso. O Kassab me ligou dizendo que queria tomar um café. Fui lá, por volta do dia 23 de dezembro, e ele falou que queria me convidar para ser subprefeita. Ele achava que eu tinha mostrado preparo na campanha, queria que eu fosse da Lapa porque a Luiza Eluf ia sair, voltar para o Ministério Público. Achei bem legal o modo como ele falou, dizendo que eu ia ser capaz, que iria aprender sobre a Prefeitura. Em janeiro respondi dizendo que queria, que seria difícil, mas que gosto de coisas difíceis. Ele falou que eu poderia montar a minha equipe a meu critério. Ele sabia perfeitamente que era o único jeito de trabalhar comigo.

Trabalho na Subprefeitura

Sou muito infeliz. Só não sou mais infeliz do que era na Câmara. Porque a gente tem toda a responsabilidade do mundo, responde por todas as coisas, por tudo o que acontece na sua região, e tem pouquíssimo poder. Você acorda todo dia para tomar porrada, o dia inteiro, abrir o computador, porrada. Na imprensa, no Conseg, no blog, no Twitter, todo dia, o dia inteiro, porrada. Já não estaria feliz de qualquer jeito, e ainda me xingam… É horrível. E, sou eu, fui candidata a prefeita, vereadora, trabalhei na MTV, na ESPN, escrevo na Folha de S. Paulo, sou amiga do Serra, saio pelada na revista. Que era uma bomba, eu imaginava, mas não que ia me deixar tão infeliz. O resultado é absolutamente insatisfatório para mim. Não consigo ficar feliz com o resultado.

Válvula de escape

Jogo Paciência Spider no iPhone. [risos] Faço meditação, mas tenho sido uma péssima meditadora, não consigo. Na meditação, penso mais em problema. Acabou a bateria, preciso ligar na tomada, fazer um retiro. Gordinho vai para um spa. Preciso fazer isso porque só a meditação não tá dando. Faço meditação de manhã e à noite. Em dez minutos, passo oito tentando voltar para a meditação. Também não consigo ir ao centro budista. Mas, de verdade, a última coisa que faço antes de dormir é jogar Paciência Spider e Sodoku. Tiro meus neurônios e eles vão todos ali, para qual número falta no quadradinho…

Edição: Karla Maria