Acabei de escrever minha última reportagem do ano. E que loucura pensar que é a última ainda em outubro. Culpa do João, esse menino que feito rio cresce em meu ventre e toma todos os espaços, frestas, curvas e sonhos.
Escrevi sobre um Natal e um outro menino, que não o Jesus e nem o João, um Qasimi, cuja família afegã encontrou manjedoura aqui no Brasil, mais especificamente no Bonsucesso, bairro bem distante do centro de Guarulhos.
Ao escrever sobre o menino Qasimi que cresce em sua mãe, deparei-me com a realidade dela, e de tantas, que a tentação ocidental me faz ter conclusões precipitadas sobre uma cultura tão distinta.
Deparei-me também com a minha realidade, o meu gestar neste país tão incrível e desigual chamado Brasil, e o meu gestar em meio ao meu trabalho como repórter, escritora, mestranda.
2023 tem sido intenso demais. Tantas reflexões e entregas: projetos, livros, palavras, amores. O João vem coroar tantos passos não apenas deste ano, mas de um encontro amoroso com seu pai, com a minha vida, e eu mesma.
O ponto final nessa reportagem é simbólico, porque abre em mim um novo tempo, espaços, a minha vida para aquele que vem. “Eu já escuto e sinto os teus sinais…”.