Fim de um capítulo bom

Nos últimos 2 anos e alguns meses registrei muitas e muitas histórias. Voltando às reportagens encontro alguns excessos, uma literatura meio rasa, observo em uns a falta de dados, em outros um anseio ingênuo por justiça. Letras que esperavam a maturidade desta Karla, no texto e na alma.

Visitando os inseparáveis bloquinhos de anotações – e só Deus sabe como consigo entendê-los – vejo também muitas vozes, de gente de toda sorte, cor, formação. Gente letrada, gente do povo, gente com teto, sem terra, preso, prostituta, mãe, padre, desembargador, índio, nigeriano, refugiado, gente com esperança, gente sem amanhã….

Em minhas pautas vi  desespero, fogo e morte, mas não nego: presenciei verdadeiros milagres, nascimentos, vida, Vitória! Segurei Vitória no colo e na verdade, ela permanece comigo, embora tenha virado uma estrela. Essa, talvez seja a maior graça de ser jornalista: trabalhar com a vida, que para mim é sim obra de Deus.

Ela, a vida, foi sem dúvida alguma criada para a experimentação. Assim como um texto que  surge, ambos precisam de objetivos, concatenação de ideias e também de certas divagações, de rascunhos e muita, muita borracha. No meu caso há necessidade de inspiração, transpiração e um bom par de óculos – exigência que me acompanha desde os 5 anos.

A minha vida de repórter no O SÃO PAULO foi assim de muita descoberta e muita borracha nos textos, nas perguntas e nas posturas. Aprendi ali, cercada por dois prêmios Vladmir Herzog, respirando a história recente desse país, respirando o Evangelho de Jesus Cristo, que acreditem os colegas ateus, é aula de cidadania, de humanidade.

Por isso, por tanto aprendizado, por tanto questionamento interno e alimentada pelas relações que nasceram ao longo desses anos com fontes e colegas de redação, que encerro esse capítulo feliz. Sou a mesma, talvez com mais perguntas, mas certa sim, de que muitas laudas me esperam para ouvir tantos e tantas outras pessoas, para tantas outras denúncias e boas histórias.

Aos colegas Daniel Gomes, Dudu Cruz, Edcarlos Bispo, Ellen, Elvira Freitas, Fernando Geronazzo, Izilda, Jovenal, Jucelene Rocha, Luciney Martins, Nayá Fernandes e Rafael Alberto o meu muito obrigada pelo convívio, pela troca, pelo carinho. Ao padre Antonio Aparecido Pereira e a Maria das Graças (Cassia) o meu mais profundo agradecimennto pelo voto de confiança, por apostarem em alguém que chegou com muito mais vontade do que prática jornalística.  A você que já me concedeu entrevistas e informações, que me confiou sua história, sua dor e indignação, o meu muito, muito obrigada.

Encerro esse tchau, lembrando que agora e ainda mais, nos veremos por aqui, no Ká entre Nós! É isso, frio na barriga, sonhos na cabeça e no coração, bloquinho na mão, é vida que segue.

Karla Maria

4 comentários em “Fim de um capítulo bom

    1. Sueli Camargo

      Nós, das Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo é que agradecemos a Deus a graça de ter partilhado, vivido… com você todo este crescimento. Boa sorte e toda felicidade do mundo! Você merece.

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