Reconhecer os sentimentos de raiva, culpa, medo, indignação. Estar aberto ao diálogo, dissipar os maus sentimentos, perdoar, quebrar os ciclos de violência, as dores e construir relações saudáveis por uma cultura de paz. Esses foram alguns dos objetivos dos agentes da Pastoral Carcerária (PCr) de Guarulhos, que se reuniram nos dias 10 e 11, no Centro Social da Paróquia Santa Cruz e Nossa Senhora do Carmo, no Taboão.
Alunos da Escola do Perdão e Reconciliação (ESPERE), eles identificaram sentimentos e aprenderam conceitos sobre Justiça Restaurativa, sob a orientação das agentes da PCr Edina Lima, Geralda Avila e do secretário-executivo da PCr de São Paulo, Adolfo Olios, todos com experiência no mundo do cárcere, e formados pelo Centro de Direitos Humanos e Educação Popular (CDHP) de Campo Limpo (SP).
“Nosso objetivo é fazer com que as pessoas pensem em seus sentimentos e ações, percebam que a violência que sofrem em suas relações interpessoais pode ser reflexo daquela que praticam”, disse Geralda, lembrando que o curso visa capacitar homens e mulheres para o exercício do perdão e da reconciliação.
“Só assim conseguiremos recuperar o tecido social esgarçado pela violência”, disse a agente, durante as dinâmicas e momentos de partilha dos participantes. A agente visita e realiza trabalhos sociais em nome da pastoral e em parceria com a sociedade civil dentro de unidades prisionais na capital e em Franco da Rocha (SP).
“É preciso olhar para o ser humano com tudo o que ele é, com sua história, seus traumas. É preciso que cada um de nós olhe para dentro, perceba suas dores, seus sentimentos, alcance um autoconhecimento e conheça seus limites nas relações pessoais”, ensinou Edina.
Para ela, a ressocialização das pessoas encarceradas, deve passar pelo autoconhecimento. Só assim conseguirão entender o dano causado às vítimas e irão assumir a responsabilidade por seus atos, de modo a não o praticarem novamente, com consciência.
O curso utiliza a Metodologia das Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE) desenvolvida pela Fundación para la Reconciliação em Bogotá, Colômbia e tem como conceitos fundamentais a consciência da raiva e do conflito presente nas relações e o exercício para sua superação ou transformação: encarar, sentir, falar e refletir a respeito.
“A justa justiça para restaurar o dano, recuperar o malfeito e restabelecer a convivência entre as pessoas e a responsabilização e restauração são apresentadas como forma alternativa à punição”, revela o material didático do curso. A segunda etapa do curso, para os agentes da Pastoral carcerária de Guarulhos deve acontecer no dia 14 de abril, no mesmo local.
Dom Edmílson Amador Bueno, bispo da Diocese de Guarulhos, participou de parte do curso e deixou seu apoio à Pastoral. “O trabalho de vocês é importante. Quando vocês estão no cárcere levam a Palavra de Deus e o próprio Cristo, levam a esperança e nós sabemos que a realidade do Sistema Prisional brasileiro tira a dignidade de quem lá está e reduz as possibilidades de ressocialização”.
A Pastoral Carcerária de Guarulhos é coordenada por Rosa Pereira Lima, que visita presídios e familiares de presos há 18 anos e assessorada pelo padre Valdocir Aparecido Raphael, com mais de 30 anos dedicados ao mundo do cárcere.