O que sente uma mulher aos 50 anos? Solidão, amor ou a falta dele, ondas de calor? Sente gratidão por sua família, netos, profissão, cachorro e marido? Essas respostas não precisam ser excluídas, todavia, o que a mulher aos 50 sente é desejo, pelo menos segundo o curta mexicano “El Deseo”.
Essa vontade de conseguir algo, a ânsia de satisfazer certos apetites, o impulso sexual: é disso que trata o curta, do desejo feminino em redescobrir sua sexualidade, redescobrir a si mesma. Ana, a protagonista, é uma mulher de beleza comum, tem sua casa e suas roupas comportadas. Certa manhã, vê seu marido partir sem retorno.
O curta consegue atravessar a alma dessa mulher, transmitir suas angústias, dores e sofrimentos tão presentes nas almas femininas da sociedade, que por vezes escondem seus sentimentos por submissão, medo, vergonha ou mesmo por posturas arraigadas pelas culturas e religiões.
Durante os 13 minutos de exibição, o curta faz um caminho inverso ao das histórias clássicas de superação e elevação da auto-estima; a diretora e roteirista do filme, Marie Benito, vai na contramão. Ana não procura o marido para se reconciliar, não procura as amigas, o chocolate ou o travesseiro; ainda magoada e abandonada, ela decide quebrar alguns rótulos ao buscar, em seu corpo, o prazer de novamente ser uma mulher, que precisa e deseja ser amada.
Para superar a depressão e a solidão da cama, Ana — em uma cena leve e delicada — busca em si o prazer; suas lágrimas já não são de tristeza, e sim de êxtase. Êxtase pelo orgasmo e mais, por ser dona de si mesma, responsável pelo seu sorriso, pelo seu corpo e por suas linhas de expressão.
Após entregar-se ao seu corpo e seus prazeres, Ana se entrega a um desconhecido; foi em um banheiro público que a protagonista se desprendeu das normas de conduta e boa moral. Resta-nos saber se ela retornará a ligação do marido arrependido ou permanecerá dona de si. (Karla Maria)
“El Deseo” está na Mostra Latino-Americana 1.